Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

segunda-feira, junho 26, 2006

Literatura Portuguesa - 2º Semestre
Resumo dos trabalhos finais e apresentados nas aulas
Apontamentos resumidos de Vera Inácio
(Em caso de erro ou gafe, agradeço que me avisem para o mail referido no 1º post. Bom estudo!)




“A fada Oriana”
Sophia de Mello Breyner Andersen
(1919-2004)
(Trabalho da Angela)

A autora & obra: linguagem poética, influencias estéticas do fim do modernismo e inicio do simbolismo (subjectivismo, individualismo e misticismo, rejeitando a abordagem da realidade e valorização do social feitas pelo realismo e naturalismo).
Palavras e personagens são espelhos de simbolismo nas obras de Sophia. O conto em si é um apelo as sensações visuais, tácteis e auditivas, através das quais se estabelece relação com a realidade criada pelas palavras. Utiliza com frequência temas cheios de significado como o mistério, o sonho, a justiça, cenários alusivos ao mar, à praia, à noite e personagens como fadas deuses e animais …

A Obra:
É um conto, com diegese marcada (inicio/meio/fim). As características correspondem às características típicas e que tanto marcam o estilo de escrita desta autora. Utiliza com frequência cenários como o mar, a praia, a noite, entre outros e personagens já referidos.
O narrador é heterodiegético porque limita-se a descrever o que acontece, com uma posição exterior á história. O conto tem uma estrutura linear e há 1 propósito (descreve a fada e apresenta-a), 1 desenvolvimento e 1a moralidade.
Os grandes espaços do conto são o rio e a floresta, onde o conto se desenrola. O conto possui também um espaço psicológico que é composto pelo conjunto de pensamentos e desabafos interiores das personagens, que ajudam o leitor a situar-se e o narrador não precisa de descreve-los.
O discurso das personagens é directo, as personagens conversam entre si (usam-se travessões).
O tempo é infinito, de unidade temporal (não existe informação temporal).
As personagens do conto são planas. O narrador caracteriza as personagens através da recorrência dos mesmos elementos mas não acumula novos elementos na sua descrição.

Protagonista: Fada Oriana
Antagonista: Peixe (desencadeia a intriga)
Deuteragonista: Rainha das Fadas (aparece na proposta e no final como deuteragosnista principal devolvendo as asas e a varinha à pequena Fada Oriana).

A descrição inicialmente não é muito obvia, é elaborada ao longo do conto, tanto física como psicológica. A descrição do ambiente também é importante, e o narrador usa sempre este tipo de descrição.
A focalização é heterodiegética visto que o narrador aparece alheio à diegese, por outro lado existe uma focalização interna, relacionada com os desejos e motivações profundas das personagens que são alvo de descrição ao longo do conto.

O final: o conto apresenta uma ordem que é destabilizada pelo conflito que traz a desordem que é resolvida na conclusão do conto. O conto é um problema e uma solução.

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Obra de Florbela Espanca
(1894-1930)
(?)

Poetiza de excessos que cultivou exacerbadamente a paixão. Voz marcadamente feminina. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa.
É uma escritora com uma grande intensidade passional na sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico.
A paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas. Florbela não se ligou marcadamente a nenhum movimento literário embora se encontre inserida na época do simbolismo, mas segundo alguns autores está perto do neo-romantismo e de poetas de fim do século, associados ao modernismo a que foi alheia.
A sua poesia sentimentalista segue a linha de António Nobre, por outro lado foi a técnica do soneto que a celebrizou (influencia de Quental e longinquamente de Camões).

O Simbolismo
Nasce em França por Baudelaira em 1857, com “As flores do mal”, chegando a Portugal em 1890 e desaparecendo com o aparecimento da revista Orpheu que inaugurou o modernismo. O simbolismo é composto por manifestações metafísicas, espirituais de uma subjectividade.

Fumo
O poema reflecte o sofrimento causado pelo inalcançável, pois dá a sensação de que por mais que ela tente, o seu objectivo jamais será alcançado, daí o nome “fumo”, como o fumo que se escapa entre os dedos quando o tentamos agarrar.
O poema é atemporal, apesar de referir duas épocas do ano, e o espaço é psicológico (mente da autora).

Simbolos:
Luar – noite, lua que protege os amantes
Rosas – Símbolo do amor

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Esteiros
Soeiro Pereira Gomes
(1909-1949)
(Trabalho do João O.)

O autor desta obra foi um dos fundadores do neo-realismo em Portugal e lutou activamente pela liberdade. Soeiro Gomes era militante comunista.
O neo-realismo baseava-se na dinâmica histórica e cultural da luta de classes, que exigia à arte e ao artista um verdadeiro compromisso social e militância. (tinha uma grande preocupação social para com as desigualdades). O neo-realismo surge como intervenção social, o que se explica também devido ao contexto em que surge, isto é, foi acentuado pelo período pós-guerra, e em Portugal, sobretudo devido ao regime ditatorial que na época vigorava, o Salazarismo.

Personagens:
Gineto – filho de Manuel do bote, é protagonista, o líder do bandoe, preferia roubar ou ir para a prisão, do que trabalhar no barco (não era dos mais pobres)- irreverente, mentor dos assaltos, destemido- no fim da obra torna-se antagonista pois já não é o mentor do grupo, deixara de ser um menino de rua, agora é tratado como um criminoso porque se encontra preso;

Gaitinhas – é deuteragonista, passando alguns momentos da estória como protagonista. É obrigado a deixar a escola e ir trabalhar para poder ajudar a mãe, doente, que já não podia trabalhar. Sente-se desolado e instala-se nele uma grande incompreensão por não poder estudar mais e passar de classe. Em determinado momento da história transforma-se no herói e protagonista da estória, pois é ele quem ascende a líder depois de Gineto ir no barco com o pai. A partir do momento em que pede emprego na fabrica de tijolos, deixa de ser uma criança e passa a ser um operário.

Arturinho – deixa de ser amigo de gaitinhas pois este não tinha dinheiro, pondo-o de parte e marcando Gaitinhas negativamente.

Todos os outros desempenham o papel de comparsas.

Os pormenores de pobreza, mostram as influências neo-realistas do autor.
Não existe uma descrição física das personagens ao longo de todo a estória, isto para chamar a atenção sobre a miséria, o trabalho infantil, a mão de obra infantil e as maleitas de uma sociedade que não respeita a criança. As personagens não são caracterizadas porque é essa mesmo a ideia, generalizar, são crianças e as crianças não devem viver assim.
A única excepção é a Ti Rosa, que é coxa e não existe mais alguma caracterização.

A Obra
Passa-se no espaço de Alhandra, o tempo distribui-se pelas quatro estações do ano (Outono, Inverno, Primavera, Verão). A focalização é externa com algumas passagens de focalização interna (sobre pensamento , sentimentos ou estados de espírito das personagens).
O narrador da obra é heterodiegético, toda a narrativa se realiza na terceira pessoa, sendo por vezes homodiegético, misturando-se por vezes com o autor textual. O autor não consegue ser imparcial, visto estas crianças viverem na miséria e serem exploradas.

A realidade neo-realista descreve da melhor forma possível a realidade de um povo oprimido que vivia na pobreza, e esta obra marca sem duvida essa época e essa triste realidade.
Os neo-realistas defendem que o artista tem um dever para com a sociedade, que é ser uma força activa na denuncia deste tipo de situações, intervindo e alertando o sociedade.
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Jardim sem limites
Lídia Jorge
(1946-)
(Trabalho do Tiago)

“No ‘Jardim sem limites’ aparece um tom mais realista, mais cru, sem preocupações metafóricas na construção das personagens, que aparecem perante o leitor despidas, como vieram ao mundo.”
A autora é uma das grandes percursoras do simbolismo.

O Romance
Escrita no feminino. Influenciado pelo exprimentalismo (experimentação), neo-realismo (preocupações sociais), simbolismo (imagens simbólicas muito fortes, totens, …) e alguma influencia pós-expressionismo. Fala da vida em todos os seus sentidos, conhecendo por limites, os limites orgânicos.
É um romance de personagem pois são elas o motivo da diegese, sem elas não faria sentido pois não existe uma acção que faça desencadear acontecimentos.
Romance polifónico, pois possui muitas vozes; Aberto, sem o inicio ou fim do romance serem delimitados por algum acontecimento, acontece tudo de forma natural.

Espaço
Físicos: Rua Augusta, “praça dos sonhos”, “direcção a caldas”, “escadinhas” de Santa Justa, próximo da Voga, Lisboa (ruas de), “Junto ao portal da sapataria”, Rua da prata, Hotel Francfort…
Psicológicos: quarto privado de Julieta, espaço de reflexão- este espaço mental confunde-se com o espaço físico; espaço mental de Leonardo (monólogos interiores …);

Narrador/a – No espaço psicológico da narradora passamos a conhecer também algumas personagens.
Surge logo no início e deixa transparecer a sua independência na história. Existe uma omnisciência total, mas inicialmente a sua focalização é externa e o autor parece ser um homem, até que fala no feminino e deixa-se transparecer e surgir de uma “ela”. Nunca sai do seu quarto, Remington. Apenas absorve sons, relatos e vivências, construindo um esquema de vida, sem recurso á imaginação.Nunca se chega a conhecer a narradora fisicamente. Psicologicamente apenas se refere o que se passou na Casa da Arara, e o anseio de jusificar que não teve nada a ver com o sucedido.

O quarto da Remington – não é apenas o quarto mais referido de toda a obra, é também dele que partem todos os outros espaços, sendo assim o ponto de origem (espaços que aumentam em círculos).

Tempo
De Fevereiro a Agosto, quando Leonardo (o personagem mais próximo de ser protagonista, pois é em torno dele que ocorrem todas as acções) morre.
O tempo passa devagar de dia e escorrendo a noite.

Leonardo (Static Man)
Protagonista. Não é um personagem linear, o poder da sua descrição física é de todo abalado pelo seu ser psicológico, o que faz deste personagem um assemantema imperfeito.

Julieta Lanuit (alugadora de quartos)
Antagonista. “É a mulher que abre a sua casa ao leitor”. Vive presa na rotina da qual não consegue soltar-se, mas não luta pela sua vida, por uma alternativa a este desespero e monotonia sufocante de sonhos. Ao longo do romance vai-se conformando com a sua vida.

Susana Maria (a rapariga obesa)
Deuteragonista e também o personagem mais complexo do conto. É a personagem que mais espaço vai ganhando no romance, evoluindo paradigmaticamente á medida que vai entrando na casa aurora. Vai-se apaixonando por Leonardo. Feroz não só na sua força física, no carácter e nos sentimentos, vai assim lutando pelos seus objectivos e por Leonardo. Deixa o estatuto de comparsa para ocupar o de protagonista.
Pierrot e Arlequim
José Almada Negreiros

O autor foi entre os seus pares do Orpheu o único modernista a destacar-se como dramaturgo, representando o modernismo no teatro português.
O futurismo foi o modo que Negreiros encontrou para se manifestar contra a cultura oitocentista, retardada que estava enraizada no nosso país. Este é o elevar de um sentimentalismo pela pátria, por um Portugal novo, na Europa, virado para a construção de um novo mundo, ao contrário da realidade actual. Assim o autor ataca violentamente toda uma geração, afirmando que são um “coio de indigentes e de cegos”, “resma de charlatães e vendidos”, “que só pode parir abaixo do zero”, insinuando que essa mesma geração é comodista, não luta pelos seus sonhos, talvez nem chegue a sonhar de tão acomodada á vida que tem.
Para o autor, o teatro desempenha uma função essencial como meio de comunicação e registo da sua doutrina (futurista) visto que neste, todas as artes se consagram numa só. Para o autor o teatro é a única arte que tem de falar para grandes e para pequenos, instruídos e analfabetos, sábios e ignorantes, em que todos são um. Pierrot e Arlequim é uma peça que serve exactamente o propósito de Negreiros, visto que vai de encontro ao projecto modernista explorando a arte dramática como meio multifacetado.
Esta peça foca temas como a Alegria e a Tristeza, o homem e o seu desejo, a Vida e a Morte, o sentido do saber a linguagem …
A linguagem utilizada imprega um estilo simples e claro, ingénuo, inserido na estética modernista, fiel a importância imposta no acto de comunicar.

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Pierrot e Arlequim, a obra
(Trabalho da Blandina)

È uma peça estruturada em dois actos. É composta por comédia e por tragédia.
Tragédia da condição humana demarcada por dois pólos opostos, vida e morte, interpretada por estas duas personagens da comédia Dell’Arte.

Arlequim significa vida, euforia, alegria e movimento, Pierrot, pelo contrário, existe para lembrar a morte como presença constante na vida, a disforia do outro, caracteriza a morte como seu enigma, a sua tristeza, vazio ou finitude como fim ultimo de todas as coisas. Estas duas personagens contrapõem-se num jogo binário entre o bem e o mal, o sensível e o inteligível, o ser vivido e o ser experiente…
Arlequim veste um maillot feito de trinta e sete mil pedaços de trinta e sete mil cores que são as trinta e sete mil histórias de Arlequim, as quais todas juntas não chegam para fazer uma só.

“Pierrot é a inspiração e Arlequim a experiência - os dois não existem separadamente”
Almada Negreiros

No fim ambos morreram sozinhos, solteiros, levaram a vida cada um a sua maneira e sempre na mesma até que o tempo se acabou.(encontram-se nas campas do cemitério)
O tempo é a expressão catalizadora e condicionante desta tragédia, como se a concretização total do desejo do homem só existisse fora do tempo.
Pierrot e Arlequim, termina com a frase:”não há dúvida agra já é tarde” , aludindo a este desencontro do tempo com a humanidade.

A Acção centra-se no diálogo entre as duas personagens, apenas surgindo no segundo actos os amigos de ambos, mais com um caris ilustrativo do que qualquer outra ideia.

Pierrot é um sonhador, mas metido no seu canto nada faz para conquistar a atingir os seus fins, limita-se a sonhar. Acentua assim a tristeza do que nunca irá alcançar. O personagem e o figurino são perfeitos um para o outro, já que numa palavra o que os descreve é o Branco, a cor branca, todo o figurino de pierrot é branco, como a sua cara, e nada naquele personagem nos leva a querer que exista ali uma vida dentro daquele personagem.

Arlequim é exactamente o oposto, e é impossível passar despercebido em qualquer parte que vá. É um personagem que não para e está sempre a magicar algo, e sempre com ideias, no meio de tanta agitação nunca chega a terminar aquilo a que se propõe, mas é conhecido em todo o sitio pela sua alegria.
Pierrot e Arlequim encontram-se na vida e na morte, confrontando-se nos extremos que os opõem, numa guerra sem vencedores.

A ideia geral é fazer corresponder a comédia a arlequim e a tragicomédia a pierrot.

No final de tudo apenas surge uma ideia, a melhor de todas, mas como a morte era uma realidade, e a vida tinha sido só uma e mal aproveitada pelas duas personagens, a ideia não chega a ser revelada e cai o “pano para sempre”.