Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O Paganismo (Relações Internacionais)

PAGANISMO

O Paganismo é etimologicamente uma palavra com raízes no Latim. O correspondente original de “paganus” que tinha como significado literal “homem do campo”; outras variantes do termo são expressões como “camponês” e “aldeão”, pelas ligações destes com a Terra. O termo descreve todos os actuais politeístas (os não crentes no Monoteísmo – Religiões com um único Deus) e advém do antigo Império Romano.
Para alguns estudiosos ser Pagão é um vínculo cultural, antes mesmo de ser uma forma de espiritualidade. Entendamos então que o Paganismo não é uma religião, mas um sistema cultural comum, partilhado por um grupo de religiões, que partilham algumas características comuns.

Quais serão então estas características, que tornam o Paganismo um sistema cultural, que consegue abarcar diversas religiões?

1.) Para um Pagão a Terra, e toda a Natureza no seu conjunto, é tida como um organismo vivo e sagrado. As tradições nórdicas, o panteísmo Clássico e as correntes Asatrú são disso bons exemplos. Existem milhares de divindades pagãs, que têm como símbolo a Terra.

2.) Outro elemento que une os Pagãos, como pertencentes a um sistema cultural comum, é a divinização da Grande Mãe, que une todos os seres humanos. As nativos índios da América e os seguidores das tradições do Antigo Egipto são duas boas provas desse elemento.

3.) Um elemento curioso é a relação do pagão com a Natureza. Ao divinizá-la o pagão respeita-a de forma superior. Nesta lógica de Natureza o sexo e a sexualidade é vista pelos pagãos como algo Natural e Mágico, e não algo de obsceno e de proibido, como o defendeu a Cristandade durante séculos. Este respeito pela Natureza permite ainda um grande desenvolvimento de medicinas tradicionais (China e Índia).

4.) Para um pagão o tempo é um ciclo, tal como definiu Aristóteles, que pode ser compreendido e usado a nosso favor. O Homem torna-se, desta forma, o único responsável por compreender e manter a regularidade dos ciclos, vigiando e prevenindo os fenómenos naturais. Esta noção de respeito pelo Tempo, leva a um culto dos antepassados, que nalguns ramos atinge a vidência e a construção social (xamanismo).

5.) Do ponto de vista religioso a maioria dos pagãos vive, ou gostaria de viver, numa sociedade baseada na partilha e na fraternidade. Existe regra geral um rei, cuja legitimidade é atestada por um Sacerdote ou por uma Sacerdotisa. Algumas culturas fundiram os dois cargos num só.

Religiosamente o Paganismo abarca um conjunto diverso de sistemas religiosos, que, mesmo assim, possuem características similares. É então útil traçar um quadro dessas características.

1.) Por tudo o que já se disse, percebe-se que a principal característica dos pagãos seja a materialização divina, identificada através de elementos Naturais. A água e o sol perdem o seu carácter natural e assumem um profundo valor religioso e espiritual, sendo divinizados e respeitados como Deuses.


2.) Pela sua conexão com a Natureza algumas divindades, das religiões pagãs, surgem antropomórficas (mistura de Humano e Animal). Além do mais, os calendários de algumas religiões pagãs estão ligados aos círculos da fertilidade e aos movimentos de alguns planetas, ou estrelas.

3.) Ao contrário do Cristianismo e do Islamismo, o Paganismo vê no feminino um dos seus ícones mais poderosos. A maioria das correntes pagãs constrói-se ao redor de figuras Femininas, ou de figuras bissexuadas. O Homem surge sempre como o Filho, a extensão da Mulher. Isto não impede que os Deuses masculinos sejam as figuras de proa nas hierarquias religiosas.

4.) Contrariamente aos Monoteísmos, no Paganismo a liberdade religiosa alcança uma escala impressionante, podemos mesmo afirmar que existe uma outra concepção de liberdade de culto. De todo o panteão, o pagão escolhe as divindades que idolatra. Continua a devotar respeito aos outros Deuses, mas aqueles serão “os seus Deuses” (os Cristãos criaram um fenómeno similar com os seus Santos e Padroeiros).

Um ramo do Paganismo
Antigas Tradições Egípcias ou Kemeticismo
[1]

Após a breve explicação sobre os fundamentos do Paganismo e do Politeísmo, passemos a um caso concreto, que ajudará a perceber melhor o Paganismo, do ponto de vista religioso. Sigamos a espiritualidade da Antiga Tradição Egípcia (designada de Kemeticismo pelos movimentos regeneradores neo-pagãos).

Igual ao sistema cultural pagão, também a Antiga Tradição Egípcia, possuiu mais do que um ramo espiritual. Existem 5 ramos da Antiga Tradição Egípcia, todos eles com laços comuns, entre as divindades e todos eles com laços distintivos. Os cinco grupos mais conhecidos são: Enéade de Heliópolis, Ogdóade de Hermópolis e as Tríades de Elefantina, Tebas e Mênfis.

1.) Os adoradores da Enéade – Enéade é a palavra grega para o Egípcio Pesedjet, que significa um grupo de 9 Deuses, ligados entre si por laços familiares, ou por laços de afinidade. A mais famosa das Enéades foi a de “Heliópolis” (tradução grega), que levou a uma identificação deste ramo religioso, com esta cidade. Mas existiram mais Enéades e nem todas com 9 Deuses, já que com o tempo a palavra passou a designar um grupo de Divindades, unidas numa estrutura religiosa hierarquizada. Fica explicada a Enéade de sete Deuses de “Abidos”, ou a de “Tebas” com 15 Deuses.

Passemos a explicar a Enéade de “Heliopólis”. O primeiro dos Deuses, Atum (mais tarde Áton), surgiu de um Deus aquático (Nun), que não conta para a Enéade. Do acto de masturbação divina, Atum (“Senhor do Limite”), Divindade bissexuada, criou duas novas divindades: Chu, Deus do Ar (“O que eleva”) e Tefnut, Deusa da Humidade (“Olho de Rá”). Deste casal, surgiram dois novos Deuses: Geb, Deus da Terra (“Touro de Rá”), e Nut, Deusa do Céu (“A que tem um milhar de almas”).
Deste segundo casal nasceram quatro outros Deuses, que compõem a Enéade: Osíris, Deus da Regeneração (“Aquele que ocupa o trono”), Ísis, Deusa da Magia (“Deusa entre os vivos”), Seth, Deus da infertilidade (“Senhor do Céu Norte”), e Néftis, Deusa das ligaduras (“A governanta”).

2.) Os adoradores da Ogdóade – Ogdóade é a palavra grega para o Egípcio Hemenu, que significa um grupo de 8 Deuses. Conhece-se bem apenas uma Ogdóade, a de Hermópolis, cidade que concorria com Heliópolis. A Ogdóade funciona numa lógica de complementaridade entre o Feminino e o Masculino, já que esta é composta por 4 casais divinos; ou, como afirmam alguns estudiosos, por 4 Deuses e as suas respectivas projecções femininas. Nun e Nunet, Huh e Hauet, Kuk e Kauket, Ámon e Amaunet.

Nun significa a Água da vida, Huh o Espaço Infinito, Kuk as trevas e Ámon o oculto e o ar; as Deusas complementam as mesmas características dos Deuses, pois são as suas projecções. Os Deuses surgem todos representados com cabeças de Rã, distinguidos pelos símbolos que carregam e pelos corpos. As Deuses apresentam cabeças de Serpente, sendo distinguidas da mesma forma.

3.) Os adoradores da Tríade – ao contrário dos outros ramos, as tríades não são um único grupo, mas sim um conjunto de 3 grupos distintos, cujas rivalidades, no passado, causaram guerras, e, no presente, geram algumas polémicas, que impedem o dialogo entre estas três variantes.

Tríade de Elefantina – Elefantina corresponde hoje à cidade egípcia de Aswan e que na altura era conhecida como Yebu. Religiosamente imperava o culto de uma tríade composta por Khnum, Deus dos Oleiros (“O Modelador”), pela sua esposa Satet, Deusa dos Arqueiros (“Aquela do Arco”) e pela filha Anuket, Deusa da Luxúria (“Alimentadora dos Campos”).

Tríade de Tebas – Tebas é a tradução grega, para o Egípcio Niwt, cidade que ainda hoje existe. Em Tebas imperava o culto de uma tríade composta por Ámon, Deus da Luz (“Rei dos Deuses”), pela sua esposa Mut, Deusa da Feitiçaria (“Grande Feiticeira”) e pelo filho Khonsu, Deus da Lua (“O Errante”).

Tríade de Mênfis – Mênfis é a tradução grega, para o Egípcio Ineb Hedj, cidade antiga a cerca de 20km do Cairo, capital Egípcia. Em Mênfis imperava o culto de uma tríade composta por Ptah, Deus dos oleiros (“Deus dos Artesãos”), pela sua esposa Sekhmet, Deusa da Guerra (“A poderosa”) e pelo filho Nefertum, Deus dos perfumes (“Senhor dos Perfumes”).

[1] Vem da origem de Kemet, uma palavra Egípcia para designar “terra negra” e “solo negro”

(Este trabalho deve ser lido, para ser discutido na aula de terça-feira de Relações Internacionais. A todos os que tiverem mais trabalhos enviem-nos, pra serem publicados no nosso blog)

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