Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

segunda-feira, junho 26, 2006

Géneros Jornalísticos - 2º Semestre -
Reportagem & Opinião
(Apontamentos de Tiago Lopes e João Oliveira)


A reportagem toca temas que podem ser intemporais. A actualidade pode ser vinculativo da notícia e menos da reportagem. Os temas de reportagem são diversos, não se precisa de um grande tema. A reportagem não depende de tema, tempo/espaço, mas do tratamento que se dá.
Em reportagem usam-se muito os adjectivos para ilustrar os ambientes (especialmente em rádios). Uso de vários pontos de focagem na reportagem. A reportagem contém informação, que deve estar o mais actualizada possível. “Lança-se” primeiro o discurso e depois a identificação da pessoa, mas a situação inversa também é legítima e acontece. Mesmo em reportagem não se usam títulos mas sim cargos profissionais. Em rádio deve usar-se uma adjectivação forte e um jogo de palavras intenso. Dar sempre voz aos dois lados do tema!

Reportagem – ( características segundo Luís Teixeira Guedes)

Largo campo de acção; observação; imparcialidade; encontrar casos; quotidiano; orientação; impressões; desenvolvimento. - Casos de rua → acontecimentos
- Casos de alma → histórias mais humanizadas

A reportagem é o género mais nobre do jornalismo. Permite uma maior liberdade de narrativa e de estilos, com uma aproximação à literatura. O seu objectivo é informar, tal como nas notícias e entrevistas.
A reportagem é apresentada como uma história, que pode assentar no local (observação directa dos factos); dá ao jornalista a hipótese de usar o estilo directo. É o único género jornalístico que permite o uso da 1ª pessoa (em casos particulares). A descrição é a mais-valia da reportagem. Dar ao leitor os elementos para poder sentir o mesmo que o repórter. A reportagem pode acontecer em: 1º presença no local (repórter está no terreno); 2º Observa as consequências de um acontecimento a que é externo.
A reportagem vai mais longe do que a notícia. A reportagem permite uma análise das personagens e das situações. Deve dar ao leitor todas as visões contraditórias de uma mesma situação. Deve confrontar opiniões, dando uma multiplicidade de dados, pontos de vista e informação. A reportagem não contempla a opinião. O uso de adjectivos deve ser criterioso, para ajudar as pessoas a ver o mesmo que o repórter e não para “conduzir” as pessoas a pensar o mesmo que o repórter.
A reportagem diferencia-se sempre e diferencia os diferentes órgãos de Comunicação Social. A reportagem deve completar os acontecimentos, contextualizando o acontecimento e dando dados do passado.

Funções da reportagem
- Informar; - Tornar mais acessível um dado problema/assunto social;
- Aproximar as pessoas da informação.

O repórter deve viver o acontecimento, sempre que possível e previsível? A reportagem não depende da actualidade, sendo esta menos determinante. A reportagem não tem de ser sempre actualidade. A reportagem pode ser factos recentes, assuntos polémicos e perfis de pessoas e personalidades. A grande reportagem não é uma questão de distância, nem de lugar.

Grande reportagem não é:
- Questão de distância, nem de lugar;
- Questão de tema;
- Questão de dimensão;
- Questão de técnica;
- Questão de profissionalismo.

Reportagens:
Quente → acontecimento imprevisto, ou acontecimento previsto que causa espanto ao repórter;
Morna → acontecimento em diferido, ou acontecimento que já passou;
Frio → acontecimento previsto;
Factos → relato objectivo de acontecimentos, que obedece à pirâmide invertida (parecido com a notícia);
Acção → desenrolar dos acontecimentos, num relato movimentado;
Documental → relato expositivo, que se aproxima da investigação e que leva às denuncias;
Especializada → exige muita informação;
Geral → domínio da técnica de reportagem e capacidade de recolher informações em pouco tempo.

Na rádio a reportagem é ilustrada pelo som, que funciona como factor de aproximação. O repórter funciona como o “lançador” e “ligador” entre os sons. A escolha de sons é importante. Uma frase, uma ideia.

Em televisão deve existir uma harmonização do texto com a imagem. Coerência sem se cair na repetição. Deve existir linearidade do discurso. Cuidado com os adjectivos. Dar uma percepção do local, através das imagens, a quem nunca viu o local.

Na imprensa deve existir uma maior criatividade por parte do repórter. Não possui sons e apenas conta com algumas imagens estáticas para dar ao leitor as suas imagens.

Título da reportagem
- Apelativo;
- Misterioso/Directo.

A técnica da pirâmide invertida não funciona em reportagem. Pode começar-se a reportagem por detalhes, que agarrem o leitor. O começo deve ser sedutor e apelativo, com um desenvolvimento interessante.
O estilo da reportagem é livre, criativo, simples, vivo, rico, apelativo. Conseguir contrabalançar todas estas características. Exige preparação prévia, pela sua complexidade. Deve preparar-se um dossier, definir com quem se fala, o que se pergunta, onde se vai e o ângulo de abordagem.
É preciso ter em consideração o órgão de comunicação social, o seu público-alvo, os meios onde se insere a reportagem. Olhar para além da agenda, procurando histórias em acontecimentos que seriam notícias. Ir além dos “press-releases” e comunicados. Procurar nas publicações académicas, especialmente nas áreas de Ciência e Tecnologia. Estar atento aos outros órgãos de comunicação social. Estar atento à Imprensa Regional (no caso de um órgão nacional). Ter uma boa agenda. Recorrer a todas as fontes oficiais. Através da observação directa encontram-se boas reportagens. Uso dos contactos profissionais. Contactos com a comunidade.

Furo jornalístico → cacha

Existem pessoas que querem contar histórias e que telefonam para as redacções, ou enviam e-mails. Fazer a ronda (telefonar para bombeiros, polícias, hospitais).

A reportagem (especialmente em registo escrito) é muito mais humanizada. O nome e o apelido usa-se sempre no registo de reportagem. Parte do particular para o geral. Em imprensa, não se usa os artigos definidos. Usa-se sempre informação de background, para se fazer a contextualização.
É feita uma contextualização histórica do local . Uso de descrições de ambiente. Uso de uma linguagem simples e muito acessível. A 1ª pessoa deve ser intensa e o discurso directo realiza isso bem. Pode existir uma modelação dos tempos verbais. O uso do Presente e do Passado podem ser aplicados em simultâneo. Descrição de pessoas é importante.

Artigos de opinião
Fazer valer a ideia, pela argumentação. A argumentação é uma acção humana que tem por objectivo convencer. Também se fala de sedução e demonstração. Argumentar é convencer, segundo regras.

É fundamental o contexto de recepção. Os leitores já estão formatados a um tipo de estereótipos. Em opinião, pode apenas fazer-se uma peça, tendo ouvido só um dos lados.

Não é possível argumentar:
- Conhecimento científico;
- Fé religiosa;
- Sentimentos.

Saber argumentar não é um luxo, mas uma necessidade. Mas nem todos conseguem argumentar, ou pelo menos têm acesso aos espaços de argumentar. Podemos argumentar de várias formas diferentes, sobre um mesmo assunto (Phillipe Breton).

Distingue-se opinião de informação. Estes géneros por vezes misturam-se, de forma errada. É um ponto de vista, que pressupõe outros pontos de vista. A opinião é subjectiva, que pressupõe outros ou outros pontos de vista. Valorizam-se os factos que validam a nossa opinião.

Opinião não é notícia. Embora normalmente passe por assuntos da actualidade, isso não é obrigatório. Os artigos de opinião podem chamar a atenção para alguns aspectos da actualidade despercebidos. A opinião tem o interesse de despoletar efeitos. Uma opinião deve ser sempre devidamente fundamentada. A opinião permite diversos estilos e diversas temáticas.

Os artigos de opinião assentam em 2 lógicas:
1º estatuto de contra-poder;
2º papel de formador dos Media.

Valor dos artigos de opinião (Bordieu)
- Representam um ritual de conhecimento (produção, reprodução e distribuição);
- Os autores dos artigos de opinião têm um capital de conhecimento reconhecido.

Os objectivos dos artigos de opinião (Daniel Ricardo)
- Explicar os acontecimentos e os processos gerados em sociedade;
- Desmontam as situações;
- Difundem opinião:
- Formar opinião pública;
- Promover o debate de ideias (Livro “Vox Populi”)
- Agregação de opiniões pessoais;
- Reflexo das crenças da maioria;
- Resultado do confronto de grupos de interesse;
- Opinião dos órgãos de comunicação de elite (mais importante);
- Construção retórica dos Media.

Projecção de opiniões de jornalistas, políticos e outros líderes sociais. As massas populares não teriam formação nem cultura suficientes para possuírem a sua própria opinião, limitando-se por isso a servir de caixa de ressonância à opinião publicada nos Media, ou difundida pelas elites.
Opinião deve ter um espaço demarcado da opinião. Se na imprensa escrita, os artigos têm de ser graficamente demarcados, na rádio devem existir espaços destacados para tal. Na televisão também devem existir espaços destacados.
Há quem escreva artigos de opinião por razões pessoais, não se podendo misturar este estilo com a informação. Os textos devem ser breves, ter uma interpretação clara e incisiva dos factos e deve ter a defesa de uma ideia.

A polémica é bem vinda em termos de artigo de opinião. Mas nunca insultos nem a linguagem panfletária. Pessoas com formação superior.

Editorial
- Sai em todas as edições do jornal;
- Sobre actualidade;
- Publicado em espaço próprio;
- Pode não ser assinado;
- Feito pela direcção editorial;
- Pode, ou não, vincular toda a redacção (comum nos E.U.A);
- Não pode ser neutro.

Caso Espanhol
- Textos anónimos
Segundo Armamanzas y Noci:
- Texto anónimo;
- Vincula a redacção;
- Baixa influência social, devido a ser a intervenção directa dos directores dos jornais;
- Expoente máximo do anti-jornalismo (preconceitos, influências, objectivos, publicidades);
- A maior parte são sobre política.

Caso Americano
Afastamento do público, por causa das vinculações a toda a redacção.

Caso Francês
Martin-Lagardette
- Editoriais tomam partido, e compromete a responsabilidade moral do jornal;
- Defendido pela equipa;
- Papel nobre;
- Pode ser apelo, denúncia, grito de revolta;
- Escrito em estilo vigoroso e incisivo. Próximo da língua falada;
- Pode usar o humor e deve ter artigos e títulos fortes.

Quatro elementos de Editorial:
1º Título
2º Introdução
3º Desenvolvimento
4º Conclusão

Comentário
- Esporádico;
- Acompanha uma notícia;
- O jornalista “simples” tem espaços de opinião no comentário;
- Costuma ser feito pelo editor de secção.

Análise
- Artigo de opinião menos típico. Não emite opinião clara. Pretende-se analisar um acontecimento (mais fundamentação do que opinião).
- Esporádico;
- Acompanha uma notícia;
- Explicação dos factos essenciais;
- Dissecação de factos com elementos opinativos.

Coluna de Opinião
- Escrita (normalmente) por colaboradores internos e externos;
- Periodicidade das colunas (fidelização dos leitores);
- Temática livre (não sendo necessário ser um tema actual);
- Surge em qualquer secção do jornal.

Caso Inglês
Richard Keeble
“Personal Columns”
- Colunas de opinião com uso da 1ª pessoa;
- Diferentes tipos de abordagem;
- Controversos, sem sentido, irritantes, baixo nível;
- Causam relações de “amor-ódio”;
- Surgem cada vez mais em Portugal.

Crítica
- Origem num acontecimento cultural;
- Objectivo: influenciar o leitor/ouvinte/tele-espectador;
- Legitimidade dos críticos?
- Exigência de conhecimentos técnicos.

Crónicas
- Podem ser regulares ou espontâneas;
- Podem ser escritas por alguém do jornal, ou alguém convidado;
- Pode recorrer-se à ficção;
- Tem como objectivo passar uma mensagem;
- Uso da imaginação e das potencialidades estéticas;
- Mensagem implícita, sem pretensões de influenciar as massas;
- Textos de leitura fácil, acessível, ritmado, interessante.

Correcção das reportagens
Todos os parágrafos têm que ter sujeitos.
As pessoas têm que se identificar, a não ser que seja um tema sensível.
Não há cargos na peças escritas (doutores, engenheiros).
Senso comum não faz parte de qualquer prática jornalística.
Afirmações (atribuir a quem as faz).
Não fazer frases muito longas.
Concretizar os argumentos com objectividade.
Evitar repetições, e aplicar bem os verbos no discurso directo.