Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

sexta-feira, março 16, 2007

Fotojornalismo - Suportes Digitais versus Suportes Artesanais

Mais alguns apontamentos de Fotojornalismo, que o Dr. José Soudo disponibilizou. Convem estudar atempadamente, para melhor perceber as aulas de Fotojornalismo. Tenham um bom fim-de-semana.
O Representante de turma,
Tiago Lopes
Suportes digitais versus suportes artesanais

O futuro já chegou.
O futuro já nos entrou pela casa dentro.
O futuro já nos chegou e entrou pelas câmaras fotográficas.
Os suportes com sais de prata estão a ser substituídos pelos suportes digitais, e já começaram a ser rotina no nosso quotidiano.
O futuro de há 15 anos já é presente agora.
Já não podemos fazer como a avestruz e ignorar que estamos mesmo em período de adaptação e reconversão às novas tecnologias aplicadas ao século XXI.

Os sistemas de suporte digital para fotografia ainda hão de fazer correr muita tinta de tinta, ou de cartucho de impressora, assim como hão-de provocar muita opinião contraditória e por vezes demagógica, até se concluir da sua qualidade efectiva.
Estamos, estaremos, à procura dos melhores caminhos e da melhor qualidade, assim como das melhores e mais adequadas respostas destes novos processos, o que é natural e próprio do Homem.
No entanto, com toda a modéstia vos digo que só poderemos entender o futuro da fotografia em suporte digital, se fizermos alguma reflexão sobre a evolução dos suportes fotográficos que os avós utilizaram no século XIX ou provavelmente em períodos anteriores.

Tudo isto volta a relacionar-se com a hipótese especulada de Leornado da Vinci ter utilizado uma emulsão “fotográfica” feita artesanalmente e de que os dei conta no texto anterior.
Apliquei-a e resultou.
No entanto, quero manter a reflexão num passado credível e reconhecido como tal, ou seja nos primeiros anos de actividade fotográfica no século XIX.
Dos múltiplos processos artesanaís elaborados pelos avós poderíamos destacar alguns dos mais conhecidos como a heliografia, a daguerreotipia, a calotipia, inicialmente ligados ao mistério e fascínio de nomes e de pessoas como Niépce, Daguerre ou Fox Talbot.

A propósito deste ultimo, que está mais próximo de nós, pela aplicação de um tipo de registo que originava matrizes em negativo, posteriormente invertidas para positivo por contacto directo,vem-me à memória não ele, mas alguém, que com ele trabalhou nas primeiras investigações dos processos químicos da fotografia:
John Herschel (1792/1871)
Sir John Herschel que nos deixou entre tantas coisas e processos, um conhecimento tão útil como o de estabilizarmos as imagens produzidas em prata, através do hipossulfito de sódio, vulgarmente conhecido por fixador, que ainda hoje utilizamos na química fotográfica.
Sir John Herschel que logo nestes primeiros anos da fotografia, e estamos a falar dos anos 1840’s, nos deixou também um processo alternativo à prata, produzido com materiais ferrosos, conhecido por Cianotipia e de resultados fascinantes.
Vamos experimentá-lo.
Com os cuidados devidos à utilização de produtos que são tóxicos.
Preparemos em separado:
A - 50 gramas de Ferricianeto de Potássio diluídos em 250 ml de água.
B - 90 gramas de Citrato Férrico de Amónio diluídos em 250 ml de água.
Na hora de iniciarmos o processo, juntam-se em partes iguais, A e B (p. ex. 50 ml de A com 50 ml de B).
Não podemos esquecer que estamos a preparar uma emulsão sensível à luz, por isso teremos que trabalhar em local obscuro.
Com um pincel espatulado espalhemos a emulsão sobre um bom papel de aguarela.
Quando o resultado estiver seco, coloca-se uma matriz em negativo sobre o papel sensibilizado, comprime-se bem com um vidro e leva-se à luz solar durante cerca de 30 a 45 minutos.
Se tudo correu bem, depois de se retirar a matriz, lava-se com água corrente e iremos com certeza deslumbrarmo-nos em tons de azul ou de ciano.
Continuemos então, com a reflexão sobre o que ainda não sabemos responder, em relação às possíveis evoluções dos sistemas digitais em fotografia. Vale a pena pensarmos na evolução dos múltiplos processos fotográficos, que surgiram e desapareceram durante as primeiras décadas do século XIX.
Todos foram óptimos nos resultados e qualidades.
Todos foram mais ou menos difíceis ou mais ou menos fáceis de execução.
Tudo depende do ponto de vista.

Na prática, todos foram recuperados e utilizados por artista e fotógrafos contemporâneos, em virtude das suas potencialidades plásticas e estéticas.
Vejamos dois ou três casos paradigmáticos.
Fotógrafos e designers, como Alexandre Rodchenko (1891-1956) ou El Lissitzky(1890 - 1941), construtivistas da Escola Soviética, artistas com A de Artista muito grande, usaram e aplicaram o processo da cianotipia, do qual vos dei a formula mais elementar de utilização, no texto anterior.

O surrealista Man Ray (1890 - 1976), também usou e abusou, entre tantos outros.
A procissão no entanto ainda agora vai no adro, pois também nós nos podemos deslumbrar noutros tons, a partir da cianotipia.
Nada mais simples do que após a lavagem adicionarmos um pouco de água oxigenada, da mesma que se utiliza para falsificar loiras.
Se acharem que em azul forte não agrada, ainda se pode continuar o processo.
Branqueemos o resultado em carbonato de sódio (10 gr para 1 l de água). Após o desaparecimento quase total da imagem há que transferi-la para uma solução de ácido tânico (90 gr para 1 l de água).
No resultado final, a cianotipia vai aparecer-nos em tons de preto e branco purpúreo.

Como observação, convém não esquecermos as lavagens entre químicos e no final.
E os outros suportes fotossensíveis, e respectivos processos químicos e os seus autores?
Como curiosidade aqui seguem alguns dos processos fotográficos artesanais dos primeiros anos de século XIX e não só, respectivos inventores e datas mais comuns de utilização :
Heliografia – Joseph Nicéphore Niépce – Francês (1816 - 1840)
Calotipia – William Henri Fox Talbot – Inglês (1840 - 1860)
Papel Salgado – William Henri Fox Talbot – Inglês (1841 - 1855)
Daguerreotipia – Jacques Mandés Daguerre – Francês (1835 - 1860)
Positivo Directo – Hippollyte Bayard – Francês (1839 - 1848)
Colódio Húmido – Frederick Scott Archer – Inglês (1851 - 1880)
Ambrotipia – Frederick Scott Archer - Inglês (1853 - 1870)
Ferrotipia – Adolph Alexandre Martin – Francês (1856 - 1887)
Goma Bicromatada – John Pouncy – Inglês (1858 – 1940)
Albumina – Desiré Blanquart Evrard – Francês (1850 - 1895 - 1920)
Impressão a Carvão – Louis Alphonse Poitevin – Francês (1860 - 1940)
Platinotipia – William Willis – Inglês (1873 - 1930)
Aristotipia com colódio–G. Wharton Simpson–Inglês (1885 - 1930)
Aristotipia com citrato e gelatina – Abney e Liesegang (1885 - 1940)
Halogenetos de prata em emulsão gelatinosa – Richard Leach Maddox – Inglês (1871 - até agora)
Autocromia – Auguste e Louis Lumiére – Franceses (1895 - 1915) etc. etc. etc.
E com estes etc.’s todos vos deixo, não sem antes lembrar, que não esgotámos, nem de longe nem de perto, todos os processos fotográficos utilizados no século XIX, provavelmente à semelhança do que irá acontecer com os sistemas digitais no século XXI.
José Soudo