A Igreja (Historia das Instituições)
Aqui esta o Trabalho de Historia das Instituições sobre a Igreja. Agardeço ao grupo a celeridade com que me fizeram chegar o formato digital. Obrigado. Bom estudo para todos A Igreja[1], segundo a Bíblia é constituída por todos aqueles que crêem que Jesus, o Cristo (Ungido) é o Filho de Deus. O termo também é usado para designar conjuntos de cristãos ou denominações específicas. O termo "Igreja" designa o povo que Deus convoca e reúne de todos os recantos da terra, para constituir a assembleia dos que pela fé e pelo Baptismo, se tornam filhos de Deus, membros de Cristo e templo do Espírito Santo. Na Sagrada Escritura, encontramos muitas imagens que mostram aspectos complementares do mistério da Igreja. O Antigo Testamento privilegia imagens ligadas ao povo de Deus; o Novo Testamento, as ligadas a Cristo como Cabeça desse povo, que é o seu Corpo, e tiradas da vida pastoral (rebanho, ovelhas), agrícola (campo, oliveira, vinha), de moradia (morada, pedra, templo), familiar (esposa, mãe, família). A Igreja encontra origem e consumação no desígnio eterno de Deus. Foi preparado na Antiga Aliança com a eleição de Israel, sinal da reunião futura de todas as nações. Fundada pelas palavras e pelas acções de Jesus Cristo, foi realizada, sobretudo mediante a sua morte redentora e a sua ressurreição. Foi depois manifestada como mistério de salvação mediante a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Terá sua consumação no final dos tempos como assembleia celeste de todos os redimidos. O Patriarcado de Antioquia foi e é um dos grandes centros do Cristianismo, desde os tempos do Novo Testamento. A origem da Comunidade Cristã data do tempo, mesmo, dos Apóstolos e sua importância, como centro desta comunidade sempre foi reconhecida. O mundo civilizado, do Império Romano era dividido em grandes centros urbanos, e assim, a Igreja dentro de sua estrutura política assumiu um papel preponderante. De início Antioquia foi a primeira cidade-Rainha, capital do Império Romano do Oriente, estendendo sua Jurisdição eclesiástica e sua influência a todo o Médio e mais longínquo Oriente. Por razões administrativas a Igreja foi organizada por distritos eclesiásticos: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, embora, cronologicamente o inverso seja a ordem de fundação das Igrejas. Cada um destes cinco antigos Patriarcados foi centralizado numa cidade particular (a pentarquia) porém, a Igreja controlava exaustivamente cada uma destas dioceses. A Igreja é santa, porquanto Deus Santíssimo é o seu autor; Cristo entregou-se por ela, para santificá-la e tomá-la santificante; o Espírito Santo a vivifica com a caridade. Nela se encontra a plenitude dos meios de salvação. A santidade é a vocação de cada um de seus membros e o fim de toda a sua actividade. A Igreja conta em seu seio com a Virgem Maria e inumeráveis Santos como, modelos e intercessores. A santidade da Igreja é a fonte da santificação dos seus filhos, os quais, aqui na terra, se reconhecem todos pecadores, sempre necessitados de conversão e de purificação. A Igreja é Católica, ou seja, universal, porque nela está presente Cristo: "Onde está Cristo Jesus, está a Igreja católica" (Santo Inácio de Antioquia). Ela anuncia a totalidade e a integridade da fé; contém e administra a plenitude dos meios de salvação; é enviada em missão a todos os povos, em qualquer tempo e a qualquer que seja a cultura a que pertençam. A Igreja é apostólica por sua origem, estando edificada sobre o "alicerce dos Apóstolos" por seu ensinamento, que é o mesmo dos Apóstolos; por sua estrutura, porquanto ensinada, santificada e dirigida, até a volta de Cristo, pelos Apóstolos, graças a seus sucessores, os bispos em comunhão com o sucessor de Pedra. A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa existe, há quase dois mil anos, e é mais conhecida hoje por Igreja Ortodoxa e seus fiéis chamados de cristãos ortodoxos. A Ortodoxia é formada por diversas igrejas cristãs orientais que professam a mesma fé e, com algumas variantes culturais, praticam basicamente os mesmos ritos. O chefe espiritual das Igrejas Ortodoxas é o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, embora este seja um título mais honorífico, uma vez que os patriarcas de cada uma dessas igrejas são independentes. Para os ortodoxos, o chefe único da Igreja, e sem comparsas ou legatários, é o próprio Jesus Cristo. A autoridade suprema na Igreja Católica Apostólica Ortodoxa é o Santo Sínodo Ecuménico, que se compõe de todos os patriarcas chefes das igrejas autocéfalas e os arcebispos-primazes das igrejas autónomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla. O termo evangélico[2], além de significar aquilo que é concernente ao evangelho, no Brasil ganhou predominantemente a acepção de protestante, numa referência aos cristãos que adoptam a herança da Reforma Protestante. A doutrina do cristianismo[3] baseia-se na crença de que todo o ser humano é eterno, a exemplo de Cristo, que ressuscitou após sua morte. Afirmou-se como uma religião de origem divina. O seu fundador era o próprio filho de Deus, enviado como salvador e construtor da história junto com o homem. Ser cristão, portanto, seria engajar-se na obra redentora de Cristo, tendo como base a fé em seus ensinamentos.Rapidamente, a doutrina cristã se espalhou pela região do Mediterrâneo e chegou ao coração do império romano. Entre os anos 45 e 70, o mundo cristão conheceu, graças à acção dos apóstolos e seus discípulos, uma fase de expansão considerável na bacia mediterrânea. Este movimento continuou e em menos de dois séculos, se pode falar num número incalculável de conversos romanos, dirigidos por 46 padres, 7 diáconos e uma centena de clérigos. No Oriente, por volta do sec.II, a nova religião estava implantada. Só no sec.III Jerusalém se impôs como pátria do Cristianismo. Esta implantara-se no sul da Gália, a partir do porto de Marselha, principalmente Lião e o vale de Ródano. O Norte de Africa apresentava uma forte presença de crentes, evangelizada a partir de Roma. A intervenção de Deus e poderes sobrenaturais serviram de factor para a difusão rápida e importante do Cristianismo. Contudo, faltava ao cristianismo um reconhecimento oficial. Este foi-lhe concedido, pelo imperador Constantino. Este assegurou o reconhecimento legal do cristianismo, que podia então mostrar-se em pé de igualdade com o paganismo. Permitiu que as igrejas recebessem doações, legados, o que acabava por lhes garantir prosperidade. Reconheceu as jurisdições episcopais, decidindo que as sentenças destes tribunais, mesmo em matéria civil, seriam válidas para o Estado. Em 320, definiu-se o domingo como feriado obrigatório. Por 400, o cristianismo era reconhecido em todo o mundo romanizado, como religião de Estado. A vida religiosa desenvolveu-se, todavia as cismas e heresias dividiam o mundo cristão. Após várias décadas de decadência da Igreja, na segunda metade do sec.XI, o Papado vem reformar e assegurar uma grande expansão religiosa sobre o mundo. A teocracia (governo de Deus sobre a terra pelos papas), imposta por Inocêncio III durou até 1270. A ambição de Inocêncio III era submeter todos os cristãos ao domínio da Santa Sé. O papa intervinha na vida privada e pública dos príncipes afim de assegurar as condutas conforme o evangelho. Roma interveio nos assuntos soberanos mais influentes da Europa sobretudo no Império Germânico, em França e na Inglaterra. Enquanto o papado lutava pela reforma dos costumes eclesiásticos, formando a sua autoridade, a cristandade conhecia uma nova fase de expansão e prosperidade. Através das cruzadas ganharam combates no sentido de travar o avanço do Islão. Deu-se a criação de grandes ordens religiosas que asseguraram a expansão da Igreja Romana. As origens da Inquisição remontam ao sec.XII. Foi Gregório IX que organizou a Inquisição em 1231, de modo a defender a unidade cristã ameaçada pelas heresias. Expansão das universidades no sec.XIII pela Europa Ocidental. No sec.XIV e XV, a Igreja atravessou um período obscuro. Felipe IV, o belo, conseguiu impor a sua vontade à Santa Sé. Durante sessenta anos o papado abandonou Roma e instalou-se em Avinhão. A cristandade conheceu uma redução da sua área geográfica após o desaparecimento do Império Bizantino. Nestes períodos conturbados reagiu-se ao uso da razão para alcançar Deus. Intelectuais insatisfeitos chegaram a querer voltar aos textos originais para reencontrarem a autenticidade das mensagens antigas. Durante o sec.XVI, alguns reformadores como Lutero e Calvino abalaram a Igreja. Os princípios protestantes eram condenados e definia-se claramente a doutrina romana. Assistiu-se a um forte renascimento do catolicismo e a uma vontade de evangelizar a Ásia e a América. O sec.XVII foi marcado por guerras de ordem religiosa. Mas verificou-se também por este período uma renovação religiosa muito forte, onde participaram bispos, ordens reformadoras e novas fundações religiosas (Oratório, sulpicianos, eudistas, lazaristas). O período Iluminista contribuiu para a contestação das verdades cristãs tradicionais. Em 1790 temos a constituição civil do clero. Depois dos tempos conturbados da Revolução e do Império, a Igreja conheceu uma reestruturação, um grande desenvolvimento a partir do sec.XIX. Os intelectuais e o clero arrastaram os fiéis numa renovação da fé. A febre missionária permite uma implantação universal do catolicismo. As ideias provenientes dos princípios do Iluminismo, como o liberalismo, a transformação da sociedade através do aumento do poder da industrialização provocam problemas aos papas. Nas vésperas da primeira guerra mundial, o catolicismo estava implantado nos cinco continentes. Se a Igreja era poderosa, a sociedade mostrava-se pouco cristianizada em profundidade e foi-o cada vez menos durante o sec.XIX. O cristianismo no mundo de hoje O cristianismo é actualmente a religião com maior número de adeptos, seguida do Islão. Presente em todos os continentes, apresenta tendências de desenvolvimento diferente em cada um deles. No início do século XX, a maioria dos cristãos estava concentrada na Europa; por volta da década de setenta do século XX, tinha diminuído consideravelmente o número de cristãos na Europa, sendo actualmente a América Latina e África os dois centros mundiais do cristianismo. O cristianismo chegou ao continente americano com as conquistas espanholas e portuguesas do século XVI. Os primeiros missionários católicos na América, preocupados com a conversão das populações, não se importaram com as culturas locais indígenas, que foram devastadas. No século XIX a independência dos países latino-americanos em relação a Espanha e Portugal, foi acompanhada de uma redução gradual da influência da igreja. Contudo, durante o século XX o catolicismo desempenhou um papel político na América Latina, detectável em movimentos como a Teologia da Libertação. Na África o cristianismo tem raízes mais antigas. Antes do surgimento do Islão no século VII, o norte de África estava religiosamente integrado na esfera cristã. O Islão e o cristianismo tiveram porém dificuldades em penetrar completamente na África Negra. Foi sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões protestantes (anglicanas e metodistas) em África, que o cristianismo penetrou no continente. Na segunda metade do século XX seria a vez do catolicismo romano. Hoje em dia, o catolicismo é a denominação com maior número de adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 150 milhões de pessoas. No continente africano também surgiram igrejas cristãs independentes das tradições europeias, que misturam elementos do cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos antepassados, a feitiçaria e a poligamia O cristianismo começou no século I como uma seita do judaísmo, partilhando por isso textos sagrados com esta religião, que os cristãos denominam de Antigo Testamento. A Igreja e o Estado Novo Portugal nasceu à sombra da Igreja, e a religião católica foi desde o começo elemento formativo da alma da Nação e traço dominante do carácter do povo português. Nas suas andanças pelo mundo a descobrir, a mercadejar, a propagar a fé. António de Oliveira Salazar tornou-se Presidente do Conselho em 1932, tendo no ano seguinte apresentado uma nova Constituição, que pôs fim à Ditadura Militar, e instaurando o regime a que a propaganda oficial chamou Estado Novo. Apesar de possuir algumas características semelhantes ao fascismo italiano de Benito Mussolini, o Estado Novo nunca se assumiu como sendo fascista. O Estado Novo teve de recriar o sistema de relações Igreja – Estado com base na legislação da Primeira Republica, que aprovara a lei da separação por decreto de 20 de Abril de 1911 e pusera em vigor diversas medidas anti-clericais. A legislação da Primeira República foi sendo progressivamente revogada ou posta fora de uso, primeiro por Sidónio Pais e depois pelo movimento de 28 de Maio de 1926, que logo em 6 de Julho de 1928 faz sair o decreto 11887 que repõe a paz entre a Igreja católica e o Estado. Os principais valores que o salazarismo procurava inculcar – obediência, resignação, caridade - constituíam as virtudes tradicionais que a Igreja vinha ensinando havia séculos. A Igreja e o regime caminhavam lado a lado. Com uma ideologia marcadamente conservadora, o Estado Novo orientava-se segundo os princípios consagrados pela tradição: Deus, Pátria, Família, Autoridade, Hierarquia, Moralidade, Paz Social e Austeridade. A doutrina era uma e a mesma. Deus é omnipotente e todo o poder deriva em última análise dele; logo, em seu nome, e por sua vontade, Salazar presidia aos destinos do povo português. Obedecer ao governante escolhido pelo Senhor, como o Cardeal Cerejeira insistia em recordar aos portugueses, não passava de obedecer a Deus. Como se lia aliás no livro de leitura da 1ª classe "É Deus quem nos manda respeitar os superiores e obedecer às autoridades". Aos olhos do Estado Novo, nenhum mandamento excedia o quarto em importância: a obediência ocupava o eixo das virtudes. Para o Salazarismo, existia uma natural cadeia de comando, uma hierarquia disposta por Deus, que uma cantiga popular infantil, incluída noutro livro de leitura, se aplicava a exprimir: "Manda o amo ao moço / o moço ao gato / o gato ao rato." Sem tocar formalmente no princípio da separação entre Igreja e Estado, Salazar celebra com a Santa Sé a Concordata de 7 de Maio de 1940que consagra diversos privilégios e benefícios à Igreja católica, com base em que esta era a religião tradicional do país. A Constituição de 1933 consagra o princípio da liberdade de culto e de religião, mas afirma que a Igreja católica é a religião da nação portuguesa. O Estado continua a ignorar de todo a existência de outras confissões religiosas em Portugal, apesar de já existirem protestantes portugueses desde 1842. Assim, só à Igreja católica é reconhecido o direito a ensinar nas escolas públicas, a isenções fiscais, a definir o seu próprio sistema de organização. As outras confissões existentes no país são ignoradas e para existirem legalmente recorrem à figura da associação de direito privado, sujeita a ser aprovada pelas autoridades administrativas de então e a registo no ministério da Justiça como associações religiosas. Em 1971, durante a chamada « primavera marcelista », surge a primeira lei sobre a liberdade religiosa portuguesa[4]. Acerca dela diz o Prof. Marcelo Caetano : « O Governo, ao enviar à Câmara Corporativa o projecto de proposta de lei acerca da regulamentação do exercício da liberdade religiosa, não pretendeu cercear privilégios da Igreja católica e muito menos bulir com a consciência católica do País »[5]. Esta lei, como o diz o próprio chefe do Governo, pouco trazia de novo em matéria de liberdade religiosa e servia para controlo das confissões existentes no país. A grande vantagem foi o debate que suscitou na sociedade portuguesa acerca da questão da liberdade religiosa, no qual os protestantes estiveram fortemente envolvidos. PROTOCOLO ADICIONAL À CONCORDATA ENTRE A SANTA SÉ E A REPÚBLICA PORTUGUESA (DE 7 DE MAIO DE 1940) A Santa Sé e o Governo Português, afirmando a vontade de manter o regime concordatário vigente para a paz e o maior bem da Igreja e do Estado, tomando em consideração, por outro lado, a nova situação apresentada pela parte portuguesa no que se refere à disposição contida no artigo XXIV da Concordata de 7 de Maio de 1940, acordaram no que segue: I (é permitido o divórcio civil) O artigo XXIV da Concordata de 7 de Maio de 1940 é modificado da seguinte forma: «Celebrando o casamento católico, os cônjuges assumem por esse mesmo facto, perante a Igreja, a obrigação de se aterem às normas canónicas que o regulam e, em particular, de respeitarem as suas propriedades essenciais. A Santa Sé, reafirmando a doutrina da Igreja Católica sobre a indissolubilidade do vínculo matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade civil de requerer o divórcio». II Mantêm-se em vigor os outros artigos da Concordata de 7 de Maio de 1940. III O presente Protocolo, cujos textos em língua portuguesa e em língua italiana farão igualmente fé, entrará em vigor logo que sejam trocados os instrumentos de ratificação. Feito em duplo exemplar. Cidade do Vaticano, 15 de Fevereiro de 1975. GIOVANNI Card. VILLOT FRANCISCO SALGADO ZENHA Dado o nosso quadro constitucional e a existência da Concordata de 1940 impõem-se medidas legislativas com vista a equiparar as diferentes confissões religiosas, sob pena de se violar a neutralidade do Estado imposta pelo princípio da separação. É que a Constituição garante também a igualdade das Igrejas e confissões religiosas, como consequência da aceitação do princípio da separação das Igrejas do Estado e da igualdade dos cidadãos prevista no artigo 13 da Constituição. Igualdade não significa que se deve tratar todas as confissões da mesma maneira. Implica apenas uma proibição de discriminação e a exigência de uma racionalidade substancial das diferenciações efectuadas. Ora essas diferenças não podem basear-se na tradição ou na regra da maioria, mas porque se trata de direitos individuais e fundamentais, noutro tipo de critérios que possam ter acolhimento nas regras constitucionais. Sublinha-se aqui que cada cidadão tem igual direito a confessar determinada religião e verificar que não é por isso discriminado. E todos os cidadãos têm direito a escolher em liberdade a religião que querem professar. A liberdade religiosa é matéria muito complexa, no mesmo tempo do domínio do político, do jurídico e do social, e porque as normas jurídicas mais não são do que regulação do social, importa reconhecer que não basta a regulação jurídica para garantir a liberdade religiosa e a não-discriminação religiosa. É necessário que no domínio do social haja um ambiente de tolerância, de informação e de respeito pelo diferente, que garanta e fundamente o sistema jurídico de protecção dos cidadãos em matéria religiosa. Descriminações Há vastas áreas do nosso sistema legislativo, político, administrativo e social onde se verificam autênticas discriminações, sendo a Igreja católica claramente favorecida. Apontamos apenas alguns casos : a) A questão fiscal. A Igreja católica, seu património e os seus sacerdotes gozam desde 1940 de tratamento fiscal ultra-privilegiado no que toca aos principais impostos, sendo que as confissões não católicas gozam apenas do tratamento que já ficou dito. b) Neste campo fiscal destaca-se um diploma de Janeiro de 1990 que permite à Igreja católica recuperar o IVA (imposto criado em 1988 e não previsto na Concordata de 1940) de obras que realize em templos seus, incluindo construção dos mesmos, ignorando o diploma a existência de templos e de obras de outras confissões. c) A assistência religiosa nos estabelecimentos prisionais, tutelares de menores e nas forças armadas é reservada exclusivamente aos católicos (decreto-lei n° 797/83, de 9 de Fevereiro e n° 345/85, de 23 de Agosto). d) Só o casamento católico tem relevância civil. e) Só a Igreja católica goza liberdade de organização. f) A Igreja católica beneficia de elevados apoios financeiros para a construção de templos e para a sua actividade, apoios de que nenhuma outra confissão beneficia. g) Existe desconfiança dos meios de comunicação social em relação ao que não é católico, assim, distingue-se socialmente o que se passa em Fátima em termos de curas milagrosas do que acontece no mesmo campo entre outras confissões. Um caso de intolerância religiosa verificado recentemente em Portugal prende-se com a perseguição movida a uma confissão de origem brasileira denominada Igreja universal do reino de Deus (IURD), que logrou obter considerável número de fiéis e notável presença nos meios de comunicação social portuguesas. Os acontecimentos relativos à aquisição do Coliseu do Porto, e os que se lhe seguiram, são exemplos de discriminação religiosa recente. A câmara municipal do Porto entendia que só poderia ser celebrado culto em local previamente para o efeito licenciado e proibiu o culto na referida sala de espectáculo sem base constitucional para o efeito[6] e sem tomar em conta muitos outros casos. A IURD teve de recuar e a proprietária do Coliseu do Porto não pode celebrar este negócio. A igreja dos nossos dias “Fabricador de instrumentos de trabalho, de habilitações, de culturas, de sociedades, o homem é também agente transformador de história. Mas qual será o lugar do homem na história e o da história na vida do homem?” Nesta linha de pensamento em que tentamos explicar qual o papel da igreja na vida quotidiana do homem e vice-versa, a pluralidade de ilações remete-nos para várias acepções possíveis. Em que modelo central poderemos situar a igreja católica? Será predominantemente institucional, hierarquizada e tridentina? Será carismática e profética? Será sacramental? Na prática, como define a igreja o mundo laico, o poder, o dinheiro, e a sua própria missão no meio dos homens? Processo de modernização da igreja Quando o mais retardatário dos cardeais conciliares abandonou as salas vazias do Vaticano e reentrou no mundo exterior, dir-se-ia terem ficado criadas as condições necessárias à evolução gradual do delicado processo de modernização da igreja. Muitos dos erros crassos que a igreja cometeu até aos nossos dias, ficaram a dever-se sobretudo, aos séculos de isolamento em que a igreja permaneceu fechada sobre si mesma. Os pontos mais altos das relações entre a igreja e o mundo registaram-se, invariavelmente, no decurso de acções concretas ditadas por imperativos de solidariedade humana. As alianças secretas A tradição eclesiástica das alianças secretas não vem de recente data e constitui, frequentemente, um mundo insondável, jamais registado nos anais da história. A sua mais sólida garantia tem sido assegurada, através dos tempos, pela muralha de silêncio que o Vaticano sabe sempre lançar, oportunamente, em tornos dos episódios menos transparentes das práticas seculares da igreja. Defesas que, no entanto, se tornam cada vez menos eficazes numa sociedade mediática, onde a mais pequena indiscrição pode ser determinante no sentido de revelar aquilo que à opinião publica cuidadosamente se ocultou. “Os rios nascem de pequenas fontes, à medida que recebem água dos afluentes, vão aumentando pouco a pouco o seu caudal. Este pode ser tão grande que, com a violência do curso, arrasa tudo quanto apareça à sua frente. O mesmo acontece àqueles que atingem uma escala relativamente alta do poder. Através daqueles que já conseguiram escravizar, adquirem maior força para cometerem iniquidades e, por meio dos oprimidos, escravizam aqueles que ficaram livres, de modo que, para eles, o aumento do poder se transforma em nova arma de maldade. E é assim que os que antes foram prejudicados não têm outro remédio senão ajudar os seus opressores e colaborarem, portanto, no sentido de prejudicar e maltratar os outros”. (S. Basílio, “cartas”, séc. IV DC) Os sinais dos tempos Curiosamente, este constante aspecto de uma igreja que luta contra si própria permanece através daquilo que se vai conhecendo dos projectos de acção dos tecnocratas católicos. Característica que, necessariamente, se reflecte no interior de toda a igreja. A igreja reclama-se a mãe do ocidente e nessa maternidade adopta o próprio capitalismo como motor de progresso e do avanço cultural. Celebra as grandes virtudes da livre concorrência e debruça-se com o maior interesse sobre as permanentes revoluções tecnológicas que o capitalismo motivou. Até mesmo parte das injustiças sociais resultantes do desenvolvimento económico são absolvidas pela igreja, como naturais. No entanto, o Vaticano vê, com suspeita e com grande preocupação, o continuo ascendente político dos monopólios que se formaram à margem da influência eclesiástica. Condena-os como “selvagens” e difusores do materialismo. Na realidade, o que constata com um imenso alarme, é o que o moderno capitalismo, que a igreja institucional também pratica, é portador de um subproduto ideológico – o consumismo – substituto das religiões, que poderá vir a afastar irremediavelmente do contexto das sociedades futuras. A igreja fundamentalista alia-se ao capitalismo, por razões estratégicas. Mas quer ser ela a usá-lo e a dominá-lo. Mergulhas nos mercados, mas, em nome do poder espiritual que um dia já deteve, pretende que os capitalistas a isentem dos riscos inerentes às crises e às recessões. Mais ainda, julga-se capaz de fazer estacionar todo o processo histórico do capitalismo num determinado estádio, de forma a evitar que ele se devore a si mesmo. As contradições que a “nova igreja” de João Paulo II encerra são insuperáveis. O cristianismo foi feito por humildes e para os humildes. Os “bem aventurados” serão os pobres. Se os monopólios não vieram a destruir, em pouco tempo, esta “nova igreja”, ela apenas servirá para proclamar a extinção, a prazo, da confissão católica romana. A dicotomia Igreja/Estado Existem diversas questões que são abordadas pela igreja, diríamos, de uma forma algo subversiva. Os eternos pressupostos da própria instituição que reflectem a “personalidade” de quem a representa e vice-versa. Ao olharmos para trás, vimos que a igreja é uma instituição milenar e que conta, acima de tudo, com uma facção da população mundial que a apoia e a mantém, mas que no fundo poucos compreendem, ofuscados no entanto por séculos de experiência. É sabido que uma instituição é sempre fruto de quem a representa ou de quem a representou, no entanto, ela consegue por si só, envergar uma carga histórica de valores morais e sociais que a auto denominam de instituição. No preciso caso, a igreja consegue ser mais do que uma simples instituição. Esta vai além dos limites circunstanciais, ao adquirir um vasto respeito devido aos fenómenos religiosos que ela representa. Cerimónias como o baptismo, o crisma, o casamento ou a comunhão, são encarados pela igreja como bens essenciais à palavra de Cristo e ao mundo perfeito que encerra a paz e o amor. No entanto, curiosamente, não tem sido de belas palavras, que a igreja tem vindo a sobreviver. Nos dias de hoje é estritamente necessário avaliar o papel da igreja nos actos dos homens e qual o poder que esta exerce sobre ele. Para se compreenderem os fins, é necessário também entender os meios. Poderemos afirmar veementemente, que esta é uma instituição que, raramente, dá um passo em falso e, quando o dá, trata de o aniquilar ou ofuscar aos olhos alheios. Sabemos de hoje em dia que as maiores guerras são travadas em nome de Deus, onde religião e Estado não passam de um só. Nos Estados orientais, esta realidade é um facto cruel, mas verídico. No mundo ocidental, desde cedo que se tentaram afastar os valores da igreja, dos valores do estado, no entanto, existem valores que ainda hoje são resultado dessa relação ou dessa imposição da igreja, em relação ao estado. O exemplo da hetero-sexualidade, que no fundo é um valor moral, mas um problema real para os Estados actuais. Compreender o mundo de hoje e os seus fenómenos diários, passa sobretudo por entender a história da igreja e não tanto, a história dos Estados. Conclusão Parece que essa igreja una e diversa que tentamos encontrar, na realidade não existe. Vista de perto, a igreja católica surge-nos profundamente dividida por correntes, teologias, acepções e atitudes díspares e mesmo antagónicas entre si. As suas hierarquias proclamam a opção preferencial pelos pobres, mas cultivam, secretamente, as relações com os ricos e com os poderosos. Declaram-se campeãs das liberdades, mas recusam-se a aceita-las no âmbito eclesial. Recordam os “aggiornamentos” conquistados pelo concílio Vaticano II e, simultaneamente, esvaziam-nos de significado. E há, nos nossos dias, a “outra” Igreja, a dos pobres e das catacumbas virtuais.Todas estas tendências lutam, no âmbito da igreja, pelo direito à afirmação e pela conquista de uma hegemonia que permita o futuro do mundo católico. É uma situação explosiva, rica em factos concretamente protagonizados por homens, forças religiosas, poderes económicos e políticos ou por alianças secretas, jamais confessadas, como o sub-mundo marginal. [1] Esta palavra de origem grega foi a escolhida pelos autores da Septuaginta (a tradução grega da bíblia hebraica) para traduzir o termo hebraico que e Hal Yahveh, usado entre os judeus para designar a assembleia-geral do povo do deserto, reunida ao apelo de Moisés. [2] Da concepção originária de "evangélico", sob o enfoque eclesiástico, discerne-se que a igreja evangélica é a própria igreja protestante. No Brasil, todavia, do ponto de vista teológico, dado o surgimento de outros movimentos derivados do protestantismo, entende-se que evangélica é a igreja que adopta a Bíblia como único livro divinamente inspirado, pelo que se compreende que somente a Bíblia explica a Bíblia. [3] É uma das chamadas grandes religiões. Tem aproximadamente biliões de seguidores em todo o mundo, incluindo católicos, ortodoxos e protestantes. Cristianismo vem da palavra Cristo, que significa Messias, pessoa consagrada, ungida. Do hebraico mashiah (o salvador) foi traduzida para o grego como khristos e para o latim como christus. [4] É a lei n° 4/71, de 21 de Agosto de 1971, hoje quase inteiramente revogada. [5] Vida mundial, n° 1641, de 20 de Nov. de 1970 : 7. [6] Cf. J.J. Gomes Canotilho & J. Machado, Bens culturais, propriedade privada e liberdade religiosa, Lisboa, 1995. |
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