Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Guerras inter religiosas (Relações Internacionais)

O prometido é devido. Finalmente o texto sobre as razões das guerras terem, por vezes fundamentos religiosos. Lembro que este texto é um auxílio e não um determinante pedagógico. Ou seja, é um ponto de partida e não um ponto de chegada. Terão que complementar com pesquisa posterior. Qualquer coisa digam... Está para breve a publicação das coisas de Tecnologias da Comunicação Social II

AS RELIGIÕES E AS GUERRAS

Ao longo do primeiro semestre foram apresentadas em sala de aula os fundamentos das seguintes religiões: Budismo, Hinduísmo, Cristianismo [Catolicismo, Protestantismo, Ortodoxismo], Islamismo, Judaísmo, Paganismo. Foram igualmente apresentados o Ateísmo e o Agnosticismo, que não podem ser consideradas religiões, mas formas de viver o fenómeno Religioso.
Após as exposições de todos os trabalhos concluiu-se, de forma unânime e simplista, que todas as Religiões prosseguem o mesmo fim: a Paz. Impõe-se então a questão: Por que razão existem guerras, com fundamentação religiosa? A questão sensível mereceu um esforço reflexivo, que resultou em algumas conclusões, que se apresentam em seguida.
1.) Ao contrário do que é veiculado quotidianamente não existe pureza nas religiões. Todas elas se influenciam mutuamente, partilhando espaços e símbolos comuns. Ora isto pode ser um problema, quando as Religiões ao partilharem símbolos dizem não fazê-lo.
Lembremo-nos que os Cristãos forma perseguidos pelos Pagãos romanos pela sua nova forma de vida; todavia os Cristão deixaram-se influenciar pelos hábitos Pagãos, recorrendo a datas Pagãs para marcar algumas das suas festividades. Séculos mais tarde, com a inversão de forças, foram os Cristãos a perseguir os Pagãos. Ora este jogo do “gato e do rato” é, muito possivelmente, um catalisador que pode gerar focos de tensão, que podem degenerar em guerra.
2.) A partilha de espaços religiosos é um dos maiores problemas e a causa de algumas das mais sangrentas guerras. É aceite que os pilares sagrados do Islamismo, do Judaísmo e do Cristianismo são similares e que os seus lugares sagrados se concentram numa certa zona do Médio Oriente. A falta de debate inter religioso leva a que as três religiões reclamem a si o controlo daquele território, pretendendo defendê-lo pela força, se tal for preciso.
A partilha de uma mesma religiosidade leva a que Budistas (monoteísmo) e Hinduístas (politeísmo) guerreiem, há séculos, pela originalidade religiosa dos seus escritos. A religião não mexe com o consciente, mas com o sentimental, o que embrutece os sentidos dos homens e lhes retira algumas faculdades como animal pensante.
3.) A teoria dos predestinados, que algumas religiões possuem, ou simplesmente a ideia de que a “sua” religião é inatacável, é outro barril de pólvora, que, de vez em quando, explode. Partilhar o mesmo espaço físico com religiões que se julgam salvas, pelo berço, e olham os outros como “impuros” ou “indignos”, pode degenerar em guerra.
4.) A aplicação prática dos conceitos teorizados, pode ser outra razão das guerras. Isto é, o facto das religiões dizerem uma coisa na sua doutrina, mas os seus dignitários realizarem outras coisas nas suas acções, é um factor destabilizador, que, em casos extremos, levará a guerras, por vezes dentro da mesma religião. As guerras entre islâmicos, no século XII, ou entre Cristãos, no século XV, resultam deste distanciamento entre o professado e o realizado.
5.) Embora as religiões professem a Paz, como fim supremo, a forma como estabelecem as suas hierarquias de valores, também pode ser apontado como catalizador de guerras. O respeito pelo mérito pessoal dos Protestantes choca directamente com o desapego material professado pelos Católicos.
6.) A imposição das religiões, em determinadas regiões do globo são, muito provavelmente, a maior causa de conflitos religiosos, que podem degenerar em guerras. Os Cristãos, neste processo, são os maiores responsáveis pelas fracturas sociais que ocorrem, ainda hoje, pela África, onde a religião é vivida com uma intensidade especial. As perseguições impostas, igualmente na América do Sul, provaram ser um foco de importantes distúrbios.
De facto, hoje em dia, assiste-se a um movimento internacional de regresso ás religiões nativas, em desprimor dos monoteísmos impostos. É conhecido como Pan-Paganismo, mas a denominação peca por ser redutora. A imposição e a intolerância religiosa são dois dos principais factores das guerras religiosas, em paridade com a ausência de um diálogo inter religioso fluido.
7.) A forma como o sexo é encarado também pode ser um factor de guerra, e não pretendo com isto chocar ninguém. Vejamos, se para os Pagãos o sexo é libertação, contacto com a Natureza e ligação aos Deuses, para os Cristãos o sexo é abjecto, redutor, e animal, devendo ser apenas realizado com o fim da procriação. Ora isto gera tenções e até preconceitos sociais, que podem degenerar em incompreensão e levar a guerras devido ao desentendimento.
O encarar a sexualidade como algo natural, leva a que a homossexualidade seja entendida com maior naturalidade pelos Pagãos, do que pelos monoteístas, o que degenera sempre em conflitos sociais, especialmente nas religiões do globo em que as duas religiões convivem e compartilham o mesmo espaço.
Estas são apenas algumas razões, mas muitas mais se poderão incluir. O importante é ter presente que as guerras com fundamento religioso não se devem a um factor único, mas a uma multiplicidade dimensional de mundivivências, que nem sempre é compreendida por todos. Ao contrário do que se afirmar, ainda ninguém realizou verdadeiros diálogos inter religiosos.

Tiago Lopes

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