Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

domingo, maio 20, 2007

Imprensa Desportiva (Atelier de Comunicação I)

Aqui está, como prometido, o trabalho sobre a Imprensa Desportiva da autoria do Nelson Ferreira e do João Oliveira. Relembro, a quem não tiver entregue o seu trabalho, que a publicação no blog serve exclusivamente para auxílio dos colegas. Ajudar não custa. Boa sorte para todos.
O Representante de Turma,
Tiago Lopes
Introdução

No âmbito da cadeira de “Atelier de Comunicação I” foi-nos proposto o estudo e análise de vários tipos de publicações. Optámos por elaborar um trabalho sobre as publicações desportivas existentes no mercado nacional: A Bola, O Jogo e o Record. Além destes três jornais, foi feita também uma análise a uma revista do segmento: Futebolista.
A escolha deste tema deve-se, fundamentalmente, ao facto do desporto gerar uma multiplicidade de sentimentos e emoções e por despertar o interesse de milhares de pessoas, o que coloca estas publicações no “top” de vendas de jornais a nível nacional. Abordámos igualmente o novo jornal desportivo gratuito Diário Desportivo, e tentámos clarificar qual a sua importância e que impacto poderá ter no mercado, e sobretudo, como devem os jornais desportivos pagos responder a este novo desafio.
O perfil do leitor/público-alvo destas publicações serão também abrangidos nesta análise, assim como serão expostas duas teorias que explicam o motivo pelo qual as pessoas “recorrem” aos jornais desportivos, em detrimento de outros jornais.
A importância das capas e dos títulos na imprensa desportiva e os mecanismos de persuasão utilizados neste tipo de imprensa, destinados aos leitores, foram também objecto de análise.

Análise dos Jornais Desportivos

A Bola

O jornal A Bola, é um diário desportivo, que apresenta um formato A3 (broadsheet). Acompanha toda a actualidade desportiva diária, incluindo cobertura de eventos, de campeonatos de diversas modalidades, ou seja, todo o tipo de eventos e provas desportivas realizadas no nosso país e a nível internacional.
Efectuando uma análise pelas secções do jornal, ficamos a perceber de uma forma mais clara o tipo de notícias que podemos encontrar nas diferentes secções do jornal. Ao abrirmos o jornal deparamo-nos de imediato com as últimas notícias da Liga Portuguesa de Futebol, seguida de uma secção em que é prestada uma especial atenção à actualidade diária dos três grandes portugueses (Benfica; Sporting; F.C. Porto). Após as notícias dos três grandes portugueses, situam-se as notícias e a actualidade das restantes equipas da Primeira Liga. À medida que nos aproximamos das páginas finais, encontramos uma secção dedicada ao futebol internacional, em que é dada especial atenção às principais ligas do futebol europeu e mundial. Nas últimas páginas do jornal encontra-se também uma secção dedicada a vários desportos, onde a cobertura é menos elaborada, sendo em média uma página dedicada a cada desporto.
Neste diário existe igualmente uma ou duas páginas dedicadas à opinião, em que diariamente diferentes colunistas expõem os seus pontos de vista e opinam sobre vários temas da actualidade desportiva. Nesta secção além do trabalho dos jornalistas é também habitual por vezes a presença de antigos jogadores de futebol, e figuras conhecidas a nível nacional que estão ligados ao desporto, que dão a sua opinião e análise sobre as últimas competições.
A presença de publicidade é quase nula, à semelhança dos outros jornais desportivos como o Record e O Jogo (apesar de terem publicidade, esta também não surge com muita frequência). Uma das poucas publicidades visíveis, está relacionada com a transmissão de jogos na SPORTV, que aparece geralmente nas capas dos jornais, em forma de rodapé.
O jornal A Bola caracteriza-se por um bom uso de fotos e de cores nas respectivas notícias e reportagens. Utiliza títulos fortes, de fácil compreensão e apelativos para chamar a atenção do leitor. Geralmente, cada notícia é acompanhada pela respectiva foto, que possui um tamanho considerável.
É sem dúvida importante termos em atenção o facto de nos dias antes e após de decorrerem jogos da liga portuguesa, ser feita uma cobertura muito extensiva, em especial dos “três grandes portugueses”, mas também das restantes equipas, em que é avaliado o trabalho dos jogadores, treinadores, e equipa de arbitragem. Em semanas de jogos das competições da UEFA, é de realçar as páginas dedicadas à sua cobertura, e em especial aos jogadores portugueses a actuar no estrangeiro.
No método de avaliação, a pontuação dada a cada jogador, varia numa escala crescente, de 0 a 10. A acompanhar a nota destinada a cada jogador surge sempre, um comentário sobre a exibição de cada jogador, nos jogos que decorrem semanalmente na Liga Portuguesa de Futebol.
Analisando a cobertura dada à liga portuguesa de futebol, o jornal A Bola tem ainda todos as semanas os rankings dos melhores jogadores de cada jornada, os mais regulares de toda a liga, o melhor guarda-redes, os melhores goleadores, o melhor árbitro, a taça disciplina, ranking que é actualizado semanalmente, após a jornada terminar. São também eleitos a figura, o goleador, e o destaque da jornada, em jeito de balanço da jornada.

Record

O jornal Record é um diário desportivo que apresenta um formato tablóide, de fácil manuseamento. Grande parte do jornal, tal como acontece na maioria dos diários desportivos é dedicada ao futebol. A atenção recai nas equipas da Primeira Liga Portuguesa, sobretudo os denominados “3 grandes”. É feita uma cobertura intensiva às jornadas da liga portuguesa que normalmente se realizam aos fins-de-semana, desde artigos de opiniões sobre a jornada, à análise detalhada de alguns lances polémicos ocorridos durante os jogos. Também se procede à recolha de depoimentos de figuras ligadas ao futebol para analisar/responder a algumas questões relacionadas com um determinado jogo.
Existe igualmente um espaço com o nome “Clube de Fãs”, onde adeptos de um dos três grandes (figuras públicas) fazem um breve comentário sobre o último jogo da sua equipa. Os árbitros também são avaliados pela sua exibição, podendo ir a sua nota de 0 a 5, assim como os jogadores, sendo usados os mesmos critérios de avaliação. Como já foi realçado, existe sempre um maior destaque conferido aos três grandes (Sporting, Porto e Benfica), pois os seus jogos são sempre analisados mais detalhadamente, assim como a exibição dos seus jogadores.
Curioso é o facto de após a secção que abrange a Primeira Liga Portuguesa surgir a secção de “Internacional”, que em média possui 3 páginas por edição, e não a secção que aborda a Liga de Honra, vulgo 2ª divisão portuguesa de futebol (em média 2 a 3 páginas). Esta distribuição não deixa de ser atípica pois, faria mais sentido que a secção de “Internacional” surgisse após se ter concluído todo o panorama futebolístico nacional. Porém, pode também ser entendido que o jornal pretende em primeiro lugar dar destaque à liga principal nacional e às ligas principais europeias, e só depois abordar as divisões inferiores. Não deixa de ser contudo um aspecto que possa ser objecto de algum debate.
A seguir à secção “internacional” continua a ser abordado o futebol, nomeadamente, as divisões inferiores (segunda e terceira divisão), não excedendo também uma página. É também apresentando um espaço intitulado “Tudo num minuto”, onde surgem algumas breves sobre as equipas que disputam os campeonatos das divisões inferiores. Posteriormente, surgem as páginas dedicadas a outras modalidades, entre as quais ciclismo, ténis, basquetebol, automobilismo, hóquei em patins, voleibol, que no seu total não excedem as 5 páginas, contendo também para a maioria das modalidades, um artigo de opinião, ou uma análise feita por uma pessoa relacionada com essa modalidade, assim como há o espaço atrás referido “Tudo num minuto”, onde se incluem pequenas breves sobre as diversas modalidades. Pelo meio surge uma página dedicada aos classificados.
À medida que nos aproximamos das páginas finais do jornal, surge uma página dedicada à opinião, desde frases enviadas por leitores a comentários feitos por alguma personalidade que comenta as derradeiras notícias que abrangem (sobretudo) o futebol. Existe também uma página intitulada “Off the Record”, que utiliza os últimos acontecimentos desportivos nas diversas modalidades, usando sobretudo a ironia e algum sentido de humor. Dedica igualmente uma página às mais recentes notícias nacionais e internacionais, onde não se inclui notícias desportivas. Apresenta também uma página intitulada “O Jogo da Vida” que incide em aspectos da vida social (e privada) de algumas figuras conhecidas do público (nacionais e internacionais).
As últimas duas páginas que compõem este diário desportivo ocupam-se da programação e dos destaques televisivos, assim como possuem um espaço denominado “11 perguntas a”, podendo ser actores, cantores, enfim, alguma figura pública que responde a algumas questões. É dado também destaque às últimas notícias (ou notícias de fecho) sobre as diversas modalidades. Na contracapa do jornal surgem dois artigos de opinião, o “indispensável” cartoon, uma última notícia, e um espaço denominado “medalhas” que podem ser de ouro, prata, bronze e lata, distribuídas por desportistas, clubes ou treinadores que se tenham destacado, tanto pela positiva como pela negativa (por isso existe a medalha de lata).
Quanto a publicidade, o jornal “Record” dedica algumas das suas páginas exclusivamente a publicidade não excedendo, em média, quatro páginas por edição. Realce-se que este diário recorre frequentemente a fotografias para acompanhar as notícias, assim como algumas infografias para dar uma visão mais detalhada (isto é utilizado sobretudo quando se pretende fazer uma análise detalhada de equipas, na antevisão de um jogo).

O Jogo

O Jogo, foi outro dos jornais analisados, e de todos eles é o mais recente, e talvez por isso, seja na categoria dos não gratuitos, aquele que apresenta mais lacunas. Pode considerar-se o mais sensacionalista, ideia que é reforçada pelos títulos utilizados, e pelo teor de algumas das suas notícias.
A forma como as suas secções estão distribuídas, é muito semelhante aos restantes jornais analisados. Ao abrir-mos o jornal deparamo-nos com as últimas novidades da liga portuguesa de futebol, e seguindo a tendência geral dos principais jornais desportivos portugueses, faz uma especial cobertura da actualidade desportiva dos “três grandes portugueses”. As seguintes páginas são dedicadas às restantes equipas da liga portuguesa.
Após a análise da liga portuguesa, segue-se uma secção dedicada à actualidade desportiva internacional, onde é prestada especial atenção às principais ligas europeias, e também aos jogadores e treinadores portugueses a actuarem no estrangeiro. A distribuição das secções do jornal o Jogo é muito semelhante à do jornal A Bola, reservando igualmente para as últimas páginas uma análise das restantes modalidades, dedicando em média uma página a cada modalidade. Apresenta uma paginação que foi reformulada recentemente, o que lhe confere um estilo moderno e inovador.
Apresenta alguma publicidade, um pouco mais do que os outros jornais já analisados, mas acaba por não se distanciar muito dos “moldes” utilizados nas outras publicações.

A Importância das Capas e dos Títulos na Imprensa Desportiva

A utilização de capas e títulos apelativos na imprensa desportiva é muito importante, pois como sabemos as capas e os títulos fazem vender, e são uma das principais formas para seduzir o leitor; é o modo como o produto é apresentado. É baseado nesta ideia que a maioria dos jornais utilizam diariamente títulos fortes e apelativos.
Nos três jornais (A Bola, O Jogo e o Record) que referimos na nossa análise à imprensa desportiva, O Jogo é talvez o mais sensacionalista e o menos criativo, na medida em que utiliza na maioria das vezes, uma foto em grande plano, e apenas dois ou três pequenos destaques. A Bola e o Record apresentam as suas capas de forma distinta do jornal O Jogo. São mais criativos, isto é, conseguem colocar mais informação, mais destaques, e abrangem mais temas (ver anexos). Ambos fazem um melhor aproveitamento do espaço, dando mais informação ao leitor, aproveitando o espaço de cabeçalho e rodapé para fazerem referências a mais notícias presentes no jornal.
Fazendo um balanço no que concerne às capas, O Jogo fica um pouco atrás, em termos de qualidade e criatividade, dos restantes jornais analisados, e com base na análise efectuada, investe muito numa imagem forte que ocupa grande parte da página, que por vezes pode ser muito bom, visto que chama atenção do leitor, mas de outro ponto de vista, pode ser negativo, pois foca-se mais numa notícia em detrimento de outras igualmente importantes, que por vezes não são sequer referidas. Pelo contrário, os restantes jornais fazem uma gestão mais cuidada dos temas que devem fazer a capa, de forma a não deixar temas importantes de fora.

A Imprensa Desportiva Portuguesa

A imprensa desportiva portuguesa é uma área em permanente desenvolvimento e evolução diária. Os principais jornais desportivos (A Bola; Record; O Jogo), apresentam um elevado número de vendas diariamente. No entanto, mesmo que queiramos revelar qual o líder de vendas, não é fácil, pois a especulação é elevada, não sendo possível quantificar (nunca é consensual) qual o jornal que apresenta um maior número de vendas. Em algumas estatísticas, A Bola aparece como líder, seguida do Record enquanto O Jogo ocupa a derradeira posição. Por vezes, noutras estatísticas, o primeiro lugar é atribuído ao Record, e só de seguida aparece A Bola. Quanto ao diário O Jogo parece não existir dúvidas, pois surge novamente no terceiro lugar. É necessário termos em atenção que para se efectuar uma análise mais correcta e precisa, teríamos que ter em conta, a diferente tiragem dos jornais, nas diferentes zonas do país, assim como os diferentes perfis do leitor. Mas, no entanto, apesar das dúvidas, sabe-se claramente quais os jornais que neste momento disputam o primeiro lugar, no que concerne ao número de vendas realizado.
As tiragens dos jornais são afectadas por inúmeros aspectos. A nossa imprensa sofre de um fenómeno denominado por alguns como “falta de imparcialidade”, e por outros como “clubite”, em que os jornais, e na maioria dos casos os seus profissionais, são acusados de registarem algumas preferências por alguns clubes, e nutrirem antipatia por outros.
Com esta desconfiança, a principal derrotada é a imprensa desportiva, pois de certa forma, é posta em causa a verdade desportiva e a tão falada questão da “imparcialidade jornalística”, que muita tinta tem feito correr, no que diz respeito à actualidade desportiva. Refira-se que estes fenómenos atrás referidos são por vezes tão evidentes, que levam a que os leitores escolham os jornais, usando o critério de que “aquele é o que mais defende os interesses do meu clube, por isso compro este e não aquele que é do Benfica, do Porto, ou do Sporting”.
Em suma, a imprensa desportiva assume vital importância para todos os seguidores do fenómeno desportivo, principalmente do futebol. Como é do conhecimento geral, o futebol é uma modalidade que “arrasta” multidões, e que tem em todo o mundo milhões de seguidores. É neste contexto que a imprensa desportiva é fulcral, pois permite que esses milhões possam seguir diariamente as notícias sobre os seus clubes. Esta importância reflecte-se no número de jornais desportivos que são vendidos diariamente. Os diários desportivos são dos jornais mais vendidos a nível nacional, preenchendo assim as necessidades de milhares de pessoas.
Para concluir, refira-se que a linguagem utilizada neste tipo de imprensa só é perceptível para aqueles que acompanham diariamente as diferentes modalidades. Existem palavras utilizadas na “gíria” que pode dificultar a leitura dos jornais desportivos a um leitor que não siga frequentemente os fenómenos desportivos. Todos os jornais desportivos utilizam o mesmo tipo de linguagem.

Mecanismos de Persuasão para o Leitor

Outro ponto de análise curioso é o uso de mecanismos de persuasão destinados ao leitor. Os jornais optam por diferentes estratégias para persuadirem a atenção do leitor. São várias as ofertas conhecidas, desde autocolantes, canetas ou porta-chaves com os respectivos símbolos do clube. Outra forma de persuasão é a distribuição de uma revista ao fim de semana por parte do jornal Record, e O Jogo. No caso de Record, ao Sábado, surge conjuntamente com o jornal uma revista, de carácter igualmente desportivo, enquanto que no jornal O Jogo surge uma revista aos Domingos. Essas revistas tratam também da actualidade desportiva, e contêm ainda entrevistas e reportagens sobre figuras ligadas ao desporto, assim como fazem cobertura a diversos eventos.
Esta aposta pode ser encarada como mais uma tentativa de captar a atenção do leitor, que ao fim-de-semana tem a possibilidade de, além de ler o jornal, ter à sua disposição uma revista que aborda o futebol, e que tal como é referido na gíria, um pouco daquilo que se passa fora das quatro linhas. Isto é sem dúvida uma boa estratégia, que peca pelo facto de nos dias em que os jornais trazem as respectivas revistas, serem um pouco mais caros, e não existir a possibilidade de comprar somente o jornal. Assim sendo, o leitor mais fiel e que ache que se justifica pagar um pouco mais pelo jornal e pela revista, comprará o jornal tal como faz habitualmente. Para o leitor que não partilhe a mesma opinião, irá comprar outro dos jornais que se encontram disponíveis diariamente.
O jornal A Bola não segue pelo mesmo diapasão, trazendo apenas em algumas épocas do ano alguns fascículos gratuitos, especialmente ao domingo, ou mesmo não sendo gratuitos, possibilita a sua obtenção em separado do jornal.
Depois de analisadas as revistas que surgem como suplemento dos jornais, existe em Portugal outro tipo de publicação desportiva que não é muito falada, mas que aos poucos começa a ganhar o seu espaço entre os leitores da área desportiva. Trata-se da revista Futebolista, revista mensal, especializada no futebol. Todas as suas notícias, entrevistas e reportagens são dedicadas ao denominado desporto-rei. Aposta na mesma estratégia dos diários desportivos, ou seja, faz uma abordagem especial aos três principais emblemas portugueses (Sporting, Porto, Benfica). Mas ao contrário das outras publicações, esta não se prende com análise de jogos e resultados, mas antes, com análise de jogadores que actuam quer no campeonato nacional, quer nas principais ligas mundiais. Isto deve-se ao facto de esta ser uma revista de distribuição mensal, e torna-se pouco lógico fazer uma análise de jogos.
É uma revista com um design e uma paginação muito agradável, com um estilo moderno e com cor em todas as páginas, o que torna a publicação apelativa para o leitor. Utiliza fotos muito ilustrativas, como complemento das várias peças existentes ao longo da revista.
Numa análise geral, trata-se de uma boa revista, com temas fortes. Nas suas várias edições, faz a análise dos principais jogadores internacionais, tem uma secção de breves, em que são expostas várias curiosidades, todas elas ligadas ao desporto-rei, inclusive sobre antigas figuras ligadas ao futebol, que agora estão longe dos principais palcos. Tem vários artigos de opinião, onde são abordadas várias temáticas, que muitas vezes são pouco referidas, tais como: estatísticas dos campeonatos; jovens jogadores, muitos dos quais não são ainda conhecidos pelo público.
Tem também uma secção em que são postos à prova os principais videojogos de futebol que saem para as várias consolas existentes no mercado, e para computador, para além de abordar alguns materiais novos na área da tecnologia e da comunicação, tais como, telemóveis, câmaras fotográficas, entre outros.
Esta é sem dúvida uma publicação que funciona como uma “lufada de ar fresco” no mercado da imprensa desportiva no nosso país, pois trata-se da única revista do género (dedicada exclusivamente ao futebol). Esta revista tem igualmente uma área em que as páginas são posters (fotografias que ocupam a página toda) das estrelas actuais do futebol nacional e internacional.
Já atingiu a marca das 20 edições, o que prova a grande aceitação que está a ter por parte dos leitores. Ao seguir os mesmos moldes que segue actualmente, poderá futuramente vir a ocupar uma posição ainda melhor na imprensa desportiva portuguesa. Apesar de na análises dos jornais desportivos não termos referido o preço, vamos aqui referir o preço da revista Futebolista, uma vez que é um preço extremamente acessível, para uma revista mensal. O preço desta revista está actualmente fixado em 1.95€.

Embate entre os pagos e os gratuitos

Surgiu há pouco tempo o Diário Desportivo, jornal diário que incide sobre a actualidade desportiva e tem a particularidade de ser gratuito. Resta agora saber como vai decorrer o embate, entre este jornal gratuito e os restantes que são pagos.
É o primeiro jornal desportivo gratuito, que será lançado numa primeira fase nas zonas de Grande Lisboa e Porto e, posteriormente, noutras cidades do país. A grande novidade será a sua distribuição nos estádios de futebol, nas companhias aéreas, em hotéis e nos bancos. O objectivo é "fazer um diário sobre todas as modalidades desportivas" e não apenas de futebol, segundo disse o director desta publicação – o jornalista Fernando Correia – responsável pelo programa “Bancada Central” da TSF, em declarações prestadas à agência Lusa.
O aparecimento do Diário Desportivo, que ainda é uma publicação recente poderá futuramente vir a marcar uma viragem no sector da imprensa desportiva, na medida em que o leitor poderá ler a actualidade desportiva de uma forma gratuita em detrimento dos principais diários desportivos não gratuitos, líderes de venda no nosso país.

Como irá reagir o leitor à possibilidade de ler a actualidade desportiva de forma gratuita?

Temos que ter em atenção que os jornais gratuitos, apenas estão disponíveis nas grandes metrópoles, o que significa, desde logo, que só está disponível para um limitado número de leitores. A confirmar-se o alargamento da sua distribuição e desenvolvimento a outras áreas do país, como será que os principais diários desportivos, que analisamos anteriormente, irão reagir a este desafio? Qual o impacto que as publicações desportivas gratuitas irão provocar nos diários desportivos pagos?
O surgimento do Diário Desportivo é bom para a imprensa desportiva, pois permite aos leitores alargar o seu leque de escolhas. O Diário Desportivo, ao ter como objectivo “ser um diário sobre todas as modalidades desportivas”, torna-se igualmente uma opção válida para o tipo de leitor que não está somente interessado no futebol, mas procura também manter-se a par da actualidade das outras modalidades.
É importante referir que o tipo de leitor deste tipo de publicação se diferencia em alguns aspectos do tipo de leitor das restantes publicações. Este será um jornal que se destina a um determinado tipo de leitor, que procura um jornalismo mais directo, com uma cobertura menos extensiva, mas, ao mesmo tempo, mais abrangente. Mesmo pelos locais em que é distribuído (estádios de futebol, nas companhias aéreas, em hotéis e nos bancos, metro, estações de comboio, etc.), tem que se estabelecer uma diferente estratégia entre os jornais não gratuitos, para captar a atenção do leitor. Mas, se a sua distribuição for alargada para todas as zonas do país, a importância do Diário Desportivo, poderá aumentar em larga escala, pois dessa forma, o leitor que apenas procura uma síntese da actualidade diária, ao poder obtê-la de forma gratuita, poderá abdicar de comprar um diário desportivo pago. Fica no entanto a dúvida, que apenas será respondida com o desenrolar do tempo.
Dependo também do sucesso ou insucesso do Diário Desportivo, pode-se originar a criação de mais jornais desportivos gratuitos, o que poderia afectar largamente as vendas e tiragens dos jornais não gratuitos. Outro das preocupações que os principais jornais desportivos podem vir a ter, é se se confirmar a recente tendência dos leitores, que demonstram cada vez mais interesse por outros desportos, sem se interessarem unicamente pelo futebol. Isto poderá originar a que futuramente os diários desportivos pagos procedam à reestruturação das suas estratégias e adaptar os seus conteúdos à nova realidade.

Mecanismos de evasão e a imprensa desportiva

Teoria de Jean Stoetzel

As teorias que aqui são expostas explicam, de certa forma porque é que as pessoas recorrem à imprensa no geral, e à imprensa desportiva em particular. Através destas teorias, é possível compreender porque é que este género de publicações é importante para as pessoas.
Jean Stoetzel defende que a imprensa possui não só o privilégio da transmissão da informação e das notícias, como também promove a inserção social dos indivíduos. Esta ideia está sustentada pelo interesse que as notícias despertam nos indivíduos, embora se saiba que este processo varie de indivíduo para indivíduo, mas é indubitável que estas afectam todos os membros constituintes da sociedade, porque as notícias funcionam como o “elo” de ligação dos indivíduos com o mundo.
Igualmente importante é o papel que a imprensa desempenha enquanto factor de distracção e entretenimento para os leitores, que aproveitam os seus tempos livres, independentemente do local onde se encontrem, para ler jornais. É neste contexto que se encaixam os jornais desportivos (os outros jornais também inseriram rubricas de desporto, moda, culinária, entre outras, de modo a satisfazerem esta necessidade dos leitores).

Herta Herzog

Esta teoria de Herta Herzog relata-nos outra função desempenhada pela imprensa. Em específico, esta teoria assenta no pressuposto de que através da imprensa, nomeadamente através de notícias sobre a vida privada das figuras públicas, as pessoas se identificam com estas e criam uma espécie de “intimidade”. Contudo, esta intimidade é artificial. De seguida, esta teoria demonstrará porque é que é importante existir esses tipos de notícias para os leitores.
Como foi referido, Herta Herzog desenvolveu e identificou uma outra função da imprensa. Esta função relaciona-se com o conhecimento de pormenores da vida íntima de personalidades conhecidas, através dos jornais, que “criam uma suposta intimidade artificial (que na realidade não existe) na nossa vida quotidiana, que gradualmente tende a tornar-se numa espécie de substituto das relações primárias grandemente esbatidas pela sociedade de massa e pela diluição dos laços sociais”[1]. Por outro lado, “ a leitura de notícias relativas a escândalos, crimes ou assaltos permite a libertação de numerosas tendências quer biológicas, quer culturais recalcadas pela vida em sociedade”[2].
No panorama desportivo existem alguns casos, que de algum modo se podem encaixar nestes aspectos atrás referidos. Veja-se o escândalo do “Apito Dourado” que tanta polémica tem desencadeado no futebol português, e que preencheu diversas vezes as capas dos diários desportivos, assim como o livro “Eu Carolina” onde a ex-mulher de um presidente de um grande clube português, Jorge Nuno Pinto da Costa (F.C.Porto), conta alguns pormenores da vida íntima do presidente, nomeadamente dos tempos em que esta manteve um relacionamento amoroso com o mesmo. À primeira vista seria um livro que poderia não interessar, mas a verdade é que foi um êxito de vendas, figurando durante algumas semanas no “top 10” dos livros mais vendidos a nível nacional. Através destes casos, as pessoas procuram exercer um papel activo e determinante na sociedade, onde se posicionam e protestam, nem que seja imaginariamente. Deste modo, a imprensa desportiva, e tudo o que rodeia o desporto, desempenha uma importante tarefa: satisfaz necessidades reais dos leitores.

Perfil do leitor deste tipo de imprensa

Todos os jornais estabelecem previamente qual o público-alvo a que se pretendem dirigir. Os jornais desportivos não fogem à regra, e como tal, têm também um público-alvo definido, embora esta seja uma área que tem leitores muito diversificados, em que não podemos definir que seja dirigido a público entre a idade X e a idade Y.
Os jornais desportivos dirigem-se a todos os amantes do desporto em geral. É consensual que a grande maioria dos leitores procuram essencialmente uma modalidade: futebol. É difícil estabelecer um estereótipo de leitor, pois não existe uma faixa etária específica, no entanto, é comum que a maioria dos jovens estudantes sejam espectadores atentos da actualidade desportiva diária. O desporto é seguido por pessoas de todas as idades e de ambos os sexos. Como o futebol é o considerado o “desporto-rei”, talvez o interesse do género masculino se destaque neste tipo de publicações. No entanto, é importante referir que as tendências têm vindo a alterar-se nos últimos anos. É visível o crescente interesse por parte do público feminino, quer pelo futebol, como também pelas restantes modalidades. Esta tendência pode ser justificada com o facto de nos jornais desportivos, tal como já referimos anteriormente, se ter alargado e desenvolvido a cobertura das várias modalidades, alargando deste modo o público-alvo, pois não se foca apenas no futebol.
Actualmente já começam a aparecer grandes destaques e coberturas de eventos de desportos que anteriormente apareciam muito pouco na imprensa desportiva. Um claro exemplo que prova esse desenvolvimento na cobertura de outras modalidades que não o futebol, é o aparecimento e o destaque que é conferido a atletas como Vanessa Fernandes (triatleta portuguesa, actual campeã europeia), Ticha Penicheiro (basquetebolista portuguesa a actuar na WNBA), e até há bem pouco tempo, a Tiago Monteiro, piloto português que competia no mais importante campeonato de automobilismo mundial, a Fórmula 1.

Perspectivas de Evolução Futura

A imprensa desportiva portuguesa, em nossa opinião, tem o futuro garantido no nosso país. Está num processo permanente de desenvolvimento e evolução, quer ao nível da abordagem das temáticas, quer ao nível do público. A imprensa desportiva conta com um ajuda preciosa, que é o facto do desporto mover multidões, principalmente o futebol, que acima de todos os desportos, é o que vende mais.
Como lacunas da imprensa desportiva portuguesa, podemos apontar o facto de, até à data, estar demasiado centrada no futebol, e nos três principais clubes portugueses (Sporting, Porto e Benfica), sendo habitual encontrar-mos um grande número de páginas dedicados a cada um deles, e em que nos dias antes dos embates mais decisivos, se deparamos com o mesmo tipo de manchetes e capas, em que todas abordam os mesmos jogos. Felizmente, e para benefício do pluralismo jornalístico, começamos já a assistir a uma crescente preocupação por parte dos jornais desportivos de abordar a actualidade desportiva das diversas modalidades, quer a nível nacional quer internacional. O número de entrevistas e reportagens de modalidades que usualmente são menos divulgadas, também começam a aumentar gradualmente, acentuando a preocupação e a atenção dispensadas pelos diários desportivos a estas temáticas.
Outra questão fundamental para os diários desportivos resolverem no futuro, prende-se com a ligação que eventualmente cada jornal tem com um determinado clube. Este factor é desprestigiante para o jornalismo, pois um dos princípios basilares do jornalismo é a imparcialidade. Se houver imparcialidade nestas publicações, estas adquirem maior credibilidade e respeito por parte do público, e evitam desconfianças por parte dos leitores. Caso contrário, continuarão a existir dúvidas relativamente à verdade desportiva, e a credibilidade de cada jornal desportivo será sempre posta em causa. Deste modo, seria extremamente positivo existir um maior esclarecimento das políticas editoriais de cada jornal, para acabar com este “clima” de suspeições que diariamente é alimentado por todos os que seguem atentamente a actualidade desportiva.
Contudo, parece-nos de elevada dificuldade que alguma vez se possa afastar este “clima” de suspeições. O desporto no geral, e o futebol em particular, gera muitas emoções, e por vezes os sentimentos misturam-se com a razão, criando fortes obstáculos a um jornalismo desportivo sério, credível, respeitado, e sobretudo isento.
Porém, fica a dúvida de que até que ponto os jornais desportivos não preferem alimentar a possibilidade de haver algum tipo de simpatia por determinado clube, e antipatia por outros..? Existindo ou não, os jornais nunca pareceram muito preocupados em esclarecer se existem “lobbies” que influenciem directamente as suas linhas editoriais. É um pouco estranho, nunca se debater este aspecto que é tão falado. Deveria existir uma maior clareza e abertura por parte dos jornais em debater este assunto, na tentativa de acabar com este clima de suspeição. Com esta iniciativa, a imprensa desportiva seria a grande beneficiada.
Por último, acrescente-se que é de todo expectável que nos próximos anos a imprensa desportiva continue a figurar no “top” de vendas a nível nacional, como resultado da importância que as modalidades, o futebol em particular, têm na sociedade portuguesa.

Conclusão

Com a elaboração deste trabalho, pretendeu-se, em primeiro lugar, realçar a importância que a imprensa desportiva e o desporto têm na sociedade nacional. Quem não se lembra do Euro 2004 realizado em Portugal? Nunca fora visto em ano algum tão grande mobilização e união entre todos os portugueses. Durante um mês não se falou de outro assunto a não ser a selecção nacional. Este evento demonstrou quão importante um desporto pode ser para um país e como pode “afectar” o dia-a-dia de uma pessoa.
Procurámos dar a conhecer um pouco mais a realidade desportiva, os principais desportos abordados na imprensa desportiva, assim como projectar o embate entre os jornais desportivos pagos e o novo jornal desportivo gratuito. Analisados os três jornais desportivos, verifica-se que todos eles optam pela mesma estratégia, isto é, conferem maior destaque ao futebol, em detrimento das restantes modalidades.
Relativamente ao tipo de leitores deste tipo de imprensa, normalmente são pessoas do género masculino, embora como foi referido anteriormente, exista um crescente interesse por parte do género feminino por este tipo de imprensa e pelas diversas modalidades. Na generalidade, o desporto é seguido por pessoas de todas as idades.
A evolução futura deste segmento foi igualmente abordada. Os jornais desportivos são das publicações que mais vendem diariamente, e prevê-se que esta propensão continue a existir nos anos que se seguem, devido a múltiplos aspectos que já foram referenciados neste trabalho, tais como: o uso do desporto como mecanismo de evasão e de entretenimento que vem satisfazer necessidades das pessoas; o facto de gerar diversos sentimentos e emoções.
O facto de despertar tantas emoções e sentimentos que por vezes se sobrepõem à razão, é também um dos factores que provocam tantos conflitos no desporto, especialmente no futebol. A este propósito demonstrou-se neste trabalho como o fenómeno da “clubite” pode colocar sérios entraves a que se pratique um jornalismo desportivo isento e imparcial.

Bibliografia:

► HERZOG, Herta, "What do We really know about daytime serial listeners", in LAZERSFELD, Paul, STANTON, Frank, "Communication Research", Nova Iorque, Duell Sloan an Pearce, 1944
► Várias edições dos seguintes jornais: Record, A Bola e O Jogo
► Várias edições da revista Futebolista

[1] HERZOG, Herta, "What do We really know about daytime serial listeners", in LAZERSFELD, Paul, STANTON, Frank, "Communication Research", Nova Iorque, Duell Sloan an Pearce, 1944

[2] op.cit. p. 3-33