Comunicação Social [Turma 2004]

Apontamentos e notas dos alunos do curso de Comunicação Social (turma de 2004) da Escola Superior de Tecnologias de Abrantes - IPT.

quinta-feira, maio 24, 2007

BOA SORTE!

Boa sorte a todos os alunos do 3º Ano de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (Instituto Politécnico de Tomar), que na Sexta-Feira (25 de Maio) pelas 9 horas irão defender as suas teses de Bacharelato no Auditório da E.S.T.A.
Ângela, João e Tiago o mais difícil já fizeram. Mais 20 minutos e está terminada mais uma fase. Vai correr tudo bem! Os Deuses estão com vocês!

terça-feira, maio 22, 2007

Ética e Deontologia do Jornalista (Atelier de Comunicação I)

Aqui está o trabalho da Diana Rocha e da Ana Torres, da cadeira de Atelier da Comunicação I, sobre Ética e Deontologia do Jornalista. Embora exista outro grupo com o mesmo tema, o enfoque dado é diferente e merece uma leitura atenta. A todos os que nao me enviaram os formatos digitais exorto a que o façam o quanto antes. Ajudar não custa nada!
O Representante de turma,
Tiago Lopes
Ética e Deontologia do Jornalista

Introdução

O jornalismo é considerado um serviço público e como tal a informação torna-se um bem social, pois o primeiro compromisso dos jornalistas é com a sociedade do seu país.
A missão primordial do jornalistas é informar, analisar, comentar os factos e explicar de uma forma clara e directa para dar a conhecer e entender o mundo aos cidadãos.
Podemos dizer que o jornalista é apologista dos valores universais do humanismo: a Paz, a Democracia, a Liberdade e contra a incitação à guerra, à violência, ao ódio e discriminação. O jornalista luta contra todo tipo de obstáculos à liberdade, pois as pessoas têm o direito de receber uma imagem verdadeira da realidade através de uma informação precisa e completa. Temos o direito de informar, de se informar e o de ser informado, e encontra-se consagrado na Constituição da República Portuguesa (CRP) no nº1 do artigo 37º.
Podemos considerar que um Código Deontógico é um conjunto de regras comportamentais com um suporte ético universalmente tido como válido. O Código Deontológico do Jornalista não foge à regra do conceito do que é um código deontológico. Encontra-se assente na moral e na ética.
Tudo aquilo que vai contra a moral é considerado um crime contra a deontologia. Podemos então considerar que o código deontológico é uma extensão da ética. Os profissionais da comunicação acima de tudo tem que agir com dignidade e respeito.
O maior dom de um ser humano é a liberdade e a deontologia como parte da moral social limita essa liberdade na forma em que regula a conduta humana na sociedade. A deontologia abarca numa parte a profissão com todas as suas consequências morais, conduta e consequências humanas.
A deontologia ou moral profissional pode ser definida como parte especializada da ética pois considera o aspecto moral do homem no exercício da sua profissão.

Em Portugal os jornalistas regem-se pelo Código Deontológico, datado de de 22 de Março de 1993, aprovado em Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas, e têm dez pontos nos quais explica a conduta de um jornalista.

Código Deontológico do Jornalista

1.O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público.

2.O jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais.

3.O jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos.

4.O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.

5.O jornalista deve assumir a responsabilidade por todos os seus trabalhos e actos profissionais, assim como promover a pronta rectificação das informações que se revelem inexactas ou falsas. O jornalista deve também recusar actos que violentem a sua consciência.

6.O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas.

7.O jornalista deve salvaguardar a presunção da inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as vítimas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor.

8.O jornalista deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas em função da cor, raça, credos, nacionalidade ou sexo.

9.O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.

10.O jornalista deve recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. O jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesses.

O que é a Ética?

A ética é considerada uma ciência que estuda algo característico dos costumes, os modos habituais de agir, a própria natureza, capacidade natural de o homem inserido num determinado meio de se comportar de uma forma ou de outra. A ética estuda a atitude humana face as adversidades que enfrenta e os seus actos humanos.
A ética pode ser considerada uma ciência filosófica que trata os seres humanos e pode-se dividir em Ética Geral e em Ética Especial. A Ética Geral estuda leis, normas da atitude moral humana, enquanto que a Ética Especial debruça-se sobre as atitudes em diversas circunstâncias, nas quais o homem se encontra como ser social. A Deontologia pertence a Ética Especial.

O papel da ética e da informação

É considerada informação todo o conjunto das formas, das condições e actuações para captar públicos de uma forma contínua ou periódica, de elementos do saber, do acontecimento, de acções e projectos, tratado mediante a técnica jornalística utilizando como canais a comunicação social.
Existe uma relação muito estreita entre a informação e a ética. É no entanto, considerado este facto como normal, uma vez que a informação não pode existir sem um informador que não se pode desprender da sua consciência tal como um computador.
A veracidade é a base essencial da informação e a consciência profissional deve obedecer aos seguintes aspectos: a uma responsabilidade consciente e racional e à lealdade aos fins sociais da profissão. O respeito de uma pessoa tem que se encontrar baseado na sua dignidade, pois uma sociedade, uma cultura, uma geração sem ética são como um ser humano que carece de príncipios morais e como tal desmoraliza-se e degrada-se.
A credibilidade dos jornalistas tem diminuido à medida que o fenómeno mass media se tem alastrado pelo mundo. A fronteira entre jornalismo e programas de entretenimento começa-se a esbater. Esta confusão de géneros não tem aparecido somente nas televisões, mas também começou a atingir a impressa, que é já uma vítima dos suplementos com o objectivo de publicitar.
Esta informação dualista tem provocado uma crise de confiança entre o público, os media e os jornalistas. É como se tratasse de uma doença geral que tem envolvido o tratamento da informação por parte dos jornalistas.
Estes aspectos negativos podem agrupar-se em quatro grupos: o peso dos determinismos económico e tecnológico; as modificações estruturais da televisão, a desinformação e manipulação e a pressão dos serviços das relações públicas.

Exemplo de um destes aspectos negativos foi a Guerra do Golfo em que se assistiu a uma época em que se utilizaram técnicas de manipulação e controle de consciências dos americanos.
A corrupção dos jornalistas tem tomado formas ao longo do tempo subtis, muitas das vezes, devido ao peso acrescido dos serviços de relações públicas. O jornalista sem dar por isso é envolvido num meio de simpatias e conveniências.
A solução apontada para estes problemas tem sido a consciencialização dos jornalistas e dos mass media.

O jornalista e a informação

Qualquer grupo profissional tem que ter em conta o meio que o envolve em especial a sociedade em que está inserido. O jornalista não é um caso à parte e, por isso, também lhe é exigido uma conduta deontologicamente e éticamente válidas, não ofendendo princípios, valores, moral, pelos quais uma sociedade se rege.
É pelo código deontológico que o jornalista tem acesso aos seus deveres e direitos, tal como, acesso aos pontos essenciais da profissão para que este não viole os valores socialmente protegidos e defendidos, porque um jornalista indirectamente acaba por gerar opinião pública.
O jornalista tem o dever de realizar o seu trabalho conjuntamente com a sua consciência. Em Portugal apesar de existir um Código Deontológico, Estatuto do Jornalista, Sindicato dos Jornalistas, não existe um orgão oficial. Estamos a falar de uma Ordem como é o caso da Ordem dos Médicos ou dos Engenheiros, que regule certas situações referentes ao exercício da profissão de jornalista.
Convém, porém, ter a noção que a violação do Código Deontológico tem por consequência a aplicação de sanções disciplinares, mas não será, talvez, apropriado deixar nas mãos de um sindicato o poder de determinar estas sanções.
A verdade é que um sindicato é uma organização com uma natureza diferente das ordens profissionais. As ordens profissionais são associações públicas, pessoas colectivas de direito público, às quais a lei atribui poderes de autoridade para o exercício de determinadas funções às quais é reconhecido interesse público. Os sindicatos encontram-se muito longe desta realidade.
A Constituição de 1976 veio consagrar o princípio de liberdade de associação e, como consequência disto, ninguém pode ser obrigado a inscrever-se ou a pertencer a uma associação, seja ela de que natureza for. Isto reflecte-se no facto dos jornalistas não serem obrigados a inscreverem-se ou a pertencerem ao Sindicato de Jornalistas e ,sendo assim, os jornalistas que não estão inscritos no Sindicato não estão vinculados a respeitarem e a cumprir as deliberações emitidas pelo Sindicato de Jornalistas.

Por isso, um bom profissional tem que tomar consciência que a ética deve estar presente na sua actividade profissional..
A informação ocupa um lugar cada vez mais relevante na sociedade. Afinal, vivemos numa Aldeia Global.
A televisão tão rápida quanto a rádio tem uma vantagem enorme sobre os seus predecessores, pelo facto de se apoiar na imagem, mas temos que estar atentos às tentativas de manipulação e contra-informação que a televisão e os mass media em geral podem estar sujeitos.
O jornalista pode ser alvo desta manipulação sem dar por isso, e contribuir indirectamente para a desinformação, para a manipulação da opinião pública e mesmo para os interesses de terceiros.

Direito da comunicação social
As leis que regulam a Comunicação Social em Portugal são o resultado do final da censura e da implementação da liberdade de expressão após 25 de Abril de 1974, que resultou na Constituição de 1976.
A principal preocupação do legislador pós-revolucionário, depois de longos anos de censura e de limitações a todos os níveis, foi a implementação da liberdade de expressão e a tridimensalidade de “informar, informar-se e ser informado”, e não tanto com a problemática deontológica dos jornalistas.

O percurso da regulamentação deontológica na ordem jurídica portuguesa:

1º O Decreto-Lei nº 85-C/75, de 26 de Fevereiro veio aludir ao assunto dispondo no seu artigo 10º, nº3 que “o exercício da actividade de jornalista profissional será regulado por um estatuto e por um Código Deontológico”;
2º O mesmo diploma previa no seu artigo 61º que competia “ao Sindicato dos Jornalistas a elaboração do Código Deontológico” no prazo de noventa dias após a entrada em vigor do Decreto-Lei;
3º Em 13 de Setembro de 1976 é aprovado o primeiro Código Deontológico dos jornalistas na Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas.
4º A Lei nº 62/79, de 20 de Setembro, que aprovou o Estatuto do Jornalista, veio prever no seu artigo 11º, nº2, que “os deveres deontológicos serão definidos por um código Deontológico, a aprovar pelos jornalistas, que incluirá as garantias do respectivo cumprimento”;
5º Em 04 de Maio de 1993 é aprovado um novo Código Deontológico dos jornalistas em Assembleia Geral do respectivo Sindicato, texto que ainda hoje se mantém em vigor.
6º A Lei nº 1/99, de 13 de Dezembro, que aprovou o novo Estatuto do Jornalista vem entretanto referir no seu artigo 14º que os jornalistas estão sujeitos aos deveres fundamentais que desse artigo constam, “independentemente do disposto no respectivo código deontológico”.
7º Após sucessivas alterações legislativas que foram sendo introduzidas no Decreto-Lei nº 85-C/75, de 26 de Fevereiro, sem reflexos nos artigos respeitantes ao Código Deontológico, este diploma apenas viria a ser revogado recentemente, sendo substituído pela Lei nº 2/99, de 13 de Janeiro, a qual é omissa relativamente a esta matéria.
8º A única norma que se encontra na nova Lei, indirectamente relevante, é a que vem prever, entre as várias competências dos Conselhos de Redacção a de se pronunciar “sobre todos os sectores da vida e da orgânica da publicação que se relacionem com o exercício da actividade dos jornalistas, em conformidade com o respectivo estatuto e código deontológico(...)”(artigo 23º, nº 2).
Actualmente, é cada vez mais importante manter-se informado, e daí, a importância da comunicação social na vida dos cidadãos. Este facto, é um elemento que deve ser tido em conta pelos meios de comunicação e respectivos profissionais, não esquecendo, assim, o Código Deontológico no que se refere, nomeadamente, à privacidade dos cidadãos.

A liberdade de informar não deve ser posta em causa, mas em seu nome, não deverão ser violados princípios morais ou de outra natureza. Esta liberdade permite aos jornalistas dar a conhecer a actualidade e não só, mas existem limites, limites como o Código Deontológico ou o Estatuto do Jornalista, por exemplo.

Normas e problemáticas na profissão de jornalista

Os dois pilares principais da profissão de jornalista são a liberdade de expressão e o direito à informação. Sem estes dois elementos o profissional de comunicação não consegue exercer o direito de informar.
A imparcialidade é uma das grandes questões que existem na vida de um jornalista. As matérias devem revelar esta característica para que o trabalho produzido seja credível.
Porém, o jornalista não deve ser obrigado à neutralidade, no que diz respeito a temas em que valores fundamentais à vida sejam postos em causa, como são o caso dos direitos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, entre outros igualmente importantes.
Outra característica que o jornalista deve ter na sua actividade profissional é a objectividade. Este deve relatar os acontecimentos o mais fielmente possível, porque o que o público pretende saber são factos que aconteceram na realidade, não de histórias nem de opinião – para isso, existem os artigos de opinião, devidamente identificados.
O dever do jornalista prende-se em contar os factos tal qual como eles sucederam, por isso, é tão importante o jornalista presenciar os acontecimentos sempre que lhe é possível. É ele quem tem a função de transmitir ao público a imagem de tudo o que sucedeu, fazendo com que eles “visualizem” também.

Conclusão

Não se pode atribuir ao jornalista todos os males do mundo já reparamos que a conduta jornalística pode sofrer várias manipulações por parte de vários orgãos do poder. Os média tem a obrigação de tranquilizar o seu público sobre o seu profissionalismo e a sua conduta profissional.
A ética pode ser considerada como fundamental na profissão de jornalista e o poder da informação, hoje em dia é cada vez mais importante, pois é o jornalista que nos dá o alerta, que nos informa.
O surgimento dos códigos deontológicos apareceram com o intuito de combinar a liberdade de impressa e a responsabilidade e combinar a liberdade de informação e os seus limites. A comunicação social oferece uma imagem de responsabilidade.
Os códigos deontológicos regem-se pelos princípios activos da ética dos quais podemos salientar a veracidade, a objectividade, o bem comum e o segredo profissional.
Os erros cometidos pela comunicação social passaram a ocupar regularmente o espaço dos jornais e as televisões colocando em foco a ética. As notícias passaram a ser tratadas como ficção, apresentadas ao público de um modo espéctacular e sensacionalista.
Espera-se que através da Ética e da Deontologia essa situação se dissipe.

BIBLIOGRAFIA

Público, Livro de Estilo, Público Comunicação Social SA, 2ª edição, 2005
Estatuto do Jornalista (Lei nº1/99)
Constituição da República Portuguesa
Cornu, Daniel, Jornalismo e Verdade. Para uma ética da informação, Instituto Piaget, Lisboa.
Bertrand, Claude-Jean, A Deontologia dos Media, Minerva Coimbra, 2002

Websites
http://www.jornalistas.online.pt/
http://www.clubedejornalistas.pt/DesktopDefault.aspx
http://www.ics.pt/verfs.php?fscod=282&lang=pt

G8 (Relações Internacionais)

Aqui está o trabalho da Diana Rocha sobre o G8, trabalho ao qual assistiram poucas/ quase nenhumas pessoas. Depois não se queixem das avaliações. Relembro que os trabalhos vão constituir avaliação na frequencia.

Representante de Turma,
Tiago Lopes


Introdução

Num mundo cada vez mais globalizado, as organizações internacionais são cada vez mais uma realidade nas nossas vidas. Enquanto cidadãos, enquanto portugueses e europeus (neste caso), ou de outra parte do mundo, todos devem ter conhecimento acerca do que nos rodeia, e nos grupos que se vão formando em nome da organização e da paz.
Num mundo onde as guerras são constantes e as desigualdades sociais aumentam, a maior parte das organizações pretender contribuir para o equilíbrio deste planeta que, afinal, é de todos.
Neste trabalho irei abordar a organização G 8, trata-se de uma organização que reúne os oito países mais desenvolvidos e industrializado do mundo, e de política democrática.
Os Estados Unidos da América (EUA), o Japão, a Alemanha, o Reino Unido, a França, a Itália, o Canadá, a Rússia e a União Europeia (EU) são os Estados que se reúnem com frequência para tratar de muitos problemas no plano internacional.
É importante, ainda, referir que este grupo tem preocupações e move-se em nome de várias causas. Este ano, foram marcadas conferências sobre as alterações climáticas, a política energética e a biodiversidade são apenas um exemplo.

Historial do G8

Foi em 1975 que o Presidente Valéry Giscard d’Estaing tomou a iniciativa de reunir os chefes de Estado e de governo da Alemanha, dos Estados Unidos, do Japão, do Reino Unido e da Itália para um encontro informal no castelo de Rambouillet, nos arredores de Paris.
A ideia era reunir esses dirigentes, sem a presença dos respectivos conselheiros, para discutir sobre problemas mundiais (dominadas na época pela crise do petróleo), sem protocolo, num ambiente descontraído.
A reunião foi um sucesso e essas reuniões passaram a ser anuais. Sendo o Canadá admitido como membro, na segunda reunião do grupo cúpula de Porto Rico, em 1976.
Inicialmente, eram discutidos temas sobre políticas económicas entre os países participantes. No entanto, com o passar do tempo, as temáticas das reuniões foram ganhando novos contornos. O desenvolvimento sustentável e a saúde foram alguns dos novos temas abordados nas salas de reuniões do grupo.
O carácter informal do grupo permitiu-lhe evoluir segundo a sua vontade.

A Afirmação do G7

Cada uma das reuniões teve as suas particularidades e permitiu ao G7 continuar a evoluir. A reunião de Halifax (Canadá) em 1995 resultou em importantes mudanças no modo de funcionamento do Banco Mundial, do FMI e de outras organizações internacionais.
A cúpula de Lyon, em 1996, possibilitou o lançamento da primeira iniciativa a favor dos países pobres muito endividados (PPTE).

Por sua vez, no ano seguinte, a cúpula de Denver trouxe a confirmação mais patente do fim da Guerra-fria, com o convite histórico feito à Rússia de se juntar ao grupo.
Em 1998, a cúpula de Birmingham foi a primeira do G8; foi nessa reunião, também, que se adoptou o princípio de uma separação entre a cúpula dos chefes de Estado, e de governo, e as reuniões de seus ministros de Relações Exteriores e de Finanças.
A reunião de cúpula de Colónia, em 1999, foi a da Iniciativa PPTE (“pays pauvres très endettés” – países pobres muito endividados) reforçada, com um acordo sobre a redução dos encargos da dívida de alguns países pobres, somando mais de 37 biliões de dólares.
Na cúpula de Okinawa, no Japão, em 2000, os chefes de Estado e de governo financiaram para a luta contra as doenças infecciosas. E adoptaram uma carta sobre as novas tecnologias de informação e as desigualdades entre os países na utilização da tecnologia digital.
A cúpula de Génova, em 2001, estabeleceu a criação de um Fundo Mundial de Luta contra o HIV, a Malária e a Tuberculose. Aos membros do grupo vieram se reunir também os chefes de Estado de vários grandes países da África para o lançamento da Nova Iniciativa para a África, conhecida mais tarde como NEPAD (Nova Parceria para o Desenvolvimento da África). Com o objectivo de destacar o apoio concedido a esse importante texto, cada um dos chefes de Estado ou de governo nomeou um representante pessoal para a África.
Estes últimos, em entendimento com os dirigentes africanos, elaboraram um Plano de Acção do G8, apresentado em 2002 na reunião de cúpula de Kananaskis, no Canadá, texto esse que permitiu a cada um dos membros do G8 comprometer-se firmemente em favor da África, e que definiu as áreas prioritárias em matéria de ajuda para o desenvolvimento. Em Kananaskis, os chefes de Estado e de governo também anunciaram que importantes trabalhos seriam realizados em matéria de luta contra o terrorismo, particularmente com a implantação da Parceria Mundial contra a disseminação de armas e matérias de destruição em massa e a adopção de medidas a respeito da segurança dos transportes, de desenvolvimento sustentável e do acesso à educação.
Questões regionais (como a situação no Oriente Médio, Afeganistão, relações entre a Índia e o Paquistão) também foram discutidas.
Cúpula de Kananaskis (Canadá) de 25 a 27 de Junho de 2002 - Os ministros das Relações Exteriores do G-8 endossaram um conjunto de recomendações sobre o combate ao terrorismo que previa um compromisso para a total implementação da Resolução UNSCR 1373, da ONU - sobre repressão aos terroristas e suas actividades - e oito recomendações especiais para a Força de Acção Financeira (Financial Action Task Force - FATF) voltadas para a prevenção e o combate à “lavagem de dinheiro”.

Do G7 ao G8

O grupo foi composto de sete membros até que a Rússia, potencial membro, oficializou a sua integração no grupo em 1997.
A primeira cúpula a Oito membros ocorreu no ano seguinte, em 1998.
Em Kananaskis, os chefes de Estado e de governo tomaram uma decisão histórica ao convidar a Rússia a exercer, em 2006, a presidência do G8 e a sediar, pela primeira vez, a reunião de cúpula, levando em consideração importantes mudanças económicas e democráticas ocorridas nesse país nos últimos anos.

A União Europeia ocupa uma posição de observadora nas reuniões do G8, onde é representada pelo Presidente da Comissão Europeia e pelo chefe de Estado e de governo do país que estiver na presidência da União.

Encontros informais

Apesar de ter uma agenda cada vez mais preenchida, o G8 conseguiu manter um carácter informal e evitar uma ampla burocratização.
O grupo não possui secretaria ou regulamento interno aprovado.
É o membro do grupo encarregado de exercer a presidência que define a ordem do dia e decide qual a maneira mais apropriada de tratar cada assunto.
A presidência organiza a reunião, age como porta-voz do grupo durante o ano e coordena os trabalhos dos grupos de trabalho; é a ela, por fim, que cabe associar aos trabalhos do G8 organizações não-governamentais (ONGs), instituições financeiras internacionais e outros setores da sociedade civil.
A reunião de cúpula dos chefes de Estado e de governo do G8 ocorre, tradicionalmente, no início do verão europeu, durante um fim-de-semana.
Este ano, ela será realizada de 1º a 3 de Junho em Evian-les-Bains, nos Alpes franceses.

Estados-membros que constituem do G8

Reino Unido
O Reino já presidiu o grupo quarto vezes. Birmingham (1998) e Londres (1977, 1984 e 1991).
País: Reino UnidoÁrea: 243,000 sq. km
População (2002 est.): 59.8 milhõesCapital: LondresLíngua oficial: InglêsMoeda: (£) = 100 PenceRepresentante de Estado: Elizabeth IIPrimeiro-ministro: Tony Blair

França
A França presidiu por cinco ocasiões. Lyon (1996), Paris (1989), Versailles (1982), Rambouillet (1975) e Evian (2003). A sua próxima presidencia sera em 2011.
Área 547,030 kmPopulação: 61.2 milhõesCapital: ParisLíngua official: FrancêsMoeda: Euro (€) = 100 Euro CentRepresentante de Estado: Jacques ChiracPrimeiro-ministro: Dominique de Villepin

Rússia
A Rússia viu a presidencia uma única vez em 2006.
Área: 17,075,400 km
População: 145,000,000 (Junho 1999)
82% Russos (em mais de 100 nacionalidades)Capital: MoscovoLíngua oficial: RussoMoeda: 1 Rouble = 100 Kopeks
Representante de Estado: Vladimir PutinPrimeiro-ministro: Mikhail Fradkov

Alemanha
A Alemanha é a actual presidente.

Esteve na presidência por quarto vezes. Munique (1992), Bona em (1985), (1978) e Colónia (1999).
Área: 357,868 kmPopulação: 82.5 milhõesCapital: Berlim
Língua Oficial: alemãoMoeda: Euro (€) = 100 Euro CentRepresentante de Estado: President Professor Horst KöhlerChanceller: Gerhard Schröder

EUA
Os Estados Unidos da America presidiram cinco vezes. A mais recente, em 2004 na Georgia. Denver, Colorado (1997), Houston, Texas em (1990), Williamsburg, Virginia em (1983) e San Juan, Puerto Rico (1976).

A sua próxima presidencia será em 2012.
Area: 9.6 million square kilometresPopulação: Estimated population (July 2002) is 280 millionCapital: Washington Língua oficial: InglêsMoeda: Dollar ($) = 100 Cents.Representante de Estado: George W BushVice Presidente: Richard B Cheney

Japão
O Japão presidencou cinco vezes, a mais recente em 2004 em Okinawa.

As anteriores tiveram lugar em Tokyo (1993, 1986 and 1979).

A sua próxima presidencia sera em 2008.
Área: 377,780 km
População: 127,100,000
98.7% Japoneses; 1.3 % outros (a maior parte, coreanos.)Capital: TokyoLíngua oficial: JapanêsMoeda: Yen Representante de estado: Emperor AkihitoPrimeiro-ministro: Junichiro Koizumi

Itália
A Itália presidiu por quarto vezes.

Naples (1994), Venice (1980 and 1987) e Genoa 2001. A sua próxima presidencia sera em 2009.
Área: 301,318 kmPopulação: 57.5mCapital: Roma Língua oficial: ItalianoMoeda: Euro (€) = 100 Euro
Representante de Estado: President Carlo Azeglio CiampiPrimeiro-ministro: Silvio Berlusconi

Canadá
O Canadá esteve na presidencia em quarto ocasiões.
Halifax (1995), Toronto (1988), Ottawa (1981) e Kananaskis em 2002.
A sua próxima presidencia será em 2010.
Área: 9,984,670 milhões kmPopulação: 31.49 milhões (em Outubro de 2002)Capital: OttawaLínguas oficiais: Inglês e Francês
Moeda: dólar canadiano = 100 CentsRepresentante de Estado: Queen Elizabeth II, representado por Governor General Adrienne ClarksonPrimeiro-ministro: Paul Martin

União Europeia

A União Europeia é constituída por 27 estados-membros.

São eles a Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia, Portugal, República Checa, Reino Unido e Suécia.

A UE é representada pelo Presidente da Comissão Europeia, actualmente, José Manuel Barroso, no G8 e, também, pelo Presidente do Conselho Europeu.
O Conselho Europeu representa todos os estados-membros.

G8 Líderes
Os representantes do G8 são a França, os EUA e a Russia. Os restantes países são por si representados.

G8 Leaders:
Tony Blair
Jacques Chirac
Vladimir Putin
Gerhard Schröder
George W Bush
Junichiro Koizumi
Silvio Berlusconi
Paul Martin
José Manuel Barroso

Conclusão

A organização internacional do G8 é uma das organizações que mais passam despercebida no panorama mundial. Quem sabe, devido pelo seu carácter informal.
No entanto, não deixa de fazer sentido uma organização deste tipo, onde os valores e a união do grupo podem, de facto, fazer a diferença.
E, por serem, precisamente, países ricos e altamente industrializados, eles têm a possibilidade de ajudar os países mais pobres, a fim de diminuir o fosso que separa os países desenvolvidos dos em vias de desenvolvimento e que tantas guerras causam.
Contudo, será o suficiente?!

domingo, maio 20, 2007

AVISOS!

AVISAM-SE os alunos do 3º Ano de Comunicação Social [finalistas de Bacharelato] que irão fazer defesa de Monografia, na próxima sexta-feira que deverão estar no Auditório da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes pelas 9 horas. O suporte técnico (data show) deverá ser requisitado o quanto antes. As defesas de Monografia não poderão exceder os 20 minutos; após a exposição decorrerá a fase de perguntas pela orientadora da Cadeira, Dr.ª Raquel Botelho.
A apresentação das monografias terá sala aberta, pelo que os interessados poderão dirigir-se até ao Auditório da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, pelas 9 horas da manhã no dia 25 de Maio. As monografias que vão ser apresentadas:
* "Impacto Floribella" - Ângela Filipe
* "11 de Setembro: Teorias Conspiratórias e os Meios de Comunicação Social" - João Oliveira
* "Comunicação direccionada: A Imprensa homossexual portuguesa" - Tiago Lopes
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Na Terça-feira (22 de Maio) a aula de História das Instituições ministrada pelo Dr. Manuel Monteiro irá manter-se no horário regular (14h30 as 16h30, Auditório), ficando por isso sem efeito a reposição marcada para a Quarta-feira (23 de Maio). O grupo de trabalho que tem o trabalho sobre o Governo para apresentar [João Oliveira, Nelson Ferreira, Vera Inácio] deverá ter com conta este aviso.
Após conversa com o decente Dr. José Soudo, podemos avançar já que a frequência de Fotojornalismo foi alterada. Irá ser feito um teste, em período de aula, que irá somar a sua avaliação aos trabalhos realizados pelos alunos, ficando por isso a frequência sem qualquer efeito. O exame, exame de recurso e exame de trabalhador-estudante não contam com qualquer tipo de alteração.
Até ao final de Maio terá que ser entregue, no âmbito da cadeira de Psicossociologia da Comunicação, ministrada pelo Dr. Alves Jana, um trabalho de cinco páginas, com as formatações combinadas em sala de aula, sobre "Percepção, Motivação e Liderança na Comunicação Social" , utilizando os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula.
Relembro a turma de 3º Ano que as apresentações dos trabalhos de História Diplomática Portuguesa [cadeira ministrada pelo Dr. Fernando Larcher] deverão continuar a ser feitas, às quintas-feiras, uma vez que a dispensa de apresentação oral implica uma redução da nota final global do trabalho.
Na próxima Segunda-Feira, dia 28 de Maio, realizar-se-á a ficha de Atelier de Comunicação I, módulo de Língua ministrado pela Dr.ª Sandra Barata. Os trabalho não contarão na avaliação da frequencia, mas contarão na avaliação final global. A ficha será essencialmente prática!
O Representante de Turma,
Tiago Lopes

Imprensa Desportiva (Atelier de Comunicação I)

Aqui está, como prometido, o trabalho sobre a Imprensa Desportiva da autoria do Nelson Ferreira e do João Oliveira. Relembro, a quem não tiver entregue o seu trabalho, que a publicação no blog serve exclusivamente para auxílio dos colegas. Ajudar não custa. Boa sorte para todos.
O Representante de Turma,
Tiago Lopes
Introdução

No âmbito da cadeira de “Atelier de Comunicação I” foi-nos proposto o estudo e análise de vários tipos de publicações. Optámos por elaborar um trabalho sobre as publicações desportivas existentes no mercado nacional: A Bola, O Jogo e o Record. Além destes três jornais, foi feita também uma análise a uma revista do segmento: Futebolista.
A escolha deste tema deve-se, fundamentalmente, ao facto do desporto gerar uma multiplicidade de sentimentos e emoções e por despertar o interesse de milhares de pessoas, o que coloca estas publicações no “top” de vendas de jornais a nível nacional. Abordámos igualmente o novo jornal desportivo gratuito Diário Desportivo, e tentámos clarificar qual a sua importância e que impacto poderá ter no mercado, e sobretudo, como devem os jornais desportivos pagos responder a este novo desafio.
O perfil do leitor/público-alvo destas publicações serão também abrangidos nesta análise, assim como serão expostas duas teorias que explicam o motivo pelo qual as pessoas “recorrem” aos jornais desportivos, em detrimento de outros jornais.
A importância das capas e dos títulos na imprensa desportiva e os mecanismos de persuasão utilizados neste tipo de imprensa, destinados aos leitores, foram também objecto de análise.

Análise dos Jornais Desportivos

A Bola

O jornal A Bola, é um diário desportivo, que apresenta um formato A3 (broadsheet). Acompanha toda a actualidade desportiva diária, incluindo cobertura de eventos, de campeonatos de diversas modalidades, ou seja, todo o tipo de eventos e provas desportivas realizadas no nosso país e a nível internacional.
Efectuando uma análise pelas secções do jornal, ficamos a perceber de uma forma mais clara o tipo de notícias que podemos encontrar nas diferentes secções do jornal. Ao abrirmos o jornal deparamo-nos de imediato com as últimas notícias da Liga Portuguesa de Futebol, seguida de uma secção em que é prestada uma especial atenção à actualidade diária dos três grandes portugueses (Benfica; Sporting; F.C. Porto). Após as notícias dos três grandes portugueses, situam-se as notícias e a actualidade das restantes equipas da Primeira Liga. À medida que nos aproximamos das páginas finais, encontramos uma secção dedicada ao futebol internacional, em que é dada especial atenção às principais ligas do futebol europeu e mundial. Nas últimas páginas do jornal encontra-se também uma secção dedicada a vários desportos, onde a cobertura é menos elaborada, sendo em média uma página dedicada a cada desporto.
Neste diário existe igualmente uma ou duas páginas dedicadas à opinião, em que diariamente diferentes colunistas expõem os seus pontos de vista e opinam sobre vários temas da actualidade desportiva. Nesta secção além do trabalho dos jornalistas é também habitual por vezes a presença de antigos jogadores de futebol, e figuras conhecidas a nível nacional que estão ligados ao desporto, que dão a sua opinião e análise sobre as últimas competições.
A presença de publicidade é quase nula, à semelhança dos outros jornais desportivos como o Record e O Jogo (apesar de terem publicidade, esta também não surge com muita frequência). Uma das poucas publicidades visíveis, está relacionada com a transmissão de jogos na SPORTV, que aparece geralmente nas capas dos jornais, em forma de rodapé.
O jornal A Bola caracteriza-se por um bom uso de fotos e de cores nas respectivas notícias e reportagens. Utiliza títulos fortes, de fácil compreensão e apelativos para chamar a atenção do leitor. Geralmente, cada notícia é acompanhada pela respectiva foto, que possui um tamanho considerável.
É sem dúvida importante termos em atenção o facto de nos dias antes e após de decorrerem jogos da liga portuguesa, ser feita uma cobertura muito extensiva, em especial dos “três grandes portugueses”, mas também das restantes equipas, em que é avaliado o trabalho dos jogadores, treinadores, e equipa de arbitragem. Em semanas de jogos das competições da UEFA, é de realçar as páginas dedicadas à sua cobertura, e em especial aos jogadores portugueses a actuar no estrangeiro.
No método de avaliação, a pontuação dada a cada jogador, varia numa escala crescente, de 0 a 10. A acompanhar a nota destinada a cada jogador surge sempre, um comentário sobre a exibição de cada jogador, nos jogos que decorrem semanalmente na Liga Portuguesa de Futebol.
Analisando a cobertura dada à liga portuguesa de futebol, o jornal A Bola tem ainda todos as semanas os rankings dos melhores jogadores de cada jornada, os mais regulares de toda a liga, o melhor guarda-redes, os melhores goleadores, o melhor árbitro, a taça disciplina, ranking que é actualizado semanalmente, após a jornada terminar. São também eleitos a figura, o goleador, e o destaque da jornada, em jeito de balanço da jornada.

Record

O jornal Record é um diário desportivo que apresenta um formato tablóide, de fácil manuseamento. Grande parte do jornal, tal como acontece na maioria dos diários desportivos é dedicada ao futebol. A atenção recai nas equipas da Primeira Liga Portuguesa, sobretudo os denominados “3 grandes”. É feita uma cobertura intensiva às jornadas da liga portuguesa que normalmente se realizam aos fins-de-semana, desde artigos de opiniões sobre a jornada, à análise detalhada de alguns lances polémicos ocorridos durante os jogos. Também se procede à recolha de depoimentos de figuras ligadas ao futebol para analisar/responder a algumas questões relacionadas com um determinado jogo.
Existe igualmente um espaço com o nome “Clube de Fãs”, onde adeptos de um dos três grandes (figuras públicas) fazem um breve comentário sobre o último jogo da sua equipa. Os árbitros também são avaliados pela sua exibição, podendo ir a sua nota de 0 a 5, assim como os jogadores, sendo usados os mesmos critérios de avaliação. Como já foi realçado, existe sempre um maior destaque conferido aos três grandes (Sporting, Porto e Benfica), pois os seus jogos são sempre analisados mais detalhadamente, assim como a exibição dos seus jogadores.
Curioso é o facto de após a secção que abrange a Primeira Liga Portuguesa surgir a secção de “Internacional”, que em média possui 3 páginas por edição, e não a secção que aborda a Liga de Honra, vulgo 2ª divisão portuguesa de futebol (em média 2 a 3 páginas). Esta distribuição não deixa de ser atípica pois, faria mais sentido que a secção de “Internacional” surgisse após se ter concluído todo o panorama futebolístico nacional. Porém, pode também ser entendido que o jornal pretende em primeiro lugar dar destaque à liga principal nacional e às ligas principais europeias, e só depois abordar as divisões inferiores. Não deixa de ser contudo um aspecto que possa ser objecto de algum debate.
A seguir à secção “internacional” continua a ser abordado o futebol, nomeadamente, as divisões inferiores (segunda e terceira divisão), não excedendo também uma página. É também apresentando um espaço intitulado “Tudo num minuto”, onde surgem algumas breves sobre as equipas que disputam os campeonatos das divisões inferiores. Posteriormente, surgem as páginas dedicadas a outras modalidades, entre as quais ciclismo, ténis, basquetebol, automobilismo, hóquei em patins, voleibol, que no seu total não excedem as 5 páginas, contendo também para a maioria das modalidades, um artigo de opinião, ou uma análise feita por uma pessoa relacionada com essa modalidade, assim como há o espaço atrás referido “Tudo num minuto”, onde se incluem pequenas breves sobre as diversas modalidades. Pelo meio surge uma página dedicada aos classificados.
À medida que nos aproximamos das páginas finais do jornal, surge uma página dedicada à opinião, desde frases enviadas por leitores a comentários feitos por alguma personalidade que comenta as derradeiras notícias que abrangem (sobretudo) o futebol. Existe também uma página intitulada “Off the Record”, que utiliza os últimos acontecimentos desportivos nas diversas modalidades, usando sobretudo a ironia e algum sentido de humor. Dedica igualmente uma página às mais recentes notícias nacionais e internacionais, onde não se inclui notícias desportivas. Apresenta também uma página intitulada “O Jogo da Vida” que incide em aspectos da vida social (e privada) de algumas figuras conhecidas do público (nacionais e internacionais).
As últimas duas páginas que compõem este diário desportivo ocupam-se da programação e dos destaques televisivos, assim como possuem um espaço denominado “11 perguntas a”, podendo ser actores, cantores, enfim, alguma figura pública que responde a algumas questões. É dado também destaque às últimas notícias (ou notícias de fecho) sobre as diversas modalidades. Na contracapa do jornal surgem dois artigos de opinião, o “indispensável” cartoon, uma última notícia, e um espaço denominado “medalhas” que podem ser de ouro, prata, bronze e lata, distribuídas por desportistas, clubes ou treinadores que se tenham destacado, tanto pela positiva como pela negativa (por isso existe a medalha de lata).
Quanto a publicidade, o jornal “Record” dedica algumas das suas páginas exclusivamente a publicidade não excedendo, em média, quatro páginas por edição. Realce-se que este diário recorre frequentemente a fotografias para acompanhar as notícias, assim como algumas infografias para dar uma visão mais detalhada (isto é utilizado sobretudo quando se pretende fazer uma análise detalhada de equipas, na antevisão de um jogo).

O Jogo

O Jogo, foi outro dos jornais analisados, e de todos eles é o mais recente, e talvez por isso, seja na categoria dos não gratuitos, aquele que apresenta mais lacunas. Pode considerar-se o mais sensacionalista, ideia que é reforçada pelos títulos utilizados, e pelo teor de algumas das suas notícias.
A forma como as suas secções estão distribuídas, é muito semelhante aos restantes jornais analisados. Ao abrir-mos o jornal deparamo-nos com as últimas novidades da liga portuguesa de futebol, e seguindo a tendência geral dos principais jornais desportivos portugueses, faz uma especial cobertura da actualidade desportiva dos “três grandes portugueses”. As seguintes páginas são dedicadas às restantes equipas da liga portuguesa.
Após a análise da liga portuguesa, segue-se uma secção dedicada à actualidade desportiva internacional, onde é prestada especial atenção às principais ligas europeias, e também aos jogadores e treinadores portugueses a actuarem no estrangeiro. A distribuição das secções do jornal o Jogo é muito semelhante à do jornal A Bola, reservando igualmente para as últimas páginas uma análise das restantes modalidades, dedicando em média uma página a cada modalidade. Apresenta uma paginação que foi reformulada recentemente, o que lhe confere um estilo moderno e inovador.
Apresenta alguma publicidade, um pouco mais do que os outros jornais já analisados, mas acaba por não se distanciar muito dos “moldes” utilizados nas outras publicações.

A Importância das Capas e dos Títulos na Imprensa Desportiva

A utilização de capas e títulos apelativos na imprensa desportiva é muito importante, pois como sabemos as capas e os títulos fazem vender, e são uma das principais formas para seduzir o leitor; é o modo como o produto é apresentado. É baseado nesta ideia que a maioria dos jornais utilizam diariamente títulos fortes e apelativos.
Nos três jornais (A Bola, O Jogo e o Record) que referimos na nossa análise à imprensa desportiva, O Jogo é talvez o mais sensacionalista e o menos criativo, na medida em que utiliza na maioria das vezes, uma foto em grande plano, e apenas dois ou três pequenos destaques. A Bola e o Record apresentam as suas capas de forma distinta do jornal O Jogo. São mais criativos, isto é, conseguem colocar mais informação, mais destaques, e abrangem mais temas (ver anexos). Ambos fazem um melhor aproveitamento do espaço, dando mais informação ao leitor, aproveitando o espaço de cabeçalho e rodapé para fazerem referências a mais notícias presentes no jornal.
Fazendo um balanço no que concerne às capas, O Jogo fica um pouco atrás, em termos de qualidade e criatividade, dos restantes jornais analisados, e com base na análise efectuada, investe muito numa imagem forte que ocupa grande parte da página, que por vezes pode ser muito bom, visto que chama atenção do leitor, mas de outro ponto de vista, pode ser negativo, pois foca-se mais numa notícia em detrimento de outras igualmente importantes, que por vezes não são sequer referidas. Pelo contrário, os restantes jornais fazem uma gestão mais cuidada dos temas que devem fazer a capa, de forma a não deixar temas importantes de fora.

A Imprensa Desportiva Portuguesa

A imprensa desportiva portuguesa é uma área em permanente desenvolvimento e evolução diária. Os principais jornais desportivos (A Bola; Record; O Jogo), apresentam um elevado número de vendas diariamente. No entanto, mesmo que queiramos revelar qual o líder de vendas, não é fácil, pois a especulação é elevada, não sendo possível quantificar (nunca é consensual) qual o jornal que apresenta um maior número de vendas. Em algumas estatísticas, A Bola aparece como líder, seguida do Record enquanto O Jogo ocupa a derradeira posição. Por vezes, noutras estatísticas, o primeiro lugar é atribuído ao Record, e só de seguida aparece A Bola. Quanto ao diário O Jogo parece não existir dúvidas, pois surge novamente no terceiro lugar. É necessário termos em atenção que para se efectuar uma análise mais correcta e precisa, teríamos que ter em conta, a diferente tiragem dos jornais, nas diferentes zonas do país, assim como os diferentes perfis do leitor. Mas, no entanto, apesar das dúvidas, sabe-se claramente quais os jornais que neste momento disputam o primeiro lugar, no que concerne ao número de vendas realizado.
As tiragens dos jornais são afectadas por inúmeros aspectos. A nossa imprensa sofre de um fenómeno denominado por alguns como “falta de imparcialidade”, e por outros como “clubite”, em que os jornais, e na maioria dos casos os seus profissionais, são acusados de registarem algumas preferências por alguns clubes, e nutrirem antipatia por outros.
Com esta desconfiança, a principal derrotada é a imprensa desportiva, pois de certa forma, é posta em causa a verdade desportiva e a tão falada questão da “imparcialidade jornalística”, que muita tinta tem feito correr, no que diz respeito à actualidade desportiva. Refira-se que estes fenómenos atrás referidos são por vezes tão evidentes, que levam a que os leitores escolham os jornais, usando o critério de que “aquele é o que mais defende os interesses do meu clube, por isso compro este e não aquele que é do Benfica, do Porto, ou do Sporting”.
Em suma, a imprensa desportiva assume vital importância para todos os seguidores do fenómeno desportivo, principalmente do futebol. Como é do conhecimento geral, o futebol é uma modalidade que “arrasta” multidões, e que tem em todo o mundo milhões de seguidores. É neste contexto que a imprensa desportiva é fulcral, pois permite que esses milhões possam seguir diariamente as notícias sobre os seus clubes. Esta importância reflecte-se no número de jornais desportivos que são vendidos diariamente. Os diários desportivos são dos jornais mais vendidos a nível nacional, preenchendo assim as necessidades de milhares de pessoas.
Para concluir, refira-se que a linguagem utilizada neste tipo de imprensa só é perceptível para aqueles que acompanham diariamente as diferentes modalidades. Existem palavras utilizadas na “gíria” que pode dificultar a leitura dos jornais desportivos a um leitor que não siga frequentemente os fenómenos desportivos. Todos os jornais desportivos utilizam o mesmo tipo de linguagem.

Mecanismos de Persuasão para o Leitor

Outro ponto de análise curioso é o uso de mecanismos de persuasão destinados ao leitor. Os jornais optam por diferentes estratégias para persuadirem a atenção do leitor. São várias as ofertas conhecidas, desde autocolantes, canetas ou porta-chaves com os respectivos símbolos do clube. Outra forma de persuasão é a distribuição de uma revista ao fim de semana por parte do jornal Record, e O Jogo. No caso de Record, ao Sábado, surge conjuntamente com o jornal uma revista, de carácter igualmente desportivo, enquanto que no jornal O Jogo surge uma revista aos Domingos. Essas revistas tratam também da actualidade desportiva, e contêm ainda entrevistas e reportagens sobre figuras ligadas ao desporto, assim como fazem cobertura a diversos eventos.
Esta aposta pode ser encarada como mais uma tentativa de captar a atenção do leitor, que ao fim-de-semana tem a possibilidade de, além de ler o jornal, ter à sua disposição uma revista que aborda o futebol, e que tal como é referido na gíria, um pouco daquilo que se passa fora das quatro linhas. Isto é sem dúvida uma boa estratégia, que peca pelo facto de nos dias em que os jornais trazem as respectivas revistas, serem um pouco mais caros, e não existir a possibilidade de comprar somente o jornal. Assim sendo, o leitor mais fiel e que ache que se justifica pagar um pouco mais pelo jornal e pela revista, comprará o jornal tal como faz habitualmente. Para o leitor que não partilhe a mesma opinião, irá comprar outro dos jornais que se encontram disponíveis diariamente.
O jornal A Bola não segue pelo mesmo diapasão, trazendo apenas em algumas épocas do ano alguns fascículos gratuitos, especialmente ao domingo, ou mesmo não sendo gratuitos, possibilita a sua obtenção em separado do jornal.
Depois de analisadas as revistas que surgem como suplemento dos jornais, existe em Portugal outro tipo de publicação desportiva que não é muito falada, mas que aos poucos começa a ganhar o seu espaço entre os leitores da área desportiva. Trata-se da revista Futebolista, revista mensal, especializada no futebol. Todas as suas notícias, entrevistas e reportagens são dedicadas ao denominado desporto-rei. Aposta na mesma estratégia dos diários desportivos, ou seja, faz uma abordagem especial aos três principais emblemas portugueses (Sporting, Porto, Benfica). Mas ao contrário das outras publicações, esta não se prende com análise de jogos e resultados, mas antes, com análise de jogadores que actuam quer no campeonato nacional, quer nas principais ligas mundiais. Isto deve-se ao facto de esta ser uma revista de distribuição mensal, e torna-se pouco lógico fazer uma análise de jogos.
É uma revista com um design e uma paginação muito agradável, com um estilo moderno e com cor em todas as páginas, o que torna a publicação apelativa para o leitor. Utiliza fotos muito ilustrativas, como complemento das várias peças existentes ao longo da revista.
Numa análise geral, trata-se de uma boa revista, com temas fortes. Nas suas várias edições, faz a análise dos principais jogadores internacionais, tem uma secção de breves, em que são expostas várias curiosidades, todas elas ligadas ao desporto-rei, inclusive sobre antigas figuras ligadas ao futebol, que agora estão longe dos principais palcos. Tem vários artigos de opinião, onde são abordadas várias temáticas, que muitas vezes são pouco referidas, tais como: estatísticas dos campeonatos; jovens jogadores, muitos dos quais não são ainda conhecidos pelo público.
Tem também uma secção em que são postos à prova os principais videojogos de futebol que saem para as várias consolas existentes no mercado, e para computador, para além de abordar alguns materiais novos na área da tecnologia e da comunicação, tais como, telemóveis, câmaras fotográficas, entre outros.
Esta é sem dúvida uma publicação que funciona como uma “lufada de ar fresco” no mercado da imprensa desportiva no nosso país, pois trata-se da única revista do género (dedicada exclusivamente ao futebol). Esta revista tem igualmente uma área em que as páginas são posters (fotografias que ocupam a página toda) das estrelas actuais do futebol nacional e internacional.
Já atingiu a marca das 20 edições, o que prova a grande aceitação que está a ter por parte dos leitores. Ao seguir os mesmos moldes que segue actualmente, poderá futuramente vir a ocupar uma posição ainda melhor na imprensa desportiva portuguesa. Apesar de na análises dos jornais desportivos não termos referido o preço, vamos aqui referir o preço da revista Futebolista, uma vez que é um preço extremamente acessível, para uma revista mensal. O preço desta revista está actualmente fixado em 1.95€.

Embate entre os pagos e os gratuitos

Surgiu há pouco tempo o Diário Desportivo, jornal diário que incide sobre a actualidade desportiva e tem a particularidade de ser gratuito. Resta agora saber como vai decorrer o embate, entre este jornal gratuito e os restantes que são pagos.
É o primeiro jornal desportivo gratuito, que será lançado numa primeira fase nas zonas de Grande Lisboa e Porto e, posteriormente, noutras cidades do país. A grande novidade será a sua distribuição nos estádios de futebol, nas companhias aéreas, em hotéis e nos bancos. O objectivo é "fazer um diário sobre todas as modalidades desportivas" e não apenas de futebol, segundo disse o director desta publicação – o jornalista Fernando Correia – responsável pelo programa “Bancada Central” da TSF, em declarações prestadas à agência Lusa.
O aparecimento do Diário Desportivo, que ainda é uma publicação recente poderá futuramente vir a marcar uma viragem no sector da imprensa desportiva, na medida em que o leitor poderá ler a actualidade desportiva de uma forma gratuita em detrimento dos principais diários desportivos não gratuitos, líderes de venda no nosso país.

Como irá reagir o leitor à possibilidade de ler a actualidade desportiva de forma gratuita?

Temos que ter em atenção que os jornais gratuitos, apenas estão disponíveis nas grandes metrópoles, o que significa, desde logo, que só está disponível para um limitado número de leitores. A confirmar-se o alargamento da sua distribuição e desenvolvimento a outras áreas do país, como será que os principais diários desportivos, que analisamos anteriormente, irão reagir a este desafio? Qual o impacto que as publicações desportivas gratuitas irão provocar nos diários desportivos pagos?
O surgimento do Diário Desportivo é bom para a imprensa desportiva, pois permite aos leitores alargar o seu leque de escolhas. O Diário Desportivo, ao ter como objectivo “ser um diário sobre todas as modalidades desportivas”, torna-se igualmente uma opção válida para o tipo de leitor que não está somente interessado no futebol, mas procura também manter-se a par da actualidade das outras modalidades.
É importante referir que o tipo de leitor deste tipo de publicação se diferencia em alguns aspectos do tipo de leitor das restantes publicações. Este será um jornal que se destina a um determinado tipo de leitor, que procura um jornalismo mais directo, com uma cobertura menos extensiva, mas, ao mesmo tempo, mais abrangente. Mesmo pelos locais em que é distribuído (estádios de futebol, nas companhias aéreas, em hotéis e nos bancos, metro, estações de comboio, etc.), tem que se estabelecer uma diferente estratégia entre os jornais não gratuitos, para captar a atenção do leitor. Mas, se a sua distribuição for alargada para todas as zonas do país, a importância do Diário Desportivo, poderá aumentar em larga escala, pois dessa forma, o leitor que apenas procura uma síntese da actualidade diária, ao poder obtê-la de forma gratuita, poderá abdicar de comprar um diário desportivo pago. Fica no entanto a dúvida, que apenas será respondida com o desenrolar do tempo.
Dependo também do sucesso ou insucesso do Diário Desportivo, pode-se originar a criação de mais jornais desportivos gratuitos, o que poderia afectar largamente as vendas e tiragens dos jornais não gratuitos. Outro das preocupações que os principais jornais desportivos podem vir a ter, é se se confirmar a recente tendência dos leitores, que demonstram cada vez mais interesse por outros desportos, sem se interessarem unicamente pelo futebol. Isto poderá originar a que futuramente os diários desportivos pagos procedam à reestruturação das suas estratégias e adaptar os seus conteúdos à nova realidade.

Mecanismos de evasão e a imprensa desportiva

Teoria de Jean Stoetzel

As teorias que aqui são expostas explicam, de certa forma porque é que as pessoas recorrem à imprensa no geral, e à imprensa desportiva em particular. Através destas teorias, é possível compreender porque é que este género de publicações é importante para as pessoas.
Jean Stoetzel defende que a imprensa possui não só o privilégio da transmissão da informação e das notícias, como também promove a inserção social dos indivíduos. Esta ideia está sustentada pelo interesse que as notícias despertam nos indivíduos, embora se saiba que este processo varie de indivíduo para indivíduo, mas é indubitável que estas afectam todos os membros constituintes da sociedade, porque as notícias funcionam como o “elo” de ligação dos indivíduos com o mundo.
Igualmente importante é o papel que a imprensa desempenha enquanto factor de distracção e entretenimento para os leitores, que aproveitam os seus tempos livres, independentemente do local onde se encontrem, para ler jornais. É neste contexto que se encaixam os jornais desportivos (os outros jornais também inseriram rubricas de desporto, moda, culinária, entre outras, de modo a satisfazerem esta necessidade dos leitores).

Herta Herzog

Esta teoria de Herta Herzog relata-nos outra função desempenhada pela imprensa. Em específico, esta teoria assenta no pressuposto de que através da imprensa, nomeadamente através de notícias sobre a vida privada das figuras públicas, as pessoas se identificam com estas e criam uma espécie de “intimidade”. Contudo, esta intimidade é artificial. De seguida, esta teoria demonstrará porque é que é importante existir esses tipos de notícias para os leitores.
Como foi referido, Herta Herzog desenvolveu e identificou uma outra função da imprensa. Esta função relaciona-se com o conhecimento de pormenores da vida íntima de personalidades conhecidas, através dos jornais, que “criam uma suposta intimidade artificial (que na realidade não existe) na nossa vida quotidiana, que gradualmente tende a tornar-se numa espécie de substituto das relações primárias grandemente esbatidas pela sociedade de massa e pela diluição dos laços sociais”[1]. Por outro lado, “ a leitura de notícias relativas a escândalos, crimes ou assaltos permite a libertação de numerosas tendências quer biológicas, quer culturais recalcadas pela vida em sociedade”[2].
No panorama desportivo existem alguns casos, que de algum modo se podem encaixar nestes aspectos atrás referidos. Veja-se o escândalo do “Apito Dourado” que tanta polémica tem desencadeado no futebol português, e que preencheu diversas vezes as capas dos diários desportivos, assim como o livro “Eu Carolina” onde a ex-mulher de um presidente de um grande clube português, Jorge Nuno Pinto da Costa (F.C.Porto), conta alguns pormenores da vida íntima do presidente, nomeadamente dos tempos em que esta manteve um relacionamento amoroso com o mesmo. À primeira vista seria um livro que poderia não interessar, mas a verdade é que foi um êxito de vendas, figurando durante algumas semanas no “top 10” dos livros mais vendidos a nível nacional. Através destes casos, as pessoas procuram exercer um papel activo e determinante na sociedade, onde se posicionam e protestam, nem que seja imaginariamente. Deste modo, a imprensa desportiva, e tudo o que rodeia o desporto, desempenha uma importante tarefa: satisfaz necessidades reais dos leitores.

Perfil do leitor deste tipo de imprensa

Todos os jornais estabelecem previamente qual o público-alvo a que se pretendem dirigir. Os jornais desportivos não fogem à regra, e como tal, têm também um público-alvo definido, embora esta seja uma área que tem leitores muito diversificados, em que não podemos definir que seja dirigido a público entre a idade X e a idade Y.
Os jornais desportivos dirigem-se a todos os amantes do desporto em geral. É consensual que a grande maioria dos leitores procuram essencialmente uma modalidade: futebol. É difícil estabelecer um estereótipo de leitor, pois não existe uma faixa etária específica, no entanto, é comum que a maioria dos jovens estudantes sejam espectadores atentos da actualidade desportiva diária. O desporto é seguido por pessoas de todas as idades e de ambos os sexos. Como o futebol é o considerado o “desporto-rei”, talvez o interesse do género masculino se destaque neste tipo de publicações. No entanto, é importante referir que as tendências têm vindo a alterar-se nos últimos anos. É visível o crescente interesse por parte do público feminino, quer pelo futebol, como também pelas restantes modalidades. Esta tendência pode ser justificada com o facto de nos jornais desportivos, tal como já referimos anteriormente, se ter alargado e desenvolvido a cobertura das várias modalidades, alargando deste modo o público-alvo, pois não se foca apenas no futebol.
Actualmente já começam a aparecer grandes destaques e coberturas de eventos de desportos que anteriormente apareciam muito pouco na imprensa desportiva. Um claro exemplo que prova esse desenvolvimento na cobertura de outras modalidades que não o futebol, é o aparecimento e o destaque que é conferido a atletas como Vanessa Fernandes (triatleta portuguesa, actual campeã europeia), Ticha Penicheiro (basquetebolista portuguesa a actuar na WNBA), e até há bem pouco tempo, a Tiago Monteiro, piloto português que competia no mais importante campeonato de automobilismo mundial, a Fórmula 1.

Perspectivas de Evolução Futura

A imprensa desportiva portuguesa, em nossa opinião, tem o futuro garantido no nosso país. Está num processo permanente de desenvolvimento e evolução, quer ao nível da abordagem das temáticas, quer ao nível do público. A imprensa desportiva conta com um ajuda preciosa, que é o facto do desporto mover multidões, principalmente o futebol, que acima de todos os desportos, é o que vende mais.
Como lacunas da imprensa desportiva portuguesa, podemos apontar o facto de, até à data, estar demasiado centrada no futebol, e nos três principais clubes portugueses (Sporting, Porto e Benfica), sendo habitual encontrar-mos um grande número de páginas dedicados a cada um deles, e em que nos dias antes dos embates mais decisivos, se deparamos com o mesmo tipo de manchetes e capas, em que todas abordam os mesmos jogos. Felizmente, e para benefício do pluralismo jornalístico, começamos já a assistir a uma crescente preocupação por parte dos jornais desportivos de abordar a actualidade desportiva das diversas modalidades, quer a nível nacional quer internacional. O número de entrevistas e reportagens de modalidades que usualmente são menos divulgadas, também começam a aumentar gradualmente, acentuando a preocupação e a atenção dispensadas pelos diários desportivos a estas temáticas.
Outra questão fundamental para os diários desportivos resolverem no futuro, prende-se com a ligação que eventualmente cada jornal tem com um determinado clube. Este factor é desprestigiante para o jornalismo, pois um dos princípios basilares do jornalismo é a imparcialidade. Se houver imparcialidade nestas publicações, estas adquirem maior credibilidade e respeito por parte do público, e evitam desconfianças por parte dos leitores. Caso contrário, continuarão a existir dúvidas relativamente à verdade desportiva, e a credibilidade de cada jornal desportivo será sempre posta em causa. Deste modo, seria extremamente positivo existir um maior esclarecimento das políticas editoriais de cada jornal, para acabar com este “clima” de suspeições que diariamente é alimentado por todos os que seguem atentamente a actualidade desportiva.
Contudo, parece-nos de elevada dificuldade que alguma vez se possa afastar este “clima” de suspeições. O desporto no geral, e o futebol em particular, gera muitas emoções, e por vezes os sentimentos misturam-se com a razão, criando fortes obstáculos a um jornalismo desportivo sério, credível, respeitado, e sobretudo isento.
Porém, fica a dúvida de que até que ponto os jornais desportivos não preferem alimentar a possibilidade de haver algum tipo de simpatia por determinado clube, e antipatia por outros..? Existindo ou não, os jornais nunca pareceram muito preocupados em esclarecer se existem “lobbies” que influenciem directamente as suas linhas editoriais. É um pouco estranho, nunca se debater este aspecto que é tão falado. Deveria existir uma maior clareza e abertura por parte dos jornais em debater este assunto, na tentativa de acabar com este clima de suspeição. Com esta iniciativa, a imprensa desportiva seria a grande beneficiada.
Por último, acrescente-se que é de todo expectável que nos próximos anos a imprensa desportiva continue a figurar no “top” de vendas a nível nacional, como resultado da importância que as modalidades, o futebol em particular, têm na sociedade portuguesa.

Conclusão

Com a elaboração deste trabalho, pretendeu-se, em primeiro lugar, realçar a importância que a imprensa desportiva e o desporto têm na sociedade nacional. Quem não se lembra do Euro 2004 realizado em Portugal? Nunca fora visto em ano algum tão grande mobilização e união entre todos os portugueses. Durante um mês não se falou de outro assunto a não ser a selecção nacional. Este evento demonstrou quão importante um desporto pode ser para um país e como pode “afectar” o dia-a-dia de uma pessoa.
Procurámos dar a conhecer um pouco mais a realidade desportiva, os principais desportos abordados na imprensa desportiva, assim como projectar o embate entre os jornais desportivos pagos e o novo jornal desportivo gratuito. Analisados os três jornais desportivos, verifica-se que todos eles optam pela mesma estratégia, isto é, conferem maior destaque ao futebol, em detrimento das restantes modalidades.
Relativamente ao tipo de leitores deste tipo de imprensa, normalmente são pessoas do género masculino, embora como foi referido anteriormente, exista um crescente interesse por parte do género feminino por este tipo de imprensa e pelas diversas modalidades. Na generalidade, o desporto é seguido por pessoas de todas as idades.
A evolução futura deste segmento foi igualmente abordada. Os jornais desportivos são das publicações que mais vendem diariamente, e prevê-se que esta propensão continue a existir nos anos que se seguem, devido a múltiplos aspectos que já foram referenciados neste trabalho, tais como: o uso do desporto como mecanismo de evasão e de entretenimento que vem satisfazer necessidades das pessoas; o facto de gerar diversos sentimentos e emoções.
O facto de despertar tantas emoções e sentimentos que por vezes se sobrepõem à razão, é também um dos factores que provocam tantos conflitos no desporto, especialmente no futebol. A este propósito demonstrou-se neste trabalho como o fenómeno da “clubite” pode colocar sérios entraves a que se pratique um jornalismo desportivo isento e imparcial.

Bibliografia:

► HERZOG, Herta, "What do We really know about daytime serial listeners", in LAZERSFELD, Paul, STANTON, Frank, "Communication Research", Nova Iorque, Duell Sloan an Pearce, 1944
► Várias edições dos seguintes jornais: Record, A Bola e O Jogo
► Várias edições da revista Futebolista

[1] HERZOG, Herta, "What do We really know about daytime serial listeners", in LAZERSFELD, Paul, STANTON, Frank, "Communication Research", Nova Iorque, Duell Sloan an Pearce, 1944

[2] op.cit. p. 3-33

sábado, maio 19, 2007

Imprensa Cultural (Atelier de Comunicação I)

Aqui está o trabalho sobre Imprensa Cultural Portuguesa da autoria de Tiago Lopes e Angela Filipe. O trabalho sobre Imprensa Desportiva será publicado brevemente. Para todos os que entregaram as monografias boa sorte para as defesas orais. Em breve terão notícias minhas.
O Representante de turma,
Tiago Lopes
INTRODUÇÃO

Cultura: 1.) “Primeira fonte de criação de riquezas, último obstáculo à equivalência geral de mercadorias[1]”. 2.) “A produção e circulação de sentido, significado e consciência[2]”. 3.) “Conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes[3]”. 4.) “Conjunto de estruturas sociais, religiosas, etc., das manifestações intelectuais, artísticas, etc., que caracteriza uma sociedade[4]”.
Quando um conceito permite uma pluralidade de explicações, tão diferentes quanto correctas é porque estamos perante um microcosmos de significações, interligadas em torno desse termo. É esse tipo de vida eclética que preenche o termo Cultura. A Cultura é tudo o que se escreveu em cima, e mais ainda. Ora se a Cultura representa uma vastidão temática desta dimensão, o que dizer da Imprensa que versa temas culturais?
A Imprensa Cultural Portuguesa é um dos segmentos de mercado mais polémicos, desde o seu surgimento. Para muitos é um segmento infrutífero, onde os investimentos representam sempre prejuízos. É uma área “morta”, sem esperanças de ressurreição. Mas há quem defenda a manutenção da Imprensa Cultural. Há ainda os que dizem estarmos perante uma transformação positiva da Imprensa Cultural.
Afinal o que é a Imprensa Cultural? Qual o seu verdadeiro papel? Será a sua manutenção possível? Quais as perspectivas de evolução? É a Imprensa cultural uma forma de cultura? Ou simplesmente jornalismo? É sobre estas questões que este trabalho se debruça; numa pequena viagem pelos meandros de um segmento de Imprensa, tão polémico quanto desconhecido. Aperte o cinto e boa viagem.

v MERCADO DA IMPRENSA CULTURAL

A Imprensa generalista portuguesa actual parece ter uma espécie de “medo” em publicar notícias relacionadas com Cultura. Ao folhear um jornal facilmente nos deparamos com secções culturais remetidas para as páginas do fundo, com poucos caracteres disponíveis por cada notícia. Há a ideia instalada de que a Cultura não vende em Portugal, mas a verdade é que nunca nenhum jornal generalista tentou fazer capa com um tema Cultural.
Na Imprensa especializada, que é para muitos especialistas em Comunicação Social o futuro da Imprensa, o panorama não é mais animador. A Imprensa especializada que mais vende é a Imprensa desportiva que, num país como Portugal, comporta três jornais diários desportivos e algumas dezenas de revistas, repartidas por alguns desportos como: futebol, automobilismo e motociclismo.
No lugar seguinte surge a Imprensa social, com taxas de penetração de mercado bastante consideráveis. Aliás, a popularidade deste género de imprensa levou os operadores televisivos a criarem rubricas onde se discutem as notícias das revistas deste sector. A chamada Imprensa feminina e a Imprensa masculina ocupam o terceiro lugar, neste ranking de vendas, seguidas de muito perto pela Imprensa juvenil e pela Imprensa dedicada às novas tecnologias.
A Imprensa Cultural é, de entre os vários segmentos que compõem a Imprensa especializada portuguesa, um dos “parentes pobres”, ficando mesmo atrás de publicações como as dedicadas á Vinicultura, ou publicações sobre Viagens e Lazer. O que poderá estar na origem deste afastamento do público em relação à Cultura? Tentemos descortinar uma possível resposta.
Do ponto de vista comercial não podemos estranhar o insucesso destas publicações, uma vez que, na maioria dos casos, as revistas relacionadas com Cultura são remetidas para os escaparates mais altos, ou para os mais baixos, com os quais o consumidor tem um menor contacto ocular. Nas prateleiras “privilegiadas” encontramos as revistas de desporto, as de jogos de computador, as de decoração, as do social. As revistas de Cultura estão quase sempre escondidas e, cada vez mais frequentemente, há casos em que não fazem sequer parte do espólio comercial.
Analisando as campanhas de marketing e publicidade, percebemos claramente a desvantagem abissal em que se encontra a Imprensa Cultural Portuguesa. Não existem grandes investimentos neste sector, senda a publicidade a estes títulos feita mais pelo “boca a boca” e pelas páginas de Internet, que algumas destas revistas possuem.
Se tivermos em conta somente o número de publicações que frisam a temática Cultural então o diagnóstico de “morte antecipada” parecerá um claro exagero. De facto, em Portugal publicam-se mais de quinze títulos de Imprensa dedicados à cultura, o que poderia ser um claro sinal da vitalidade frenética deste sector. Todavia, muitos dos títulos têm uma quota de penetração no mercado baixíssima, sendo sustentados grandemente pela publicidade e por alguns subsídios concedidos pelo Ministério da Cultura, sob a tutela da Ministra Isabel Pires de Lima. A quantidade de publicações não é mais do que uma miragem, num enorme deserto a atravessar.
As publicações mais fortes no mercado português, no que toca à Imprensa Cultural são: revista Os Meus Livros, revista L+Arte, revista Magazine Artes, revista Estética Viva e Jornal de Letras. Este segmento de Imprensa conta ainda com publicações dirigidas a pequenos nichos de mercado, como é o caso da revista Temas, uma publicação dedicada a conteúdos de cariz científico e cultural.
Destas publicações temos que separar, desde já, a revista Estética Viva, já que os seus artigos são dedicados aos profissionais da Moda, especialmente aos maquilhadores e aos cabeleireiros. Contudo, devemos realçar o facto desta revista vender para um público mais alargado do que o seu target. Mesmo assim, quando comparada com outras revistas que versam o tema da Beleza e da Moda, como a Elle, a Estética Viva apresenta um saldo de vendas modesto.
Restam-nos quatro publicações. A revista Magazine Artes não é um contributo significativo à Imprensa Cultural. O formato anómalo desta revista mensal, leva os leitores a confundirem-na com um álbum de fotografias, ou com um banal suplemento de um qualquer jornal generalista. À fraca adesão do público soma-se o elitismo com que a publicação é redigida, como se esta fosse concebida para consumo de um pequeno grupo de “escolhidos”.
Se atentarmos nos conteúdos a Magazine Artes revela-se uma revista relativamente interessante; composta por secções diversas, que revelam preocupações editoriais com a cobertura da temática Cultural; a imagem na revista é extremamente importante, notando-se um cuidado especial com as fotografias. Apresenta contudo inúmeros textos de difícil leitura para o leitor “comum”.
A L+Arte está a ter algumas dificuldades de penetração no mercado, mas se for comparada com a Magazine Artes pode considerar-se já um pequeno sucesso. O seu papel de boa qualidade, as capas apelativas e as suas fotografias espectaculares podem ajudar a explicar as razões deste pequeno “milagre” cultural. A L+Arte fideliza leitores com relativa facilidade, sendo a sua maior dificuldade chegar até junto do público.
O caso de maior sucesso, no campo das revistas, chama-se Os Meus Livros. Mensal, como a grande maioria das publicações deste sector, a revista tem visto o número de consumidores crescer gradualmente, chegando a esgotar edições, o que é um feito importante num país com os hábitos de consumo como Portugal. O sucesso desta publicação explica-se facilmente: capas muito apelativas, uma boa campanha de marketing, artigos interessantes e de leitura fácil.
O êxito da revista Os Meus Livros é verdadeiramente ímpar. Para além da revista, que é considerada um objecto de colecção, a página de Internet também se tem revelado um aposta ganha, com uma média de visitantes diária muito respeitável (acima dos 3.000 visitantes por dia). A revista conseguiu despertar a curiosidade dos Meios de Comunicação regionais e a rádio Antena Miróbriga criou um espaço intitulado Os Meus Livros, transmitido em diferido todas as quartas-feiras às 11h25 e às 17h45 e todos os sábados às 18h30.
No campo dos jornais, a Imprensa cultural conta somente com uma publicação: o Jornal de Letras. Com uma periodicidade quinzenal, foi durante muitos anos a única publicação com relativa visibilidade a debruçar-se sobre a Cultura. O Jornal de Letras é um histórico da Imprensa portuguesa, ao lado de títulos como o Diário de Notícias, o Público ou o Expresso.
O Jornal de Letras goza de um estatuto de credibilidade junto da maioria dos leitores e actualmente ainda é visto como um “passaporte” para se pertencer a um determinado estrato sócio-cultural. Com algumas dificuldades orçamentais, a publicação tem se mantido irredutível e promete continuar a falar de Cultura, enquanto existir, pelo menos, um leitor interessado.
Em suma, o panorama da Imprensa Cultural Portuguesa é heterogéneo, mesmo que no geral a perspectiva seja cinzenta. Os casos de sucesso como a revista Os Meus Livros, ou os casos de credibilidade como o Jornal de Letras deverão ser modelos a seguir futuramente pelos editores das actuais publicações culturais. Ecletismo, boas fotografias, textos simples e variedade noticiosa são algumas das exigências dos leitores que deverão respondidas pelas publicações. A escolha é simples: É agradar ou morrer...

v VISIBILIDADE MEDIÁTICA DA CULTURA

A Imprensa Cultural portuguesa caracteriza-se não só pela sua dificuldade de penetração no mercado, mas também pela sua incapacidade em cobrir todas as áreas que compõem a actual Cultura Portuguesa. A Imprensa Cultural Portuguesa está excessivamente centrada em duas áreas: Literatura e Música.
Uma Imprensa generalista que “atira” para as últimas páginas a Cultura, e uma Imprensa Cultural especializada que “esquece” algumas vertentes culturais nacionais e estrangeiras podem explicar, parcialmente, o actual estado de desapego dos portugueses, em relação às temáticas culturais. As áreas mais lesadas por esta ausência de cobertura mediática e de boas publicações especializadas são: a escultura, a arquitectura e a dança.
1.) Escultura – É verdade que a Escultura é muitas vezes enunciada na revista L+Arte, mas, a maioria das vezes, o surgimento da Escultura está ligada a leilões que se realizaram, ou a grandes exposições, onde o foco central é o artista plástico e não a colecção em si. Na Imprensa generalista a Escultura é notícia quando algum escultor recebe algum prémio, sendo, a maior parte das vezes, uma breve com pouco mais de 700 caracteres. Retornando à Imprensa especializada, a Escultura não possui nenhum título impresso no mercado, embora exista uma revista electrónica: a Idearte.
2.) Arquitectura – A Arquitectura, no que toca à cobertura mediática pela Imprensa Generalista, padece de um outro tipo de “esquecimento”. Surge pontualmente pela atribuição de algum prémio, ou pela apresentação de uma grande obra. Embora possua alguns títulos especializados como são a Arquitectura Ibérica a Casas e Negócios, a Materiais de Construção e a Piscinas XXI e Instalações Desportivas, mantém-se como uma área sem visibilidade mediática, já que a maior parte destas publicações dirigem-se a nichos de mercado.
3.) Dança – A Dança possui uma cobertura mediática nos meios de Comunicação Social generalistas muitos superior à que possui a Arquitectura e a Escultura. Os espectáculos de dança, os prémios de dança, os novos bailarinos, os grandes coreógrafos são notícia com alguma frequência. Todavia muitas dessas notícias são breves e está por surgir um título especializado neste sector. De ressalvar que existe um projecto para criar uma publicação semelhante à brasileira Revista de Dança.
A Cultura Portuguesa tem dado provas de uma enorme riqueza e de uma grande capacidade de ecletismo. Está presente em inúmeros sectores, alguns dos quais sem razões de queixa, quanto ao mediatismo. As três áreas culturais cuja visibilidade mediática, dada especialmente pelos Jornais generalistas, é bastante aceitável são: o teatro, o cinema e a fotografia.
4.) Teatro – O Teatro possui uma cobertura mediática bastante aceitável. O carinho que os portugueses têm por esta forma de Arte, permite aos editores produzirem notícias com regularidade sobre a nova peça que vai estrear, sobre o novo realizador, sobre aquele prémio de teatro que surpreendeu todos. O Teatro é muitas vezes veiculado nos outros veículos de Comunicação Social como são a televisão e a rádio. Uma área da vida cultural portuguesa que, por enquanto, não se pode lamentar. Existe uma publicação mensal sobre Teatro apoiada pelo Ministério da Cultura: Senas de Teatro.
5.) Cinema – O Cinema é uma das áreas culturais com maior visibilidade mediática em Portugal. Os festivais de Cinema, que se sucedem ao longo do calendário, são prova viva disso: os Óscares, o festival de Cannes, o festival de Berlim, o festival de Veneza, os BAFTA, o Fantasporto, o Festival Intercéltico, entre outros… Os grandes filmes, os actores mais populares, os realizadores do momento são notícia com muita regularidade. Esta área de produção artística conta ainda, desde 1982, com a revista Cinema para divulgar o que de melhor e pior se faz no cinema nacional e internacional. A duração histórica desta publicação deixa antever o seu sucesso, junto dos amantes e dos profissionais do cinema.
6.) Fotografia – A fotografia tem uma larga difusão, enquanto produto artístico, uma vez que é através dela que se dá a conhecer aos leitores, todas as outras formas de arte. É como se a Arte falasse da Arte! Nos jornais generalistas a fotografia, entendida como produto cultural, é muitas vezes notícia, destacando-se sempre por alturas do famoso e polémico World Press Photo. Quanto a revistas especializadas existem no mercado alguns títulos como são a revista O Mundo da Fotografia Digital, a revista NuFoto e a revista Cabo da Roca, entre outras.
É complicado, para os jornais generalistas, cobrir todas as áreas da vida cultural portuguesa, uma vez que esta, felizmente, apresenta uma enorme diversidade temática. A escolha por uma área, ou por outra, nem sempre é consensual e depende de critérios comerciais. É por isso que o papel da Imprensa especializada é tão importante, para a promoção das iniciativas que a imprensa generalista não pode noticiar. Alheia a esta crise está a Fotografia, num mundo que vive cada vez mais de imagens.

v ANÁLISE DAS PRINCIPAIS PUBLICAÇÕES
o “L+Arte”
o “Os Meus Livros”
o “Magazine Artes”

L+Arte

A Revista L+Arte pertence ao grupo Entusiasmo Media, grupo aliás que tem lutado “contra a maré” e que tem lançado no mercado português, publicações de cariz essencialmente cultural com relativo sucesso, contradizendo a ideia de que a Cultura não vende em Portugal (será que não dá audiências?).
A L+Arte assume-se como uma revista especializada em três sectores: 1.) leilões, 2.) Arte; 3.) antiguidades. A Arte compreende “formas clássicas de expressão (pintura, escultura, música, literatura, teatro, cinema)[5]”; sendo assim a Arte é uma “produção consciente de obras, formas ou objectos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjectividade humana[6]”.
Ora a Arte não se resume a obras do presente. A Arte é intemporal. Não se pretende filosofar sobre o conceito de Arte, mas mostrar que a separação do conceito Arte do de Antiguidade não faz sentido. Faria sentido se fosse enunciada “Arte Moderna e Arte Antiga”, mas dizer aos leitores que a publicação se debruça sobre Arte e sobre Antiguidades mais não é do que um pleonasmo desnecessário e que desacredita a publicação, logo na capa.
Para encerrar este primeiro ponto, separar Arte de Antiguidade é o mesmo que separar o Sport Lisboa e Benfica do Futebol (num país que fervilha com futebol, este trocadilho faz todo o sentido!). É tudo a mesma coisa. O Sport Lisboa e Benfica é uma parte do vasto universo que é o Futebol; tal como as Antiguidades são uma parte da constelação imensa que é a Arte.
Razão do financiamento da publicação, a revista L+Arte tem visto as suas páginas diminuírem progressivamente, em prol de uma publicidade abusiva, que rouba conteúdos preciosos à publicação. As publicidades de página inteira correm o sério risco de se tornarem metade da revista. Afinal falamos de Arte ou de publicidade?
Um ponto forte da L+Arte é a fotografia. Existe um cuidado notório em apresentar fotografias de alta qualidade, para que a própria fotografia seja um pedaço de Arte. As fotografias que fazem capa revelam um delicado trabalho de composição e de dramatização dos elementos visuais. As imagens da capa costumam ser fortes, com cores intensas, para chamar a atenção de todos os leitores, já que esta publicação costuma estar escondida nos escaparates dos pontos de venda.
Uma das secções mais importantes da revista é a “Notícias”. Pequenas notícias dão conta ao leitor do que de mais importante se passou no último mês, em relação á cultura portuguesa e internacional. É uma das secções onde o cuidado com a linguagem é mais visível, através de textos claros, simples, sem grandes tecnicismos e sem cair na tentação do elitismo ou do sofismo.
Dos três (que afinal são dois) sectores artísticos que a L+Arte cobre mediaticamente, o que tem um claro destaque o dos Leilões, sendo de resto esta a única publicação portuguesa a noticiar os Leilões nacionais. A secção de Arte conta com uma “Agenda Nacional” deficitária, a necessitar de um maior dinamismo e de mais duas ou três páginas.
A L+Arte é uma publicação ambiciosa, e, provavelmente, é essa ambição a sua maior fraqueza. Ao querer abranger todos os sectores da Arte (e da antiguidade), peca por se dispersar, dando a alguns temas um erróneo tratamento superficial. Numa revista mensal, com as características da L+Arte, seria mais simples cobrir esta “missão” audaciosa se, em cada mês, se debruçassem sobre um tema específico.
O que afasta a maioria dos leitores da L+Arte são as suas reportagens. Mesmo que muitas das reportagens detenham um claro interesse artístico, o recurso à linguagem rebuscada, cheia de figuras de estilo e de artificialismos, afasta os leitores “comuns” menos habituados à linguagem técnica da Arte. Muitos dos termos utilizados carecem de uma explicação simples, que elucide todos os leitores.
O futuro da L+Arte poderá ser tão brilhante, quanto obscuro, dependendo da inteligência com que os editores interpretem os sinais dados pelo público. Clarificar os terminologias artísticas, simplificar o uso do jargão artístico, tornar as publicações mensais em publicações temáticas, aumentar o espaço da “Agenda Nacional”, ter cuidado com a perda de páginas para a publicidade são apenas algumas das falhas que deverão ser tomadas em conta. Com engenho e Arte pode salvar-se a publicação!

Os Meus Livros

A Revista Os Meus Livros pertence ao grupo Entusiasmo Media, tal como a L+Arte. Ao contrário da sua “companheira”, a revista Os Meus Livros assume claramente, a começar pelo nome da publicação, qual a sua área de intervenção mediática: Literatura.
A revista Os Meus Livros assume a difícil missão (não estivéssemos nós em Portugal) de preencher as suas mais de 80 páginas simplesmente com Literatura. De forma a simplificar cada edição, e numa clara tentativa de abranger todos os sectores da Literatura, a revista dedica cada mês a um tema específico, o qual ocupa um número de páginas considerável.
Um dos pontos mais fortes da revista Os Meus Livros são as capas. Construídas de acordo com a temática mensal, jogam muito com a intensidade das cores e com as imagens chocantes. As cores mais comuns nas capas são: o vermelho, o amarelo fluorescente, o azul forte, o rosa e o lilás, entre outras. As capas da revista Os Meus Livros são construídas com tanto cuidado, que chegam a “obrigar” os leitores “comuns” a comprar a publicação; ou levam os leitores assíduos a fazer das revistas uma forma de colecção, em razão da beleza das capas.
A publicidade também tem “assaltado” as páginas da revista Os Meus Livros, mas, e ao contrário da L+Arte, a maioria da publicidade presente na publicação faz algum sentido, já que assenta na divulgação de Editoras, de Prémios Literários e de livros que estão no mercado, ou cuja publicação está para breve.
A fotografia é um ponto forte da publicação, mas é ainda mais importante o desenho e a caricatura. As imagens “falam” com os leitores da Literatura, conseguindo a revista juntar harmoniosamente fotografias e desenhos interessantes, de inegável valor artístico.
A venda de revistas num sector de mercado como a Literatura implica um enorme dinamismo editorial e uma atenção constante às necessidades do público, que se tem mostrado cada vez mais exigente. Vantagens competitivas da revista Os Meus Livros são as seguintes secções: “Top’s”, “Espaços”, “Conversa Com...”, “Pré-publicação”, “Críticas” e “Este Mês à venda”.
A secção “Top’s” dedica três páginas para mostrar quais os cinco livros de Ficção e de Não Ficção que venderam mais, ao longo do mês transacto, com os números de uma loja da especialidade, um site comercial e um jornal norte-americano: a FNAC (loja da especialidade), a Webboom (site comercial) e o New York Times (jornal norte-americano). Cada livro presente no top é acompanhado de um pequeno comentário.
“Espaços” é uma das secções mais curiosas da publicação. Uma página inteira dedicada à divulgação de um espaço de leitura, seja esta uma biblioteca moderna, uma livraria especializada em banda desenhada, ou uma livraria onde se vendem livros e sopa! As reportagens da secção “Espaços” são acompanhadas sempre por duas ou três fotografias, do lugar referido no texto.
“Conversa com…” como o nome indica é uma entrevista com um dos protagonistas da cena literário nacional ou internacional. São entrevistas extensas, que ocupam cinco a seis páginas, sendo que uma das páginas é totalmente preenchida pela fotografia do protagonista. A entrevista é sempre acompanhada de várias caixas de texto, que permitem ao leitor conhecer um pouco melhor o entrevistado.
“Pré-publicação” é um espaço que vai das duas às quatro páginas onde são publicados excertos de livros cuja edição esteja para breve, de forma a aguçar o apetite dos potenciais compradores. Os excertos são sempre antecedidos por um pequeno comentário introdutório.
“Críticas” é um dos pontos fortes da revista Os Meus Livros. Esta secção ocupa uma média de dez a doze páginas, nas quais vários livros são apresentados. Cada livro é acompanhado de uma pequena sinopse, de um comentário, de uma referência aos “pontos fortes” e aos “pontos fracos” e de uma classificação, que vai de 0 a 5. “Este Mês à venda” é uma das secções que tem ganho maior espaço na publicação, contando actualmente com cinco ou seis páginas, nas quais as editoras anunciam quais os livros que serão lançados durante o mês.
Uma das maiores vantagens da revista Os Meus Livros, em relação a toda a concorrência, é a linguagem utilizada em todos os artigos. Ao contrário dos habituais artificialismos, a revista brinda os seus leitores com um discurso fluído, simples, compacto e, ao mesmo tempo, elegante e culto. Os jornalistas desta publicação tornam o uso do jargão literário um jogo, no qual o leitor é incluído. As palavras mais complexas são trocadas por terminologias mais simples, ou então, quando não são trocadas, são explicadas.
A revista Os Meus Livros tem conseguido conquistar públicos heterogéneos, tendo mesmo esgotado algumas edições, o que é um verdadeiro feito, se considerarmos a fraca penetração que a Cultura tem no país. Um bom exemplo de como a Imprensa Cultural pode produzir bons títulos, apelativos e comercialmente viáveis.

Magazine Artes

A revista mensal Magazine Artes assume-se como uma publicação cultural genérica. Semelhante à L+Arte pretende cobrir toda a actualidade relacionada com a Arte, mas, ao contrário da L+Arte, não se subdivide em três áreas (leilões, Arte e antiguidades). É simplesmente Magazine Artes.
A revista Magazine Artes não dedica as suas edições mensais a temas específicos. A chamada de capa é feita com os acontecimentos mais marcantes da actualidade cultural, sejam estes uma exposição de fotografia, um festival de cinema, um prémio literário, ou o falecimento de um grande nome da cultura nacional e internacional.
As capas da Magazine Artes são, maioria das vezes, ilustradas por uma fotografia, sendo raras as publicações com desenhos ou imagens construídas em computador. Há a preferência pelo realismo das imagens, em vez da ficção. Uma aposta curiosa, especialmente se tivermos em conta o universo que retrata: a Cultura. Cultura não é simplesmente realidade; cultura é também irrealidade, surrealidade, abstracção, construção e metamorfose individual ou colectiva.
Em toda a revista as fotografias ocupam grande parte da Magazine Artes, sendo elas as verdadeiras protagonistas da publicação. Acompanhantes de todos os textos, chegam a ser maiores do que os documentos que ilustram; têm secções especiais; são cuidadosamente construídas, existindo toda uma dramatização nas fotografias. Não há uma única fotografia “inocente” em toda a revista.
O formato da revista é estranho, e poderá dissuadir os leitores da compra. Pouca prática no transporte; demasiado similar a um álbum de fotografias; excessivamente maleável, a Magazine Artes assume-se como uma publicação diferente, mas essa diferença pode ser prejudicial. Na nossa opinião é uma experiência interessante, o formato da Magazine Artes, que não se prende aos modelos standard, numa alusão directa a que a própria revista é um elemento artístico: é irreverente e eclética.
Com a importância que a fotografia tem na revista, parece demasiado afirmar que esta é uma revista colorida; revestida de imagens intensas, que mais do que ilustrar os documentos, possibilitam novas leituras das mesmas temáticas. É a visão do fotógrafo que se imprime e não a ilustração do texto jornalístico. Esta é aliás uma vantagem da publicação, em relação à L+Arte: a alma que parece estar inerente nas fotos. Elas são mais do que objectos de Arte; elas são objectos de Arte falantes!
Graficamente é uma revista muito bem conseguida, com uma paginação elegante e um design moderno. Não existe uma saturação das páginas, apresentando-se alguns espaços brancos que permitem a “respiração” das páginas e evitam a saturação visual, que desencoraja os leitores de algumas leituras. Os títulos grandes, impressos a vermelho vivo, com letras sem sarifas, resultam muito bem.
Ao contrário do Jornal de Letras, a Magazine Artes optou por tamanhos de letra grandes, que tornam os textos mais ligeiros e de leitura mais aprazível. A opção de colocar o número de página a meio de cada folha resulta bem, até porque esta é uma publicação que assume claramente uma tendência pela diferença, pela irreverência, pelo rompimento com os padrões instituídos.
Algumas palavras sobre a linguagem da Magazine Artes. Não é uma revista de leitura acessível para quem nunca teve contacto com a Arte; tal deve-se à utilização de alguns termos específicos, por vezes em excesso chegando a roçar o sofismo e o intelectualismo barroco. Contudo, as secções de Entrevista seguem uma linha de discurso simples, claro, com uma aposta no uso de termos quotidianos e não de termos mais complexos, como acontece noutras secções.
As secções da Magazine Artes não apresentam nenhuma originalidade, mas tal acontece na maioria das publicações. Possui agenda cultural, top de vendas, crónicas, críticas, notícias da actualidade, reportagens. A maior originalidade da revista será mesmo o facto de aplicar estas secções a várias vertentes da Cultura, ao contrário do que acontece nas duas publicações anteriores, que se especializaram em “ramos” artísticos.
A publicidade também conseguiu assaltar as páginas da Magazine Artes. Há, todavia, um enorme equilíbrio entre publicidade relacionada com agentes culturais e publicidade de outros sectores da vida económica. É, provavelmente, a revista que mais publicidade “externa” consegue captar, o que não parece ser suficiente para baixar o seu preço de 4,50€ mensais.
A Magazine Artes conta já com 50 edições e poderá subsistir por mais 50 edições, se tiver em conta duas pequenas coisas: 1.) as mudanças que se operaram nas classes médias, que vêem a Arte de uma outra forma; 2.) encetar uma política de mutação textual, que permita uma suavização quanto à tecnicidade dos mesmos. Caso não o faça qualquer publicação nova que surja, que siga a mesma linha pedagógica da revista Os Meus Livros, poderá tornar-se um caso claro de concorrência. A Magazine Artes é uma publicação orgulhosamente rebelde; cheia de vontade de inovar e de chocar as massas. É, sem sombra de dúvidas, uma publicação corajosa!

v CONCORRENTES OU ALIADAS? – MAGAZINE ARTES e L+ARTE

Após analisar as principais revistas de Cultura Portuguesas fica uma dúvida. Serão a Magazine Artes e a L+Arte concorrentes directas no mercado, ou aliadas por uma causa comum? De parte fica, desde logo, a revista Os Meus Livros, uma vez que a sua única preocupação editorial é a Literatura e não a Arte, entendida de forma genérica.
A Magazine Artes e a L+Arte lutam no mesmo mercado e não se pode dizer que não exista concorrência entre ambas as publicações. Senão vejamos: ambas apresentam notícias de toda a actualidade cultural, ambas têm secções genéricas; possuem entrevistas com os protagonistas do momento e reportagens sobre fenómenos culturais novos, ou dossiers históricos sobre momentos importantes do Passado da vida Cultural.
Nesta luta a L+Arte ganha pela sua aposta nos Leilões, que lhe permitem adquirir um elemento diferenciador. É a única publicação portuguesa que dedica algumas páginas a este mercado, que só agora começa a dar sinais de vida em Portugal. A ausência de edições temáticas da L+Arte são um ponto contra a revista, não permitindo ao leitor saber qual o conteúdo central de cada publicação.
Mas a Magazine Artes também tem os seus trunfos. Começando logo pelo preço: se a Magazine Artes custa 4.50€, a L+Arte custa 4.80€ a 5.00€ o que é uma vantagem para a Magazine Artes. Embora as duas publicações tenham cuidado com as fotografias publicadas, as da Magazine Artes possuem uma maior dramatização em todos os elementos. A irreverência do formato, da paginação, dos títulos, é outras vantagens da Magazine Artes, que se assume como uma revista diferente e rebelde.
Num confronto directo a L+Arte tem vencido a Magazine Artes, quanto ao número de exemplares vendido mensalmente; acresce a isto o facto do processo de fidelização de leitores ser mais rápido com a L+Arte do que com a Magazine Artes, devido ao elitismo que envolve a publicação. Aliás, a maior fraqueza da Magazine Artes é esse elitismo, que contradiz o espírito rebelde da publicação.
A médio prazo as duas revistas tenderão a tornar-se aliadas de mercado, podendo mesmo vir-se a assistir a uma especialização da L+Arte como revista de Leilões e Antiguidades, restando a Magazine Artes como revista generalista de Cultura, ao lado do Jornal de Letras que apresentamos em seguida.

v ÚNICO JORNAL CULTURAL: O JORNAL DE LETRAS

A Cultura em Portugal, apesar das dificuldades que tem na fidelização de leitores que permitam rentabilizar as publicações existentes, está relativamente bem representada através de revistas especializadas. Mas e os jornais? Quantos jornais culturais existem? Qual o seu papel? Quais os seus leitores? São concorrência das revistas ou áreas complementares?
Se o segmento das revistas é rico em publicações, já o segmento dos jornais conta somente com uma publicação: o Jornal de Letras. O Jornal de Letras é a mais antiga das publicações a debruçar-se sobre a Cultura que se faz em Portugal, sendo por isso a mais conceituada das publicações do sector.
A publicação quinzenal assume uma clara predilecção pelas temáticas literárias, mas faz a cobertura de matérias culturais diversas como sejam a pintura, a escultura, a arquitectura, a fotografia, a música, a dança, o teatro, o cinema e algumas formas de arte experimental. Uma das maiores vantagens do Jornal de Letras é a aposta feita em criar um jornal Cultural generalista.
São poucos os pontos fracos do Jornal de Letras, essencialmente são dois: 1.) as opções gráficas textuais; 2.) o elitismo de alguns textos. A Jornal de Letras, no seu trabalho de paginação, peca muito ao ter um tipo de letra demasiado pequeno, e textos excessivamente extensos, o que na gíria jornalística se chama de “pastalões”.
É um facto que algumas matérias são importantes e que os textos, na sua maioria, preenchem-se de informação útil; mas o mesmo texto poderia ser repartido em vários textos mais pequenos, arrumados sequencialmente e acompanhados de imagens, de forma a permitir às páginas uma maior “respiração” e de impedir o sentimento de frustração no leitor, mesmo antes de este iniciar a leitura.
Outra das falhas do Jornal de Letras, que inclusivamente afastam alguns leitores desta publicação, é o elitismo da escrita. Algumas das peças apresentadas, na sua maioria artigos de opinião, são textualmente muito complexas, introduzindo-se nas orações uma série de recursos estilísticos e de palavras gramaticalmente mais ricas, mas menos conhecidas do leitor comum. Estes artigos dificultam a leitura de publicações como o Jornal de Letras e afastam gradualmente uma larga franja de potenciais leitores.
Estes polémicos artigos de opinião são, por outro lado, uma das mais valias da publicação. Um painel de opinion makers credível acompanha as notícias que preenchem as páginas do Jornal de Letras. Tal como um generalista, o Jornal de Letras possui secções de Entrevista, de reportagem, de notícias, de destaque nas mais variadas vertentes que compõem a Arte.
Porque as Letras não são somente Cultura, os temas relacionados com a Educação e com o Ensino, ou divulgação, da Língua Portuguesa, são particularmente caros ao Jornal de Letras. Todas as iniciativas culturais com vista à promoção da Língua Portuguesa, como o Campeonato da Língua Portuguesa, são acompanhadas com entusiasmo pela redacção do jornal. O Jornal de Letras assume a sua parcialidade quando se trata de defender o património cultural que representa a Língua Portuguesa, tal tem sido visível na cobertura mediática que tem sido feita em torno da Terminologia Linguista para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBES), contra a qual a publicação se insurge.
A publicidade, ao contrário do que acontecia anteriormente, não conseguiu destronar os conteúdos do Jornal de Letras. Existe, é certo, mas está harmoniosamente espalhada pelas páginas da publicação, o que demonstra uma grande inteligência na arrumação dos artigos jornalísticos e dos espaços publicitários. Ressalve-se, uma vez mais, o facto da maioria dos anunciantes do Jornal de Letras, tal como na revista Os Meus Livros serem agentes comerciais da área Cultural.
O Jornal de Letras possui também uma “Agenda Cultural” relativamente bem composta, sem correr o risco de estar excessivamente centrada em Lisboa e no Porto. Esta agenda é responsabilidade do Ministério da Cultura, com o qual a publicação cultural detém um protocolo de colaboração.
O Jornal de Letras, embora se detenha mais atentamente na cultura nacional, não está desatento ao que de melhor e pior se faz na Cultura mundial. Os prémios culturais, os grandes eventos, os bons livros, os fracassos artísticos, as polémicas e as intrigas nos círculos intelectuais e culturais internacionais não deixam de marcar a sua presença nas páginas do jornal.
O Jornal de Letras é a publicação da Imprensa Cultural mais credível, mais coerente, mais interessante, mais antiga e mais reputada. É inegável o seu esforço em “educar” culturalmente os leitores e em tornar a Cultura acessível a todos e não apenas a uma elite de “seleccionados”. A vitalidade do Jornal de Letras está no seu rigor, mas a continuidade do projecto jornalístico dependerá da sua capacidade de mudança.

v MODELO SEMIÓTICO-TEXTUAL E A IMPRENSA CULTURAL

Antes de entrarmos no modelo semiótico-textual para melhor compreender a Imprensa Cultural, do ponto de vista dos conteúdos, expliquemos qual a sua utilidade. O modelo semiótico-textual, de forma muito resumida, explica o modo de recepção das mensagens por parte dos leitores, permitindo aos produtores de conteúdos uma estruturação mais hábil dos seus textos. Isto é, através deste modelo explicativo podemos compreender as razões do sucesso, ou do insucesso da Imprensa Cultural, numa perspectiva textual.
A primeira inovação deste modelo é afirmar, ao contrário do que é veiculado, que os destinatários “não recebem simples mensagens reconhecíveis, mas conjuntos textuais[7]”. Ou seja, ao invés do esquema simples no qual o receptor compreende o texto devido a este ser construído através de um código reconhecível, no paradigma semiótico-textual o leitor reconhece a mensagem como um conjunto textual. O que importa é toda a mensagem, e não o código que constrói a mensagem.
O código deixou de ser a “preocupação” dos produtores de conteúdos, para passar a ser a mensagem, enquanto prática textual. Compreende-se melhor este novo paradigma comunicacional se acrescentarmos que “os destinatários não confrontam as mensagens com códigos reconhecíveis como tal, mas com conjuntos de práticas textuais, nos quais, ou a partir dos quais, é possível reconhecer sistemas gramaticais de regras a um nível posterior de abstracção metalinguística[8]”.
Desmontemos a afirmação anterior. O leitor interpreta os textos por reconhecer neles uma série de características gramaticais comuns e práticas linguísticas continuadas que permitem a compreensão da linguagem pela linguagem num nível seguinte. O código rígido e mono-orientado é substituído pela pluralidade rica das práticas textuais diversas, que o leitor passa a compreender.
Desde já levanta-se um problema. O modelo semiótico-textual é apenas aplicável aos leitores regulares da Imprensa Cultural, que podem compreender as práticas textuais em uso nas diversas publicações. Os novos leitores, que não conhecem os conjuntos textuais poderão sentir dificuldades em compreender os textos, o que poderá explicar, parcialmente, o “abandono” de uma larga franja de leitores “comuns” em relação à Imprensa Cultural Portuguesa.
A incompreensão das terminologias artísticas e das orações complexas dever-se-á a esta necessidade de “reconhecer” práticas textuais nas publicações de cariz cultural. Mas como se familiarizam os leitores, com as práticas textuais? “É provável que a competência interpretativa dos destinatários, mais do que sobre códigos explicitamente apreendidos e reconhecidos como tal, se funde e se articule, sobretudo em conjuntos de textos já consumidos[9]”.
Entenda-se então que o reconhecimento das práticas textuais veiculadas na Imprensa Cultural está estritamente ligado a hábitos de leitura regular, que permitem ao destinatário reconhecer este conjuntos textuais. Assistimos, desta forma, à passagem da Cultura gramaticalizada para a Cultura textualizada. Não é a gramática que interpreta o texto, é antes o texto que confere sentido à gramática.
O modelo semiótico-textual permite então perceber porque razões os portugueses consomem tão deficitariamente títulos da sua Imprensa Cultural. Os baixos índices de leitura impedem os potenciais consumidores de apreenderem o sentido total das mensagens, conduzindo a sentimentos de frustração, que levam ao abandono e ao esquecimento da Imprensa Cultural.
“A assimetria dos papéis comunicativos confere um relevo particular aos elementos que, nas estratégias textuais, dizem respeito aos destinatários, ao seu trabalho interpretativo, aos conhecimentos que os emissores possuem acerca deles[10]”. Os editores das publicações culturais (emissores) estão obrigados a mudar as suas estratégias de comunicação, se pretendem captar a atenção das massas (receptores) ou apenas de um nicho. O sucesso da Imprensa Cultural está ligado á capacidade preditiva dos editores. Como diria o diligente Jacques “O emissor antecipa a compreensão do receptor. Escolhe a forma de mensagem que será aceitável[11]”.
O insucesso da Imprensa Cultural deve-se a um desfasamento entre as expectativas dos leitores “comuns” e as práticas textuais dos editores. A compreensão deste modelo comunicativo está na base do sucesso da revista Os Meus Livros que soube adaptar inteligentemente o seu discurso ao seu público-alvo.

v A IMPRENSA CULTURAL E A TEORIA CULTUROLÓGICA

Agora que conseguimos compreender melhor as razões do insucesso da Imprensa Cultural, numa perspectiva emissor-receptor, passemos a analisar a Imprensa Cultural integrada na Cultura de Massas, da sociedade portuguesa. É neste campo que nos será muito útil a Teoria Cultorológica, desenvolvida por Edgar Morin, no seu L’Esprit du Temps.
Terminemos de ver a Cultura de Massas como um fenómeno vazio, manipulador e desconexo, para a enquadrarmos num fenomenologia sistemática pesquisável empiricamente, isto é, a Cultura de Massas entendida como um fenómeno social endémico, de um tipo de civilização. “A cultura de massa forma um sistema de cultura, constituindo-se como um conjunto de símbolos, valores, mitos e imagens que dizem respeito quer à vida prática quer ao imaginário colectivo[12]”.
A sociedade de massas é um veículo cultural e a Imprensa Cultural Portuguesa ainda não apreendeu esse facto. Ao invés de se lutar “contra ela”, a Cultura de Massas deve ser explorada e utilizada, quer pelos artistas (como o faz o cinema), quer pelas publicações de conteúdo cultural, que têm de deixar a sua visão elitista e harmónica de sociedade, para se embrenharem num mundo caótico, altamente nervoso e repleto de agentes com mensagens.
A sociedade de massas, como sistema cultural, não existe independentemente, antes se enquadra num conjunto de sistemas culturais. A Cultura moderna é feita de controlos e censuras feitos pelos vários sistemas culturais entre si, mas o facto é que a Cultura de Massas continua a não ser interpretada como um sistema cultural, com potencialidades artísticas e editoriais. Tem que se abandonar a visão apocalíptica que se tem da Cultura de Massas.
A Era das Culturas Nacionais não terminou, como profetizaram alguns teóricos mais radicais. Bem pelo contrário, a Era das Culturas Nacionais intensificou-se e profissionalizou-se devido á concorrência saudável que sofreu da Cultura de Massas e das outras Culturas Nacionais, com as quais tem contacto, encerrando com o isolamento que caracterizou alguns períodos da História da Arte Portuguesa. É este ponto essencial que a maioria das publicações portuguesas insiste em não compreender, e que está na raiz do seu afastamento para com os leitores.
A Cultura de Massas “não é a única cultura do século XX (…) mas é a verdadeiramente nova[13]”. O que esta cultura traz de novo é a visão que se tem dos produtos culturais. Ao contrário da Cultura tradicional que vê em cada objecto um elemento único, detentor de uma originalidade que é, em última instância, o garante do seu valor cultural; a Cultura de Massas vê o objecto pelo seu lado industrial, pela sua reprodução massificada e pela sua difusão a todos os quadrantes sociais predispostos a consumirem esse mesmo produto.
Não se pode afirmar que um objecto é mais rico culturalmente por não ser industrialmente reproduzido. O valor cultural de um quadro de Kandinsky e de um filme de George Lucas é incontestável, apesar das nuances criativas que estiveram na criação desses objectos culturais. A massificação, ou não, de um objecto, não reduz seguramente o seu valor artístico e cultural.
A rejeição da Imprensa Cultural Portuguesa, em relação à Cultura de Massas, vista quase como um demónio destruidor penaliza fortemente as publicações; ao saber explorar essa “falha” a revista Os Meus Livros e a revista L+Arte conseguirem penetrar no mercado com algum sucesso. Interagir com a Cultura de Massas, difundindo outras formas de Cultura tradicionais é o desafio a que se propuseram as duas publicações e que, até ao momento, se tem revelado uma aposta ganha.
“A cultura de massa constitui, com efeito, o único terreno de troca para a classe que está a surgir, ou seja, a nova camada de assalariados que, progressivamente, vai englobando franjas cada vez mais vastas das classes anteriores[14]”. A vitória da Cultura de Massas não tem de significar a derrota da Imprensa Cultural, basta que, para isso, as publicações consigam adaptar as suas mensagens aos novos códigos sócio-culturais, veiculando as mesmas mensagens apenas com um “rosto” e formato novo.
Quanto mais avançamos, menos dúvidas restam que o afastamento dos leitores deve-se, em parte, a uma recusa teimosa das publicações culturais portuguesas perceberem os novos esquemas culturais. A incapacidade de adaptação é um dos mais pesados factores, que leva ao triste insucesso de um segmento de Imprensa, que do ponto de vista dos conteúdos apresenta uma média de qualidade bastante aceitável.

v EVOLUÇÃO DA IMPRENSA CULTURAL

A Imprensa Cultural Portuguesa está, neste momento, numa fase de transição. Acompanhando a recente “onda” de renovações gráficas dos títulos generalistas (Expresso, Público, Visão), também as publicações da Imprensa Cultural aproveitaram para renovar as suas imagens. A revista Os Meus Livros “limpou” as linhas pretas que usava, para definir as caixas; a Magazine Artes apostou num tom de vermelho mais intenso; a L+Arte modificou o tipo de letra.
Vimos já que o problema da Imprensa Cultural é tanto estrutural como social. As publicações culturais portuguesas não podem estar desatentas da realidade envolvente, tentando viver num mundo sem gente. As revistas culturais e o jornal têm como grande desafio a mudança dos seus critérios editoriais, passando a incluir novas secções e a ver a Cultura com “lentes novas”.
A Imprensa Cultural Portuguesa goza de boa saúde, no que toca ao número de títulos disponíveis no mercado. A prazo, cada um dos títulos tenderá a especializar-se num segmento cultural, deixando para a Magazine Artes a “missão” de ser o único título de imprensa generalista especializado em Cultura. A L+Arte também poderia assumir a tarefa, mas pensamos que a L+Arte tende a especializar-se no segmento das Antiguidades e dos Leilões, onde, de resto, não sofre qualquer tipo de concorrência.
O interesse que têm demonstrado alguns grupos de Imprensa, em adquirir títulos de cariz cultural demonstra a vitalidade deste sector. A Imprensa Cultural, gradualmente, está a conquistar leitores e (em boa hora) começou a procurar novos públicos e a explorar novos conceitos. Aqui não podemos deixar de relembrar o importante papel que têm duas publicações: Jornal de Letras e revista Os Meus Livros.
O Jornal de Letras é a mais antiga das publicações culturais portuguesas, gozando actualmente de um estatuto de credibilidade, prestígio e rigor que ajudam a “manter” os leitores fidelizados. O facto é que “consumir” Jornal de Letras com alguma regularidade confere estatuto social. Seria, todavia, benéfico que surgisse um novo jornal, que pudesse concorrer com o Jornal de Letras. A concorrência é o melhor estímulo para a criatividade.
A revista Os Meus Livros tem tido um sucesso impressionante, e promete continuar a dar cartas. A sua fórmula é bastante simples: dar a conhecer a Literatura aos portugueses, através de edições temáticas, combinando o rigor dos conceitos, com uma linguagem simples, clara e explicativa. Antes de informar, a revista tem um cuidado especial em explicar os conceitos que publica. As capas originais, já referidas, são também um aspecto curioso da publicação, que é para muitos dos seus leitores entendida como uma colecção e não como uma revista.
A Imprensa Cultural Portuguesa tende a tornar-se um catálogo de fotografias, se não se reinventaram as terminologias e as práticas jornalísticas. Há que inovar neste sector, onde, ao contrário do que é veiculado, o público está aberto a inovações. As revistas, mais do que o jornal, estão a perder demasiado espaço para as fotografias, numa tentativa desesperada de rentabilizar os custos. A revista Os Meus Livros já provou que se podem ter bons textos e boas imagens, porque não seguir o exemplo?
Um dos maiores desafios da Imprensa Cultural Portuguesa é a publicidade. Se as imagens roubam espaço aos textos, a publicidade ameaça despojar as revistas dos seus conteúdos mais importantes. Futuramente terá que se encontrar uma forma de equilíbrio saudável, já que esta é uma das principais razões que levam ao afastamento dos leitores que consomem este tipo de Imprensa. “Comprar um revista de Cultura para ver publicidade? Eu não!”
A Imprensa Cultural Portuguesa já percebeu que as oportunidades de expansão no mercado são inúmeras, mas ainda não definiu estratégias de “combate”. Enquanto a televisão e a rádio menosprezarem a Cultura, este segmento de Imprensa detém o monopólio informativo cultural, o que é um privilégio a ser explorado. Há que tornar a leitura das revistas culturais indispensável no quotidiano dos portugueses.
Outro desafio que se colocará há Imprensa Cultural é o possível surgimento de um título gratuito. Os preços das publicações mensais “afastam” alguns compradores, pelo que o aparecimento de um gratuito neste sector seria um verdadeiro desafio. Contudo, e tendo em conta o panorama actual, não se vislumbram investimentos que possam levar ao surgimento de uma publicação gratuita portuguesa.
A Imprensa Cultural Portuguesa tem que começar a olhar para os seus leitores, em vez de esperar que sejam os leitores a olhar para si. Adaptar os conteúdos editoriais aos desejos dos leitores, encetar campanhas de publicidade inovadores, modificar os seus códigos linguísticos são alguns dos processos que deverão ser postos em acção, de forma a impedir a extinção da Imprensa Cultural Portuguesa. O futuro da Imprensa Cultural depende apenas da forma como os responsáveis lêem os sinais do público!

CONCLUSÃO

O que mais dizer? O futuro da Imprensa Cultural Portuguesa é ainda demasiado distante, e o Passado está já demasiado longe. No presente a Imprensa Cultural Portuguesa vive na “psicose” de uma anunciada crise, que afinal não é tão profunda como parecia. Com mais de 15 títulos no mercado, podemos dizer que a Imprensa Cultural está em crise?
Os leitores estão “afastados” da Imprensa cultural? Não estarão antes dispersos pelos vários títulos existentes, em virtude dos seus gostos pessoais? A Imprensa Cultural Portuguesa não vende extraordinariamente, como faz a Imprensa Desportiva, ou a Imprensa feminina, mas isso não significa que se deva diagnosticar a “morte”, ou o estado de “coma profundo”.
A Imprensa Cultural Portuguesa luta contra a maré, e está a descobrir novas fórmulas de sucesso para inverter os números. Tem se revelado uma área extremamente rica em ideias, com algumas publicações rebeldes e com outras publicações mais criativas. O sucesso deste segmento de Imprensa nem a prazo poderá ser medido, pois esta é uma área em constante mutação, tal como o é a Cultura.
Uma advertência a fazer aos produtores da Imprensa Cultural Portuguesa. O trabalho jornalístico realizado não deve ser considerado forma de arte. Mesmo que estejam a escrever sobre cultura, o que os jornalistas fazem é jornalismo. As fórmulas rebuscadas e o uso de orações complexas não são uma necessidade do Jornalismo Cultural. Simplicidade é, aliás, a chave do sucesso.
A Cultura de Massas e todos os seus benefícios deverão ser integrados na cultura das empresas que produzem os títulos da Imprensa Cultural. Os elitismos e os preconceitos textuais e estilísticos têm que ser “arrumados no fundo da gaveta” de uma vez por todas, se não quiserem perder mais leitores. A Cultura democratizou-se. Já não é mais o privilégio de uma classe restrita de indivíduos.
A Imprensa Cultura deve seduzir novos leitores; e como qualquer amante, deve adaptar o seu conteúdo e a sua forma aos leitores que pretende seduzir. É na capacidade de inovação e de adaptação aos novos desafios que a Imprensa Cultural encontrará um novo fulgor. Está por provar que a Cultura não rende audiências e não vende títulos de Imprensa e essa prova cabe, em última análise, à Imprensa Cultural Portuguesa.

BIBLIOGRAFIA

Livros consultados:
$ ATTALI, Jacques, “Dicionário do Século XXI”, Notícias Editorial, 1ª edição, Lisboa, Novembro de 1999
$ WOLF, Mauro, Teorias da Comunicação, Editorial Presença, 9ª edição, Lisboa, Junho de 2006
$ HARTLEY, John, “Comunicação, Estudos Culturais e Media”, 1ª edição, Quimera Editores, 2004
$ M. C., Duarte, M. A., Durão, “Português prático para jornalistas”, 1ª edição, ComVisão, Lisboa, Outubro de 2001
$ HOUAISS, António, VILLAR, Mauro de Salles, “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, Círculo de Leitores, Lisboa, Setembro de 2002
$ KOOGAN, LAROUSSE, Selecções, “Dicionário Enciclopédico”, Editora Larousse, 6ª edição, Setembro de 1982

Revistas e jornais consultados:
! Os Meus Livros, Edições: 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, Entusiasmo Media
! L+Arte, Edições: 15, 22, 23, 26, 28, 31, 33, 35, Entusiasmo Media
! Magazine Artes, Edições: 40 e 50, Moon Press
! Jornal de Letras, Edições: 949, 950, 951, 952, 953, 954, 955, Edimpresa

Sites consultados:
8 http://www.saudepress.com.pt/oml/
8 http://www.l-arte.com.pt/
8 http://www.esteticaviva.com/
8 http://www.publimpor.com/regional/revistas/revista.2006-10-31.3911961544/view?searchterm=None
8 http://www.asia.cinedie.com/revista_cinema.htm
8 http://purl.pt/6485
8 http://www.revistadadanca.pt/
8 http://www.revista-temas.com/

[1] ATTALI, Jacques, “Dicionário do Século XXI”, Notícias Editorial, 1ª edição, Lisboa, Novembro de 1999, página 76
[2] HARTLEY, John, “Comunicação, Estudos Culturais e Media”, 1ª edição, Quimera, 2004, página 61
[3] HOUAISS, António, VILLAR, Mauro de Salles, “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, Círculo de Leitores, Lisboa, Setembro de 2002, página 1152
[4] KOOGAN, LAROUSSE, Selecções, “Dicionário Enciclopédico”, Editora Larousse, 6ª edição, Setembro de 1982, página 262
[5] ATTALI, Jacques, “Dicionário do Século XXI”, Notícias Editorial, 1ª edição, Lisboa, Novembro de 1999, página 397
[6] HOUAISS, António, VILLAR, Mauro de Salles, “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, Círculo de Leitores, Lisboa, Setembro de 2002, página 36
[7] WOLF, Mauro, Teorias da Comunicação, Editorial Presença, 9ª edição, Lisboa, Junho de 2006, pág.126
[8] Idem
[9] Op. cit. pág. 128
[10] Op. cit. pág. 130
[11] Idem
[12] Op. cit. pág. 101
[13] Op. cit. pág. 101
[14] Op. cit. pág. 103