A Família (História das Instituições)
Aqui está publicado o trabalho sobre a Instituição Família, no âmbito da cadeira de História das Instituições. Lembro que os restantes trabalhos para esta cadeira já foram publicados anteriormente. Aos que ainda nao acabaram as coisas do ESTA Jornal, olhem que os prazos estão mesmo no fim. Bom estudo para todos! ORIGEM DA PALAVRA FAMILIA A palavra família, na sua origem, não teve o mesmo significado pelo qual a entendemos nos nossos dias. Este vasto conjunto de significados que a palavra teve mostra as transformações que esta instituição teve ao longo da história. “Família” é uma palavra de origem latina que aparece em Roma e que deriva de “famulus” que significa escravo doméstico, mas não se aplicava no mesmo sentido em que hoje a aplicamos. Termo criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas. Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe, nos tempos medievais (Idade Média), as pessoas começaram a estar ligadas por enlaces matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna. Posteriormente, por alargamento de sentido, a palavra família passou a designar os agnati e os cognati, tornando-se sinónimo de gens. Agnati eram os parentes por parte paterna e os cognati por parte materna e, obviamente por extensão, o conjunto dos consanguíneos. Por gens entendia-se a comunidade formada por todos os descendentes de um mesmo antepassado. Com a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor dos complexos industriais. Estas mudanças demográficas originaram o estreitamento dos laços familiares e as pequenas famílias, num cenário similar ao que existe hoje em dia. As mulheres saem de casa, integrando a população activa, e a educação dos filhos é partilhada com as escolas. A família assume uma estrutura característica, ou seja, “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se interrelacionam de maneira específica e recorrente”. Deste modo, a estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente autenticadas, e com uma interacção regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adoptados, que habitam num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário. Existem também famílias com uma estrutura de pais únicos ou monoparentais, tratando-se de uma modificação da estrutura nuclear tradicional devido a factos sociais, como o divórcio, morte, abandono de lar ou adopção de crianças por uma só pessoa. A família ampliada ou consanguínea é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. Para além destas estruturas, existem também as denominadas de alternativas, como as famílias comunitárias e as famílias homossexuais. As famílias comunitárias, ao contrário das famílias tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e educação das crianças está unicamente entregue aos pais e à escola, nestas famílias, o papel dos pais é descentrado, sendo as crianças da responsabilidade de todos os membros adultos. Nas famílias homossexuais existe uma ligação conjugal ou marital, por contrato entre duas pessoas do mesmo sexo, que adoptaram crianças ou, um ou ambos os parceiros têm filhos biológicos de casamentos heterossexuais. Em jeito de conclusão, hoje em dia, contrastando com os primórdios da palavra, a família é um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas ligado por descendência a partir de um antepassado comum (matrimónio ou adopção). Nesse sentido o termo confunde-se com clã. ALCANCE E LIMITAÇÕES DA HISTÓRIA DA FAMÍLIA A “família” foi estudada durante muito tempo, na cultura ocidental e nas próprias ciências sociais não como objecto autónomo mas como objecto implícito que levaria à compreensão de aspectos significativos e problemáticos da realidade social. Esta concepção é característica da sociologia e da análise sociológica das sociedades ocidentais, foi no contexto do estudo de sociedades exóticas que a família começou a ser considerada como objecto possível de análise específica e autónoma. A antropologia privilegia o estudo dos sistemas de parentesco das sociedades ditas “primitivas”, porque nestas sociedades o parentesco é a instituição fundamental, cujas categorias se encontram na base de toda a organização social. Neste caso o parentesco é visto como um sistema de relações, relações entre os grupos e indivíduos e não necessariamente relações de parentesco biológico. Deste ponto de vista, a família, mais do que causa, é consequência das relações de parentesco e é por isso que os antropólogos lhe atribuem um papel secundário enquanto objecto de análise apesar de a estudarem com atenção. Tanto a sociologia como a antropologia privilegiam a análise das funções da família. Os antropólogos consideram que foi a multiplicidade de funções nas sociedades pré-industriais que impulsionou o estudo da família, já em sociologia durante muito tempo se considerou que a família tinha perdido muitas dessas funções tradicionais nas sociedades industriais sendo então utilizada para estudar problemáticas como a da integração social ou a sociologia da modernização. “No primeiro caso procurou-se demonstrar, por exemplo, que a perda de funções mais amplas, em consequência de um processo de diferenciação estrutural, tinha transformado a família nuclear numa instituição residual, especializada na formação da personalidade dos seus membros. Do mesmo modo, essa transferência de funções por outras instituições especializadas teria dado origem, ao nível da integração do sistema, a problemas relacionados com a existência de desajustes entre o funcionamento de uma ou outra instituição, ou entre os modos em que os indivíduos se encontravam normativamente integradas em cada uma dessas outras instituições”. Nas sociedades estruturalmente indiferenciadas, a família integrada e plurifuncional, em cujo seio as relações se baseavam na autoridade patriarcal do chefe, teria assegurado outra forma – “anémica” de integração dos indivíduos na sociedade. Para a antropologia as múltiplas funções da família e do seu agregado doméstico era indício da complexidade das sociedades enquanto que para os sociólogos, era indício do carácter indiferenciado das sociedades “tradicionais”. Não é então de espantar que tenha sido à antropologia das sociedades complexas que recorreram historiadores da família à procura de instrumentos conceptuais com que traçar a evolução e o significado das suas formas e funções. Uma das limitações ao estudo histórico da família é o facto de o historiador não ter muitas informações à sua disposição, as fontes de tipo convencional, como, por exemplo, os diários ou livros de memórias, são bastante limitativas. Este tipo de informação só permite estudar a família em contextos sociais restritos e nem sempre representativos. O desenvolvimento da demografia histórica e da micro demografia paroquial permitiu usar esses registos como fonte para uma história da família baseada em métodos quantitativos. O método dito de “reconstituição de famílias” é um método que acaba por ser de utilidade apenas indirecta para a história da família, traduz-se na construção de um objecto “ a família”, essa família é a “família conjugal biológica” constituída por um casamento e modificado pela sequência de nascimentos, casamentos ou mortes dos seus membros, mas tal família pouco tem a ver com a realidade observável de algumas sociedades. Permite-nos no entanto reconstituir genealogias e de toda uma teia de relações de parentesco existentes numa determinada comunidade utilizando toda a informação nominativa encontrada em outros tipos de fonte, como, por exemplo, livros de tabeliães ou documentos cadastrais. Esta informação constitui o ponto de partida para a reconstrução da dinâmica e das funções da família nos diferentes grupos sociais das sociedades do passado. Outra solução metodológica para o estudo da família consiste no estudo da sua evolução enquanto “grupo de residência” utilizando todos os tipos de recenseamentos locais. Ambas as perspectivas utilizam metodologias quantitativas e a utilização conjunta dos dois tipos de fonte poderia permitir um controlo indirecto do sentido a atribuir aos “grupos familiares”. Este controlo juntamente com outras fontes, poderia ser o ponto de partida para uma análise que reconstituísse a teia das relações intra e inter familiares que caracterizam o funcionamento do “sistema familiar” em qualquer sociedade. “Por sistema familiar atende-se o conjunto das relações que se estabelecem entre indivíduos e grupos em decorrência das funções desempenhadas pela família na organização social da reprodução”. A família é uma instituição universal e imediata o que torna a definição do objecto da história da família uma tarefa quase ilusória do ponto de vista da metodologia histórica. Por esta razão, a família é a que menos poderá ser estudada isoladamente dentre todas as instituições sociais. A história da família terá de ser simultaneamente uma história demográfica e uma história social em que o seu objecto se define pelas suas funções sociológicas: uma história multifacetada, aberta à demografia e à antropologia, da organização social da reprodução. INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA SOBRE A CRIANÇA A Família sempre exerceu um forte papel de influência sobre o desenvolvimento cultural da criança. O pai sempre foi visto como a autoridade máxima dentro da família, é a ele a quem todos devem respeito. Esse poder só perdeu expressão quando os filhos começaram a trabalhar e a contribuir para as despesas da casa, auxiliando, assim, a família. A educação começou por estar a cargo dos pais. No princípio, a escola é vista como o “enfraquecimento da influência parental e dos valores familiares” e “enfraquecimento do sentido de responsabilidade dos pais”. A escola vai começar por representar como que “uma ameaça ao lar”. Esta instituição educacional é mal vista pela sociedade, sendo considerada “desnecessária” e “a mãe é vista como tendo fugido às responsabilidades que lhe são próprias”. “Só uma família gravemente carenciada tinha justificação para expôr os filhos aos graves perigos morais e às barbaridades da vida escolar, fosse ela uma escola pública, de caridade ou nacional.” As instituições religiosas, por sua vez, eram vistam como “ meramente compensatórias, muito credíveis para os professores, mas muito desacreditáveis, sem dúvida, para os pais e parentes do aluno”. Só no séc. XIX é que a escola entra, efectivamente, no quotidiano das crianças devido a várias razões, nomeadamente pelos pais não conseguirem executar as responsabilidades educacionais evocadas pelos moralistas da época. Quando as crianças começam a frequentar a escola é notória a evolução da sociedade. E as transformações sociais dão-se rapidamente. A família “moderna” A família “moderna” mostra-se melhor sucedida, mas com menor autoridade sobre as crianças. Os filhos começam a ascender socialmente mais relativamente aos seus pais. Também as relações humanas e sociais se tornaram mais estreitas, a relação entre marido e mulher, a relação entre pais e filhos tornaram-se mais afectuosas. A partir do séc.XVIII, o casamento torna-se mais popular, “com altas taxas de casamento, especialmente entre jovens, e grande fertilidade”, a vida em comum intensificou-se. Contudo, as taxas de ilegitimidade também sofreram um forte aumento. Jovens Dependentes A velocidade de mudança social enfraqueceu o poder dos pais. O “sistema (de transmissão de cultura através dos pais) funcionava perfeitamente numa cultura que ia sofrendo transformações a um ritmo muito lento. Assim, era essencial que a criança tomasse os pais como modelo para esboçar o seu próprio estilo de vida. Mas em períodos de transformação social rápida, e especialmente quando eles são acompanhados de migrações e revoluções politicas, esta condição é inatingível.” A FAMÍLIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Dentro de uma sociedade o núcleo constituinte, insubstituível e o mais importante é a família. Como faz parte da natureza humana a sociabilidade, não há sociedade sem comunicação. Segundo Warner, comunicação é qualquer processo pelo qual uma mente chega a outra mente; no entanto, uma coisa bem diferente, são os meios de comunicação social, que constituem todo o meio que distribui massivamente uma mensagem de forma directa, como por exemplo, a imprensa periódica, a rádio e a televisão. A família é uma instituição de grande importância, uma vez que, ao longo da vida humana é a primeira a transmitir conhecimentos. É a família que desde cedo incute às crianças princípios e valores, consoante a ética natural de cada sociedade. É também a família o principal meio de comunicação social uma vez que, a vida social se constrói com o diálogo das pessoas, e na família esse diálogo é constante e actualizado, o que constitui uma condição necessária para a compreensão mútua, da vida humana não só no seio da família como também na sociedade. De entre todos os meios de comunicação social atrás referidos, é a televisão que mais massivamente atinge as populações. Todavia, não é só o pequeno ecrã que pode trazer consequências menos positivas para as crianças, também a rádio e a imprensa escrita podem ter pouco de pedagógicos. Essa falta de pedagogia deve-se sobretudo à predominância do sensacionalismo nos vários órgãos de comunicação social, como por exemplo, os crimes, a violência, o erotismo, a pornografia, mas também à existência da mediocridade de certos conteúdos de jornais e revistas. Para que os meios de comunicação social possam cumprir as suas funções (Informar, Formar e Distrair), no que concerne à família, é necessário que em cada família haja de facto uma verdadeira vida de família. (Contudo, actualmente há uma grande ausência de vida familiar, pois existe cada vez menos uma relação de diálogo entre as pessoas.) Mas também é indispensável que os pais tenham a preocupação de seleccionar os programas que sejam mais aconselháveis para os filhos, e que estes sejam vistos em conjunto, para que possam dialogar com os filhos sobre aquilo que viram. Ao contrário do que se possa pensar, a televisão e os restantes meios de comunicação social quando usados de forma moderada favorecem uma cultura para todos, que suprime as barreiras tradicionais. Também no seio da família, se os meios de comunicação social forem bem doseados, podem ser uma ajuda indispensável para a formação e orientação familiar. Alguma coisa que precisem avisem. Boa sorte para as proximas frequências! O Representante de turma, Tiago Lopes |
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