Texto alternativo para Relações Internacionais
A leitura deste documento não prescinde de leitura complementar. Não se publica este documento para que este possa ser uma fonte alternativa, em resposta ao trabalho do colega José Pinto. O que se pretende é apenas dar uma abrangencia maior do tema, como o José Pinto diz e bem é sensivel, por uma serie de razões. Boa sorte para todos Tiago Lopes O CONFLITO ISRAELO-ÁRABE "A história" não é mais que um reconto de uns povos a quem lhe é retirada a sua terra por outros povos com pretextos solenes ou vulgares e medíocres. A propósito dos judeus, Heinrich Heine defini-os de uma forma muito bela como "o povo cuja pátria é um livro. Com efeito, desde a destruição do Templo no ano 70, até à criação de Israel em 1948, os judeus não tiveram mais pátria que a Bíblia. O feito não é simplesmente poético. Em primeiro lugar, porque para ler um livro há que saber lê-lo; os judeus, de forma igual que os protestantes, milénio e meio depois, fizeram o que não fizeram os povos atrasados: educar até à última criança. Em segundo lugar, porque a Bíblia não é um livro qualquer, senão o eixo cultural do Ocidente; os judeus, notou Sigmund Freud, são os administradores de Deus neste mundo. Não há raças superiores, nem inferiores, nem distintas: simplesmente não há raças. Há culturas mais ou menos distintas, feitas de histórias e costumes compartidos. Depois do ano 70, a cultura judaica consistiu em ser minoritária em cada país onde chegava, e chegou a cada país do Ocidente. Uma minoria educada, empreendedora como todo o imigrante, marginal às convenções e por fim capaz de visões formidáveis (Freud, Marx e Einstein para uma mini lista) discriminada como o forasteiro, mais invejada que outros forasteiros e perseguida como nenhuma minoria da história ou quase. Uns 17 milhões de negros morreram por causa do comércio de escravos e Hitler assassinou também, sete de cada dez ciganos europeus. Mas até no horror há hierarquias e o Holocausto golpeou a consciência do Ocidente como nenhum horror o faria jamais: seis milhões de vítimas judaicas com sobrada razão de ganharem o direito a uma pátria com seis milhões de árvores, como cantam em Inch'Allah. A história costuma ser brutal. Porque a verdade é brutal, dado que os seis milhões de árvores deviam estar semeadas na bacia do rio Reno. Os autores desse crime imundo não foram palestinianos, mas sim nazis; e mais, não foram árabes mas sim cristãos, desde Isabel e Fernando até ao Czar Nicolau II quem perseguiu os judeus. No fim da Segunda Guerra Mundial, grandes pensadores e homens de Estado defenderam a ideia de uma ''pátria judaica na Alemanha ou noutro país da Europa, o que teria sido um disparate tal que a Terceira Guerra Mundial teria estalado `a volta da esquina. E a única saída que encontrou a consciência atormentada do Ocidente, foi semear as raízes da Guerra que viria meio século depois. A história de facto é brutal. Basta olhar fixamente para um par de clássicos recentes (Parábola das Tribos, de Schmookler; Armas, Germes e Aço, de Jared Diamond) para ver que ''a história” é o que acima afirmamos. A diferença do povo palestino não é de lhe terem retirado a sua terra com pretexto que aos judeus lhe parecia solene ''a pátria bíblica” e ao árabe lhe parecia vulgar. A diferença é que Israel foi criado em pleno século XX, por votação na Organização das Nações Unidas (ONU), e para o povo que por sua vez tinha um maior sentido da injustiça e uma consciência mais sensível da legalidade. Contra a recordação do Holocausto sem embargo, nem esse sentido nem essa consciência podiam evitar que a história seguisse o seu caminho. O caminho é implacável: que passe todo o tempo, e todo o que tenha que passar, até que o povo palestino aceite, e se resigne ao sacrifício que lhe foi atribuído. Estes 55 anos, já os trazem bastante resignados a aceitar a existência de Israel, a ceder dois terços da sua terra, a compartir Jerusalém, a que os Estados Unidos façam de árbitro, a que Majmud Abas (Abu Mazen) substitua Yasser Arafat, e que de seguida surja a guerra civil. Ao mesmo tempo, e essa situação não teria de acontecer. Israel endureceu-se cada vez mais, encheu-se de judeus direitistas provenientes da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), votou for falcões do tipo Sharon ou Netanyau, e com direito reagiu ao terror, porque o terror é sempre criminal. O Ocidente não gosta de pensar nessa história e prefere crer que Bin Laden se inspirou no Corão, ou que Hussein era um doente mental. Não é assim: o problema é Israel. Até o Presidente americano George Bush se deu conta e fez com que Majmud Abas (Abu Mazen) e Ariel Sharon assinassem o talvez feliz Roteiro. Mas a nova rota leva ao mesmo lugar, porque nem ele mesmo podia mudar de direcção. Não, por virtude do conto de uma ''conspiração sionista”, mas sim à força de um talento enorme e um enorme esforço, os judeus dos Estados Unidos têm um enorme poder nesse país. A terra prometida de Abraham A crença numa terra prometida por Deus forma uma parte nada depreciável da fé essencial de Israel desde há quase 4000 anos, ainda que não tenha sido vivida toda da mesma maneira. O patriarca Abraham, já no século XVIII a.C., contemplou essa terra como parte da promessa que Deus lhe havia feito e que se cumpriria através do seu filho Isaac. Esse sonho não chegou a tornar-se realidade, apenas se concretizando meio milénio mais tarde, quando depois de sair livres do Egipto, os israelitas entraram em Canã. Os especialistas discutem na actualidade se a chegada se produziu no século XV ou no século XIII a.C. Um milénio antes do advento do Messias, Israel constituía um reino florescente, cujos expoentes máximos foram o Rei David, nascido em Belém, e autor de boa parte dos salmos da Bíblia, e o seu filho Salomão, o construtor do primeiro Templo de Jerusalém cujo lugar é hoje ocupado por duas mesquitas muçulmanas. Depois da morte de Salomão, Israel sofreu ataques continuados de distintas potências que iam desde os aramaicos que povoaram a actual Síria, aos assírios estabelecidos no território do Iraque. Israel resistiu encarniçadamente a estas invasões estrangeiras. Finalmente, no século VI a.C., Nabucodonosor da Babilónia, um dos ícones históricos que foram utilizados frequentemente por Saddam Hussein, destruíu Jerusalém, arrastou no seu tempo os judeus para as margens do Tigre e do Eufrates. A diferença para com os outros povos exilados, é que os judeus continuaram a sonhar com o regresso à sua terra natal. Conseguiram várias décadas depois, graças ao édito do monarca persa Cirro, originário de uma terra que hoje identificamos como sendo o Irão. Desde esse momento, até ao século primeiro a sobrevivência dos judeus na sua terra resultou consideravelmente azarada. No século II a. C., por exemplo, Antioco IV Epifânio desencadeou uma campanha de extermínio, que incluiu a profanação do reconstruído Templo de Jerusalém. Foi um desastre nacional que só voltou a acontecer, quando no ano de 70 d. C., as legiões do romano Tito, voltaram a destruir Jerusalém e arrasaram completamente o Templo. Apesar da catástrofe, os judeus contrariamente ao que é repetido, não abandonaram a terra e inclusive no século seguinte, levantaram-se contra Roma, quando Adriano quis voltar a profanar Jerusalém. Derrotados novamente, pelas forças romanas, permaneceram na terra onde dispunham de uma notável autonomia desde o século IV d. C.. Com a chegada dos muçulmanos no século VII d. c., produziu-se uma diminuição alarmante da presença judaica no seu território originário. Durante a Idade Média, cabalistas, sábios, médicos, agricultores e comerciantes judeus, viveram e morreram no solo dos seus pais movidos por um anseio que, a partir do século XVII, passou a cristalizar-se em passos mais concretos de retorno massivo. Ainda que, repetidamente, seja costume assinalar que a ideia de regressar a Israel surgiu com a aparição do sionismo no século XIX, sendo que tal afirmação é totalmente errónea. Inclusive depois da diáspora provocada pela chegada do Islão nunca deixou de haver judeus na região, nem se deixou de ansiar o final de um exílio, que se considerava passageiro, como havia sido o desterro na Babilónia. Sem embargo, as primeiras medidas de facto para facilitar um retorno em massa dos judeus ao seu solo milenário deram-se a partir do século XVII. Foi então, quando o protestante Oliver Cromwell decidiu permitir o regresso dos judeus expulsos de Inglaterra e, sobretudo, ajudar ao estabelecimento na sua terra. A razão que o movia era a convicção de que, em cumprimento das profecias bíblicas, a segunda vinda de Cristo seria antecedida pelo retorno dos judeus à sua terra. A ideia recebeu um enorme impulso durante o século XIX. A sua iniciativa chocou, sem embargo, por um lado, com o desejo de integração dos judeus nas sociedades da Europa Ocidental, e por outro lado, por muitos judeus ortodoxos que estimavam que o retorno só teria lugar uma vez que o Messias tivesse vindo e restaurado o Reino de David. De facto, a ajuda de organismos e magnates judeus a colonos que desejavam regressar à terra foi pequena. Os mesmos Rothschild deram alguns donativos, mas por forma, a que o seu nome não aparecesse saliente, para não causar dano nas suas relações com os turcos. O seu apoio aos sionistas só se tornou público em 1917, quando o império otomano perdeu a Palestina, na altura mencionado em voz baixa, mediante o circunlóquio do «benfeitor bem conhecido». Nos finais do século XIX, as acções de regresso tinham-se baseado mais no entusiasmo que nos meios quase inexistentes. Foi o Holocausto no qual morreram mais de seis milhões de judeus a grande tragédia, que colocou sobre o tapete a angustiosa necessidade de um Estado judaico. Ainda que, a propaganda anti-semita clássica goste de pintar a existência de uma conjura judaica mundial, cuja finalidade é dominar o mundo, o certo é que no seio de poucos grupos existiu e existe um debate mais amplo, plural e partidário. Semelhante circunstância, sustenta-se na vontade democrática do Estado de Israel, única democracia do Médio Oriente e da judiaria mundial que não excluiu historicamente nem sequer o tema do próprio Estado. De começo houve judeus que questionaram a existência do próprio Estado, considerando-o um acto limitado na blasfémia de que só pode ser implantado pelo Messias, e o sionismo pretende suplantar de uma forma ímpia. A presença de alguns membros destes movimentos ultra ortodoxos em manifestações contrárias ao Estado é um espectáculo relativamente corrente. Há que mencionar igualmente aqueles partidários, de estabelecê-lo em algum lugar diferente da terra milenária, uma opção que, finalmente, foi rejeitada em 1905. Há que acrescentar também aos que, como Martin Buber, consideraram que ainda que o retorno à terra era imperativa teria resultado mais aceitável um estado bi-nacional vagamente similar à confederação helvética ou os que questionavam o Estado desde una perspectiva marxista clássica. Os israelitas formam parte de um estado laico e contam com movimentos como Paz, que conta entre os fundadores, o escritor Amos Oz. Estes alimentam a necessidade de submeter as acções políticas a princípios éticos de carácter humanitário. Sem embargo, existe consenso à volta de alguns temas essenciais como são a existência legítima do Estado sustentado numa relação histórica do povo com a terra que tem sido possível ver-se quase ininterrupta no tempo, mas nunca no espírito como o seu direito a defender-se dos atentados que causam mortos por ataques palestinianos, e o desejo de chegar a acordos de paz com os países vizinhos, como chegou com o Egipto, tendo devolvido a este, a Península do Sinai. O processo de paz no Médio Oriente está más vivo que nunca. O Roteiro, plano que prevê a criação de um Estado palestino para o ano 2005, aporta certo optimismo e muita esperança (pese a contínua violência que quase todos os dias se faz sentir com baixas de ambos os lados), a quem sonha com a solução do conflito que, desde há meio século, existe entre árabes e judeus. Mas o caminho não é fácil. O êxito do plano, baseado no princípio de terra a troco de paz exige, como primeiro passo, acabar com o terrorismo e a violência. A recente grande onda de atentados palestinianos e as represálias adoptadas pelo Governo de Ariel Sharon podem converter o Roteiro em simples papel molhado. Iremos ver com maior pormenor o que é o tão famoso Roteiro. Roteiro O Primeiro-ministro Abu Mazen, em Abril formou o seu gabinete, sendo que a maior parte dos seus membros pertence à Al Fatah. Assim, da sua equipa de 24 ministros, sete são independentes e um do Partido Popular, (ex. Partido Comunista), e os restantes pertencem como dissemos à Al Fatah. Hakam Balaui (Al Fatah), Secretário do Gabinete Nacional, que pôs em evidência as resistências internas existentes na hora de reformar a administração palestina, é tão só uma das medidas contempladas no denominado Roteiro elaborado por um Quarteto para recomeçar as conversações de paz no Médio Oriente. Este Quarteto, integrado pelos Estados Unidos, a União Europeia, a Federação Russa e a Organização das Nações Unidas (ONU), tem como objectivo o estabelecimento de um Estado palestino, primeiro com um carácter difuso em finais deste ano e depois em finais de 2005 com "umas fronteiras seguras e reconhecidas" (como reclama a Resolução 1397 do Conselho de Segurança da ONU, de 12 de Março de 2002), no quadro de um acordo global para o Médio Oriente. O Quarteto nasceu em 2001, com a intenção de fechar o círculo vicioso de violência e desesperação iniciado com a erupção da Intifada e prosseguido com a sua desmedida repressão por parte do governo de Sharon. Em certa medida a implicação da comunidade internacional reconhece o fracasso dos Estados Unidos que, devido à sua estreita aliança com Israel, tem sido incapaz de exercer uma mediação honesta entre ambas as partes. O embaixador Miguel Angel Moratinos, representante especial da União Europeia para a zona, descrevia a situação de maneira gráfica ao considerar que "uma vez esgotadas as expectativas criadas com a chegada do governo trabalhista de Ehud Barak, e dada a falta de acordo apesar do compromisso activo do presidente Clinton, tornaram-se patentes os limites do sacrossanto modelo da “pax americana". O propósito seria, a partir de então, "mudar a metodologia de trabalho e tentar compartilhar a pesada carga da mediação no Médio Oriente com outros actores internacionais". Os integrantes do Quarteto deveriam velar no futuro, pelo cumprimento deste plano de trabalho conhecido como Roteiro 1. Calendário O propósito do Roteiro é criar um clima de confiança que permita recomeçar o processo de paz e, em último termo, alcançar a independência palestina. Para tal, foram estabelecidas três fases claramente delimitadas: Fase I: desde 30 de Abril até finais de Maio de 2003. Objectivo: acabar com o terrorismo e a violência e normalizar a vida palestina. Reforma política: Constituição palestina e celebração de eleições livres. Israel retira-se das áreas ocupadas e congela os assentamentos. Os palestinos cessam fogo e reconhecem Israel como estado. Israel não realizará deportações, nem agressões, nem destruirá lares palestinos. Como se vê esta fase não está cumprida. Fase II: desde Junho até Dezembro de 2003 O Quarteto convoca una Conferência Internacional depois das eleições palestinas. A dita reunião incluirá os conflitos que mantém Israel com a Síria e Líbano. O Quarteto promove o reconhecimento internacional do Estado palestino. É incluída a sua possível incorporação como membro da ONU. Recomeça a cooperação multilateral para velar pelo desenvolvimento da zona. Fase III: de 2004 a 2005 Em princípios de 2004, o Quarteto convoca una segunda Conferência Internacional. Inicia-se o processo que conduzirá a um estatuto final no ano 2005. O dito Estatuto deve resolver: fronteiras, Jerusalém, refugiados e assentamentos. O acordo incluirá uma resolução negociada sobre o estatuto de Jerusalém, que proteja os interesses religiosos de judeus, cristãos e muçulmanos. 2. Obstáculos A aplicação deste Roteiro não será fácil e terá que ultrapassar diversos obstáculos. O primeiro deles será impedir que os seus detractores, a boicotem como ocorreu com outros acordos por causa do aumento da violência ou da continuação da política de "feitos consumados" baseada em querer alterar pela força, a natureza dos territórios ocupados. Como nos fracassados Acordos de Oslo, o Roteiro reclama um processo de paz por etapas baseado "no princípio de terra a troco de paz, das resoluções 242 e 338 do Conselho de Segurança da ONU", mas, e aqui está a novidade, também "na resolução 1397, assim como nos acordos previamente alcançados pelas partes, e na iniciativa árabe proposta pelo príncipe herdeiro saudita Abdallah e apoiada pela Cimeira Árabe de Beirute". Será um processo que ofereça aos palestinos um Estado independente num contexto de plena normalização de relações entre Israel e o mundo árabe. É imprescindível que o emergente Estado seja viável e não um "Estado difuso" como pretende impor Israel: que seria o mesmo que dizer um Estado sem umas fronteiras claras e com uma soberania limitada. 3. Gaza e Cisjordânia Aproximadamente 200000 colonos israelitas vivem em cerca de 170 enclaves estabelecidos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, onde por sua vez habitam mais de três milhões de palestinos. Os assentamentos oficiais ocupam 1,8% destes territórios, mas os limites reais das colónias estendem-se até alcançar 6,8% do terreno. A maior parte dos assentamentos está construída em territórios ocupados por Israel, aquando da guerra dos Seis Dias em 1967. Os colonos israelitas não têm cessado de construir novos enclaves e têm estendido os já existentes com construções adicionais. Segundo a Convenção de Genebra, é proibido construir instalações civis em territórios ocupados, pelo que a maioria de países da comunidade internacional considera ilegais os assentamentos judeus em Gaza e Cisjordânia. Os sucessivos governos israelitas, tanto os conservadores como os trabalhistas, que tradicionalmente têm feito mais concessões pela paz, tem defendido a ulterior permanência dos assentamentos como requisito indispensável para garantir a segurança do Estado de Israel. Os palestinos pretendem estabelecer nestes territórios um futuro Estado independente e consideram os colonos judeus como usurpadores da terra. Com frequência os grupos terroristas palestinos dirigem os seus atentados contra os habitantes destes assentamentos. O exército israelita proporciona aos colonos armas para que se defendam destes ataques. Os colonos mais religiosos consideram que a Cisjordânia é uma terra de propriedade israelita porque Deus a cedeu ao povo judeu. Daí, que o Governo israelita fomente a colonização dos assentamentos para controlar os recursos aquíferos que existem no subsolo de Gaza e Cisjordânia. O futuro dos assentamentos tem sido historicamente um obstáculo intransponível para que frutifiquem os sucessivos projectos de paz para o Médio Oriente. Não obstante, as sondagens assinalam que a maioria dos israelitas estariam dispostos a renunciar a estes enclaves em favor da paz. O Roteiro, é o último plano de paz, apadrinhado pela ONU, Estados Unidos, União Europeia e Rússia, como dissemos, e que estabelece como primeiro passo o desmantelamento dos enclaves construídos sem a autorização do governo israelita a partir de Março de 2001, quando começou a Segunda Intifada palestina em 28 de Setembro de 2000, e cesse a construção de novas colónias. O gabinete do Primeiro-ministro israelita, Ariel Sharon, pese os recuos e avanços nesta difícil caminhada, tem dado a aprovação a estas exigências e já começou a desmantelar habitações desabitadas que considera ilegais porque foram construídas sem sua expressa autorização. Não obstante, a opinião do Governo israelita sobre os assentamentos importantes continua a ser inquestionável. A Água A escassez de recursos hídricos tem levado Israel a aplicar com os palestinos o conhecido princípio bélico de «ao inimigo nem água». Os especialistas estimam que em Israel o consumo de água anual por habitante é de 600 metros cúbicos, uns 40% menos do nível considerado óptimo. Para satisfazer a procura da população e dos sectores agrícola e económico, o Governo necessita de controlar as fontes de abastecimento, que são fundamentalmente o Rio Jordão e os aquíferos subterrâneos das localidades de Gaza e da Cisjordânia. Esta é uma das principais razões pelas quais Israel nega-se a devolver os territórios palestinos ocupados (a cujos habitantes raciona e vende a preços exorbitantes o elemento líquido) e fomenta uma indiscriminada colonização dos mesmos. Historicamente, a água tem sido uma incessante fonte de conflitos na zona. Não é necessário esquecer que a Guerra dos Seis Dias "começou quando a Síria quis desviar o Rio Hasbaya, afluente do Jordão, e Israel, pela sua parte, construiu um aqueduto para levar água do Jordão ao deserto de Neguev. No passado mês de Março, o Líbano começou a modificar o caudal do Hasbani, o que tem originado um novo foco de tensão entre ambos os países. Os Refugiados Os seis milhões de deslocados palestinos constituem a maior população refugiada do mundo, até ao ponto, de que cada um em três refugiados do planeta é palestino. A ocupação dos seus territórios, os ataques militares e os atentados contra os seus direitos fundamentais, obrigando-os a sair desde há anos das suas terras, e no presente, a negação do direito ao retorno e a expropriação das suas abandonadas terras, por parte de Israel, impede uma solução a curto prazo, da sua difícil situação. De facto, o retorno destes cidadãos às suas casas é um dos muitos pontos de fricção que impedem a paz entre israelitas e palestinos. No passado mês de Março, a Comissão de Direitos Humanos da ONU, emitiu um comunicado em que assinalava a urgente necessidade de protecção internacional para os refugiados palestinos e também para a população civil palestina que reside nos territórios ocupados. O Novo Estado Palestino A proclamação do futuro Estado Palestino foi abortada em numerosas ocasiões, ainda que continue o seu processo de gestação. Em 1996, foi constituída a Autoridade Nacional Palestina, presidida por Yasser Arafat, com sede em Jericó, que tem competências similares às de um governo local (cultura, educação, saúde, impostos...) excepto em matéria de segurança, salvo numa pequena parte de Gaza e Cisjordânia, e dos negócios estrangeiros. Existem numerosos inconvenientes que impedem a criação de um Estado palestino. Entre eles figuram a escassez de terras, a descontinuidade territorial, a dispersão de população, o estatuto de Jerusalém e a ausência de plenas competências. Os palestinos reclamam o fim dos ataques militares, a devolução dos territórios ocupados, o retorno às fronteiras anteriores a 1967, querem estabelecer a sua capital em Jerusalém e exigem o retorno dos refugiados. Por sua parte, Israel exige o fim da Intifada, opõe-se ao regresso dos deslocados, pretende manter o controle sobre Jerusalém Este, e recusa a descolonização dos territórios ocupados. Apesar dos representantes de ambos os governos terem mantido numerosas reuniões para aproximar posições, a visita do Primeiro Ministro israelita Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, em Setembro de 2000, provocou o inicio de uma nova Intifada que conta com dezenas de mortos e a ruptura dos acordos anteriores. Jerusalém O controle de Jerusalém é um objectivo irrenunciável para palestinos e israelitas. Nesta cidade encontra-se, a Esplanada das Mesquitas que alberga os Templos de Al Aqsa e a Cúpula da Rocha (a mais bela construção de Jerusalém é a Mesquita, no coração da cidade antiga. Assim, a Cúpula da Rocha foi buscar o seu nome à grande rocha, ainda actualmente exposta dentro da Mesquita, que constitui na verdade a razão pela qual Jerusalém se proclama Cidade Santa. A rocha antiga é Monte Moriah, onde Abraão preparou o sacrifício do seu filho Isaac a Jeová e onde, 1000 anos antes de Cristo, o rei Salomão construiu o primeiro templo. Este foi destruído em 588 a.C. e o único que Jesus conheceu foi o de Herodes, o Grande, muito maior que o de Salomão. Construído na plataforma onde se ergue agora a Cúpula da Rocha, o Templo de Herodes foi o cenário da Purificação de Maria, quando o velho Simeão tomou Jesus nos braços e proferiu o Nunc dimittis. Os Romanos destruíram o Templo de Herodes em 70 d. C., mas os muçulmanos, quando conquistaram Jerusalém, no século VII, provaram ser mais tolerantes. Maomé assumia-se como sucessor dos profetas do Antigo Testamento e de Jesus que os muçulmanos veneravam como sendo o profeta Isa. Aceitam o nascimento da Virgem, e Maria é exaltada tanto no Corão como na prática islâmica. Logo à saída de Jerusalém, na Igreja do Túmulo de Maria, um sinal na parede mostra aos peregrinos o caminho para Meca. A grande rocha foi o palco da ascensão do profeta Maomé ao Paraíso na sua celebrada «Jornada Nocturna» de que fala o Corão. Era de inicio mais venerada pelos muçulmanos do que Medina ou Meca. A Cúpula da Rocha foi construída em 691 d. C. pelo califa de Damasco, que mandou cobrir a parte exterior com mosaicos de ouro, substituídos mais tarde, por ordem do turco Otman, por 45000 azulejos. A Cúpula é actualmente de alumínio revestido de ouro e ornamentada com versos do Corão. Durante os anos 80 verificaram-se várias tentativas de fazer explodir a mesquita protegida pelas autoridades israelitas), e está considerada como o terceiro lugar sagrado do Islão. Os palestinos querem que esta seja a capital do Estado. Sem embargo, no subsolo conservam-se as ruínas do Templo de Salomão, pelo que o recinto se denomina Monte do Templo. Junto a este levanta-se o Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do judaísmo, por ser o único que resta do Templo. Para satisfazer as reclamações de ambas as partes, impõe-se, uma salomónica divisão da cidade. Nesse sentido, os Estados Unidos propôs que os bairros árabes de Jerusalém Este, conquistados por Israel em 1967 sejam transferidos para os palestinos, enquanto que os controlados pelos judeus nesta zona permaneçam debaixo da soberania israelita. A Esplanada das Mesquitas será controlada pelos palestinos, mas os judeus controlarão a zona subterrânea, que alberga os restos do Templo do Rei David. Assim, a história faz-se naquele lugar, e faz-se dessa forma |
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